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quarta-feira, 24 de junho de 2009

Agir faz acontecer

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    Sempre que existe uma acção, existe movimento. Agir significa fazer alguma coisa. Sempre que damos um passo, tomamos uma decisão, apagamos um número de telefone ou simplesmente aceitamos interiormente determinado facto, estamos a empreender uma acção. Não temos obrigatoriamente que fazer grandes coisas, por vezes as mais pequenas têm a mesma ou maior importância. A verdade é que sempre que passamos da inércia à acção fazemos algo acontecer, quer directa quer indirectamente.

 
    Quantas vezes não nos aconteceu passarmos a tarde inteira à espera de um telefonema e justamente quando decidimos não esperar mais, eis que o telefone toca? Ou então quando finalmente decidimos entregar aquele currículo para o emprego que tanto ambicionamos, nos liga um amigo que não víamos à muito tempo, simplesmente porque se lembrou de nós? Estas coisas não acontecem por acaso nem há magia ou qualquer força oculta por detrás. Somos nós mesmos que fazemos as coisas acontecerem, ainda que o nosso acto em nada tenha a ver com o que acontece de seguida. Enquanto estamos indecisos, parados, é como se estivessemos a bloquear a energia positiva que acciona os mecanismos do universo que favorecem o desencadear dos bons acontecimentos. Isto não tem nada de esotérico, é uma constatação. A energia de que falo não é mais do que aquela que existe dentro de cada um de nós e que influencia tudo à nossa volta. Criamos coincidências, pode-se dizer, ainda que as atribúamos a causas externas. A nossa interacção com tudo o que nos rodeia permite influenciar positiva ou negativamente os acontecimentos, bem como o momento em que eles ocorrem. Porque fazemos parte de um todo, de uma rede global, não somos ilhas.
Tal como o bater das asas de uma borboleta na Europa pode causar um tornado na América, também tudo o que fazemos e pensamos por mais insignificante que seja tem consequências. Se até o simples facto de existirmos altera o universo, quanto mais não seja estatísticamente, porque não hão-se as nossas acções provocar outras acções?

    A inércia não faz bem a ninguém e em determinados momentos da nossa vida ela é simplesmente tóxica. Por exemplo, quando estamos deprimidos, combatê-la pode significar desencadear processos que nos levem a sair dessa fase. Se eu pintar os olhos antes de sair para o trabalho hoje, posso pensar que não estou a fazer nada de especial. Eis o que pode acontecer: a consequência mais directa, ainda que eu não me aperceba dela, é a melhora da minha auto-estima. Por pouca que seja essa melhora, a verdade é que irei enfrentar o dia que tenho pela frente com um pouco mais de boa disposição. Por mais leve que seja a diferença, alguém o irá notar, ainda que inconscientemente e, por exemplo preferir-me a mim em vez de outra pessoa para fazer a acta da reunião, que por acaso é uma coisa chata. Porém eu aceito. A minha presença na reunião faz com que, pela percepção de um elemento novo, a mesma corra melhor e os directores sairão dela mais animados. Então, na hora de decidir o aumento do ordenado do pessoal da empresa, a sua decisão é positiva. É claro que as coisas não se passarão exactamente desta forma, mas é um exemplo de como subtilmente as nossas acções provocam os acontecimentos, por vivermos num mundo interligado.

    Mas há ainda outra coisa que pode acontecer: desencadearmos acontecimentos que não estão nem directa nem indirectamente relacionados com as nossas acções. É o caso por exemplo de eu pintar os olhos hoje antes de ir para o trabalho e me sair a loteria. Desencadeei a sorte! Porque a sorte percorre canais de energia, que quando é negativa lhe são bloqueados. Agir faz com que a nossa mente fique mais aberta e mais receptiva, afastar a inércia alarga o espaço dentro de nós para podermos receber coisas boas, porque ela mesmo ocupa muito espaço como se de uma coisa ou um sentimento se tratasse.

    Não podemos pensar no ser humano isoladamente, nem no espaço ou no tempo como algo definido e imutável. Temos que pensar no universo como um todo e que tudo, mas mesmo tudo, interage com tudo. Acredito que um dia esta teoria ainda será aceite por todos como uma lei da física.

domingo, 31 de maio de 2009

O hábito de sentir

Hoje aconteceu-me uma coisa estranha. Reparei que tinha um vale que me tinha sido oferecido no natal para descontar em compras que estava a terminar o seu prazo de validade. Decidi gastá-lo no supermercado, considerando-o como um bónus, que iria aumentar o meu dinheiro disponível para efectuar as minhas compras.

