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terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Hipocondria

""Comecei com tonturas e com a sensação de desmaio. Primeiro julguei que fosse pela má alimentação, depois talvez um problema de ouvidos devido ao desequilíbrio. Passado pouco tempo comecei a pensar que tinha alguma doença terminal. Fui a uma médica que me disse que não tinha nada, que era tudo do sistema nervoso e stress. Claro que não acreditei", recorda Catarina, 26 anos, livreira. Os primeiros sinais de hipocondria surgiram depois de ter descoberto um gânglio inflamado na zona do maxilar, "fiz o que não se deve fazer - procurar justificações na Internet para algo que encontrei de diferente no meu corpo. Depois da minha pesquisa e de ter encontrado um monte de cancros e doenças terminais para justificar um simples gânglio inflamado, o meu pesadelo começou. Fiz uma ecografia que não acusou nada. No momento fiquei muito aliviada, "curada". Mas no dia seguinte voltou tudo e com mais força ainda. "E se o médico não viu bem e tenho qualquer coisa escondida?", lembra. Catarina não dormia, não aguentava nada no estômago nem nos intestinos. Sentia suores frios, o coração a querer sair do sítio e falta de ar nos pulmões. "É um descontrolo total dos membros e órgãos. É um desespero e um sofrimento inacreditável", sustenta. Recorreu a quase todas as especialidades, fez ecografias e dezassete raios X. "Corri tudo à procura da doença que eu tinha que ter. Sente-se tudo, e nada ao mesmo tempo, sente-se o corpo a desintegrar, palpitações onde não deviam, estalidos que não são normais, é uma atenção pormenorizada a tudo o que acontece e mexe no nosso corpo", afirma. E acabou por atingir o limite quando deixou de sair da cama e de conseguir andar, "cansava-me muito, o coração disparava e era naquele momento que eu ia morrer. É aterrador viver com a permanente queixa, traduzida em dores, do nosso corpo de como já não aguenta mais. Dava dois passos e tinha que descansar ou encostar-me para não cair", explica.
"Imagine que vai a um médico e lhe dizem que tem aproximadamente dois segundos de vida. É isso que se sente, a cada segundo que passa é no próximo que vou morrer, porque sinto uma dor aqui, outra ali, e se não tenho cancro, tenho outra coisa qualquer que ainda ninguém descobriu. Alguém consegue viver assim? Não se consegue pensar em mais nada, nem há interesse para tal. É um desinteresse total, um morrer e continuar a respirar", pormenoriza Catarina."
Este texto é uma transcrição de parte de um artigo publicado na revista "Happy" de Novembro de 2009, pª 250 e 252, sobre casos de hipocondria.
Nada do que encontrei consegue melhor exprimir o sente um hipocondríaco. Apesar de gozados e incompreendidos pelos outros, o seu sofrimento é bem real. Trata-se de um dos casos de fobia mais complicados, quer para o paciente quer para o terapeuta. Primeiro, porque o paciente não supõe que os sintomas que sente se devam a causas psicológicas, logo procura médicos de especializados em tratar o corpo físico. Só muitas vezes devido à exaustão até dos próprios, o paciente é encaminhado para consultas de psicologia ou psiquiatria.
O caso de Catarina atingiu proporções extremas, mas milhares de pessoas vivem no dia a dia a mesma angústia que ela. A vida muda, embora se esforcem por não deixar que os outros se apercebam disso. Primeiro, o medo constante, depois a fuga. Não há lugar para onde fugir, a fuga de que falo é outra. Começa-se por deixar de sair, não querer estar os amigos, deixar de fazer as actividades que antes lhe davam prazer. Porquê? Porque não há disponibilidade para mais nada. Para além da pessoa não se sentir bem, não consegue pensar em mais nada, a sua constante vigia às sensações corporais e procura de uma explicação para elas, além da antecipação de graves enfermidades, não deixam espaço para pensar em mais nada. Nem sentir mais nada. O sofrimento é incrível, Catarina relatou-o bem. Vivem constantemente com medo é insuportável, e às tantas já têm medo de ter medo.
O acontecimento ou acontecimentos que despoletaram a hipocondria ficam marcados no cérebro como uma fotografia que não se consegue apagar, sobretudo sob a forma de emoção. Ainda que o médico diga que está tudo bem, a sensação continua. O que atormenta, o que vem à tona e não deixa viver a vida é a sensação por vezes mais inconsciente que consciente, do medo, da eminência da morte.
Mesmo quando o paciente toma consciência de que se trata de uma fobia, não consegue eliminar a "fotografia". O facto de ter um corpo que, como toda a gente, está sujeito a doenças e a inevitabilidade e impossibilidade de determinação temporal da morte, não dão paz, tanto mais que ninguém nem nada pode garantir que o que se teme não possa acontecer.
Muitos tratamentos são tentados, desde administração de medicamentos, psicoterapia, acumpunctura, EMDR, etc. Penso que o passo decisivo no tratamento não consiste em eliminar os sintomas mas deixar de temer a morte. Por mais absurdo que isto possa parecer, tal como em todas as outras fobias o que se pretende atingir é pôr fim ao medo do objecto das mesmas, porque não pensar nos mesmos termos em relação à hipocondria?

12 comentários:

Carlos disse...

Eu também sou assim...a vida se torna um sofrimento sem fim !!!

Gustavo Martins disse...