Entrei no estabelecimento pensando que poderia comprar produtos de melhor qualidade e ainda algo extra. Comecei a percorrer as prateleiras e a colocar no cesto as coisas de que necessitava. Quando estava quase no fim, ao pegar numa lata de cerveja apercebi-me, espantada, que apesar de o meu dinheiro disponível ser superior ao normal, inconscientemente fui levada a escolher exactamente os mesmos produtos que comprava anteriormente: os mais baratos, embora de marcas diferentes. O meu cabaz era pobre e sobrava-me ainda muito dinheiro para gastar. Fiquei frustrada, porém em vez de ir trocar os produtos decidi guardá-lo para futuras ocasiões.

Podemos fazer uma analogia entre os produtos do supermercado e as nossas emoções. O que se passou comigo hoje passa-se com cada um de nós relativamente ao que sente. Na verdade, ainda que a nossa vida tenha mudado, que tenhamos todas as razões para sermos felizes, estamos habituados a "escolher" as mesmas emoções negativas que em tempos mais difíceis. Quantas vezes nos foi dado um aumento de ordenado que há muito ambicionávamos ou encontramos a pessoa amada e damos por nós a experimentar o mesmo medo, a mesma raiva, o mesmo ódio? Isto deve-se ao hábito. O nosso cérebro habituou-se a criar sempre as mesmas sinapses, abriu e alargou os caminhos para as essas emoções, enquanto os que levam á alegria estão cheios de ervas e pedras, muitas vezes é difícil perceber que ali existiu em tempos uma estrada. É difícil mudar, bem tentamos mas voltamos ao mesmo. Ficamos frustrados e no fim, sobra-nos ainda tempo que podíamos gastar na emoção "alegria", mas decidimos guardá-lo para quando os filhos crescerem, quando tirar a carta, quando fôr rica...

Muitas pessoas confundem emoções com sentimentos. No dicionário Petit Robert encontramos a seguinte definição de emoção: "Estado afectivo intenso, caracterizado por uma brusca perturbação física e mental onde são abolidas, na presença de certos estímulos ou representações muito vivas, as reacções apropriadas de adaptação ao acontecimento". O Petit Larousse acrescenta ainda: "Perturbação passageira provocada pela alegria, a surpresa, o medo, etc". Isabelle Filiozat define-a como "um movimento em direcção ao exterior, um impulso que nasce no interior de nós próprios e que fala ao que nos rodeia, uma sensação que nos diz quem somos e nos coloca em relação com o mundo". Esta psiquiatra e escritora francesa diz-nos ainda que todos os seres humanos, indempendentemente da sua raça, sexo ou idade as vivem da mesma maneira.

Cada emoção dura apenas alguns segundos. Se dura horas, não é emoção mas humor. Quando dura semanas já não é humor mas perturbação afectiva. Em contrapartida os sentimentos são duradouros.

Ao contrário dos sentimentos que podem ser inúmeros, existem apenas cinco emoções de base, embora alguns entendidos na matéria conseguem distinguir algumas mais. São elas a cólera, o medo, a tristeza, a alegria e o desgosto. Podem acrescer a estas a culpabilidade, o desespero, a raiva, a inveja, o ciúme, a surpresa, a excitação, a ternura, o amor. As emoções são biológicas, pulsionais, enquanto os sentimentos são elaborações secundárias porque são mentalizadas. Os sentimentos prolongam-se no tempo e geram ou são alimentados por emoções.

Ter consciência das nossas emoções, saber distingui-las dos sentimentos e conseguir identificá-las é uma forma de levar o nosso cérebro a deparar-se com mais hipóteses na altura de "escolher". É preciso persistência para mudar hábitos tão profundamente enraízados. Eu diria mesmo que é preciso coragem. A maior parte das pessoas acomoda-se, passa uma vida inteira infeliz à espera de um milagre que lhes limpe as estradas que levam a emoções positivas para então poderem desfrutar da alegria.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Teoria da Relatividade

Pequeno ou grande, mais ou menos, lento ou rápido, etc, só faz sentido quando haja um factor de referência em relação ao qual se possam fazer comparações. A Teoria da Relatividade de Einstein vigora não só na física mas em todas as dimensões da nossa vida (adaptada, claro está). Quer isto dizer que se compararmos, tudo fica mais fácil.

Relativizar é uma forma de combater a depressão. As pessoas deprimidas tendem a dar muito ênfase aos seus problemas, a dar demasiada importância a pormenores e a ter a ideia de que sofrem mais que os outros. Focalizam-se demasiado em si mesmas e abstraem-se do resto do universo. Desta forma, eliminam inconscientemente o factor de referência e abstêm-se de fazer comparações correctas. Toda a sua atenção está virada para si mesmas e mergulham em pensamentos pessimistas, atitudes negativas e sentimentos de culpa e de inferioridade. Mas há uma forma de mudar as coisas: comparar.