Acho que estou a iniciar-me nesse estado...ja o ano passado tive problemas intestinais uns meses depois de ter perdido o meu pai...foi uma perda complicada,pois estava longe e a vida nao me permitiu nem sequer estar no funeral ...este ano ,aliado a uma vida stressante que tenho sendo eu uma pessoa ja nervosa por natureza,voltei a ter problemas,desta vez uma forte gripe ,uma dor nas coswtas que nao me larga e pelo meio novo disturbio intestinal,desta vez ujm abcesso na nadega derivada a uma infeccao no recto...isto tudo esta a despertar fobias em mim...passo o dia a pesquisar na internet sintomas e causas disto tudo,tenho tendencia a pensar sempre no pior...Ainda nao fiz exames completos pois fui operado a esse abscesso a semana passada,mas estou ansioso por faze-los...so quero nao ter nada e que esta paranoia e ansiedade que sinto tenham fim.

Gustavo Martins disse...

Acho que estou a iniciar-me nesse estado...ja o ano passado tive problemas intestinais uns meses depois de ter perdido o meu pai...foi uma perda complicada,pois estava longe e a vida nao me permitiu nem sequer estar no funeral ...este ano ,aliado a uma vida stressante que tenho sendo eu uma pessoa ja nervosa por natureza,voltei a ter problemas,desta vez uma forte gripe ,uma dor nas coswtas que nao me larga e pelo meio novo disturbio intestinal,desta vez ujm abcesso na nadega derivada a uma infeccao no recto...isto tudo esta a despertar fobias em mim...passo o dia a pesquisar na internet sintomas e causas disto tudo,tenho tendencia a pensar sempre no pior...Ainda nao fiz exames completos pois fui operado a esse abscesso a semana passada,mas estou ansioso por faze-los...so quero nao ter nada e que esta paranoia e ansiedade que sinto tenham fim.

Ivana disse...

A hipocondria é um sofrimento incompreedido, pois a maioria das pessoas - inclusive médicos - acha que é uma questão de "querer". Acham que basta querermos e podemos mudar.
Existe uma preocupação excessiva com o nosso corpo, exacerbando sintomas e sendo sempre pessimistas quanto a diagnósticos, vivendo assim num estado de ansiedade permanente. "Afastarmos-nos" de nós próprios, direccionar a atenção para o exterior, abraçar o altruísmo, cultivar o oposto. Ou seja, encontrar formas de não estar sempre a preocupar-nos com o corpo, tentar desvalorizar os sintomas até ao limite da razoabilidade e não fazer pesquisas ou ler sobre doenças nem fazer exames desnecessários.

Anónimo disse...

Eu sou tão assim... Vivo num sofrimento constante, sei bem o que é viver este medo, estas dores... Sei bem o que é correr médicos e mais médicos e todos eles já estarem fartos... Até os que nos são mais próximos se afastam porque já não conseguem ouvir falar da "nova doença que encontrei..."

Clara disse...

Hipocondríacos Anônimos – (11)96404-7228
HA É UMA IRMANDADE DE HOMENS E MULHERES QUE EXPERIMENTAM EMOÇÕES OU PENSAMENTOS DOLOROSOS E COMPULSIVOS RELACIONADOS À SAÚDE. O ÚNICO REQUISITO PARA SER MEMBRO DE HÁ, É O DESEJO DE INTERROMPER O COMPORTAMENTO COMPULSIVO E O PENSAMENTO OBSESSIVO RELACIONADO À SAUDE E À DOENÇA. NÃO HÁ MENSALIDADES OU TAXAS PARA ADESÃO; SOMOS AUTO-SUFICIENTES ATRAVÉS DE NOSSAS PRÓPRIAS CONTRIBUIÇÕES. NÃO ESTAMOS ALIADOS A QUALQUER SEITA, DENOMINAÇÃO, POLÍTICA, ORGANIZAÇÃO OU INSTITUIÇÃO, NÃO DESEJAMOS NOS ENVOLVER EM QUALQUER CONTROVÉRSIA; NÃO APOIAMOS NEM COMBATEMOS QUAISQUER CAUSAS. NOSSO OBJETIVO PRINCIPAL É RECUPERAR- NOS DE NOSSA HIPOCONDRIA E LEVAR ESTA MENSAGEM AOS HIPOCONDRÍACOS QUEM AINDA SOFREM.

Unknown disse...

Olá, isso é um grupo do whatsapp algo do tipo? Tou a precisar queria muito entrar

Clara disse...

Sim, tem grupo de whats e temos reuniões no skype com textos maravilhosos e depoimentos dos outros companheiros, pessoas iguais a nós , que sofrem de hipocondria. O contato é (11)96404-7228

Clara disse...

Sim, o contato no whats é (11)96404-7228

Anónimo disse...

Se me enquadro nesse grupo não sei, mas estou a dez dias de realizar exames de rotina e acompanhamento de nódulos na tireóide, e a algum tempo estou horrorizada, em pânico total com medo do resultado. Nem fiz o exame e só em pensar que pode da alguma alteração, já sinto o mundo desabando sobre mim. Não consigo pensar em outra coisa, não consigo realizar simples tarefas.

Anónimo disse...

Olá, esse grupo no WhatsApp ainda existe?
Tentei contato e não consegui.

Ivana disse...

Este grupo no Whatsapp não foi criado por mim, não sei se ainda existe....

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