Quantas vezes não nos fartamos de chorar porque não somos amados, somos feios, não temos sucesso, etc.? Temos que perguntar, pois, qual o factor de referência que usamos para chegarmos a tal conclusão. Muitas pessoas não usaram nenhum, outras usaram modelos de topo para o fazerem. E que tal pensar em todas as pessoas que estão em pior situação que nós? Não temos um grande amor? Tivemos certamente uma mãe, um pai ou um irmão que nos amou muito. Há quem nem isso tenha tido; temos um nariz grande? Pelo menos situa-se dentro da normalidade. E aqueles que nasceram com uma qualquer deficiência física?; Estamos desempregados e sem dinheiro para ir ao supermercado? Pelo menos temos um tecto, água para beber e alguma roupa para vestir. Vemos todos os dias pessoas que não têm mais que a rua para dormir e vivem da esmola alheia. Quem somos nós para nos deprimirmos alegando razões tão fúteis?! Porque são razões fúteis se não as compararmos só com os melhores, os que têm mais ou os que são mais que nós.


Para sermos justos, temos que alargar a nossa comparação a todos aqueles que são piores, que têm menos ou que são menos que nós. Existem no mundo inteiro provavelmente mais pessoas em piores condições do que em melhores. Além disso, não passamos de seres minúsculos quando pensarmos na vasta dimensão do universo que nos rodeia, um grão de pó entre o pó das estrelas de que somos feitos. Somos apenas isso e nada mais. Pó de estrelas que um dia se transformou em vida e donde brotou consciência. Vale a pena pensar nisto!

sábado, 9 de maio de 2009

Feel the fear and do it anyway!

Susan Jeffers no seu livro "Feel the fear and do it anyway" (em português "Sentir o medo e avançar à mesma"), sustenta a tese de que o medo de qualquer coisa não é mais do que o medo de não a conseguirmos suportar. Se soubessemos que conseguiríamos suportar tudo o que nos possa acontecer na vida, não sentiríamos medo.

A palavra suportar leva a pensar em pessoas fortes, que conseguem vencer tudo e todos. Não é verdade. Neste contexto parece ter mais a ver com a inteligência em lidar com as situações do que com força. Se pensarmos bem, todos os nossos medos e receios têm subjacente a ideia de incapaciade. Por exemplo, quando alguém diz "Tenho medo de conduzir!", provavelmente não é de pegar num volante e manobrar um carro que estas pessoas receiam, nem sequer de sofrer um acidente por mais desagradável que isso seja: do que elas realmente têm medo é de não conseguir suportar as consequências de um possível acidente e os danos físicos e psicológicos que daí possam advir. O objecto do nosso medo é normalmente algo a cujas consequências damos demasiada importância, sentimo-nos impotentes para ultrapassar e a imaginação demasiado fértil leva a prever um futuro após demasiado aterrador e irreversível. Para algo de tais dimensões, não há manual ou conselho que nos valha. Sentimos que não controlamos os acontecimentos, porque não sabemos ou não podemos, e como tal não conseguimos lidar com eles.


O maior de todos os medos é o medo de ter medo. Mas não se baseia o medo já no próprio medo? Ou seja, se temos medo de ratos, não devemos antes pensar que aquilo que nos assusta realmente é o medo de não conseguir lidar com a sensação desagradável que nos causa a presença desses animais? Os objectos, os acontecimentos, as pessoas, não são causa de medo. A causa do medo é outro medo, o medo de não sabermos ou conseguirmos lidar com os nossos sentimentos e emoções. Mesmo a morte, que assusta quase toda a gente, é uma máscara para aquilo que realmente receamos. A possibilidade do fim da nossa existência física - e para muitas pessoas mais do que isso - leva a pensar no que foi a nossa vida, se a vivemos bem, se estamos a seguir o caminho certo, e provavelmente naquilo que haverá depois. Por um lado há que lidar com as nossas emoções e sentimentos (a frustração, a culpa, deixar assuntos inacabados, etc), e por outro enfrentar o desconhecido. A verdade é que não sabemos como lidar com estes dois assuntos. O nosso verdadeiro medo é o medo de não conseguirmos lidar com estes factos e não a própria morte. A partir do momento em que acreditamos que conseguimos enfrentar tudo o que nos apareça pela frente e de lidar com os nossos próprios sentimentos, a maioria dos nossos medos desaparecerá.


A ideia de valentia e coragem que temos de quem não tem medo por vezes pode estar totalmente errada. Por vezes quem não tem medo é porque não pensa, enterra a cabeça na areia ou não tem consciência das consequências dos factos. Há que estar consciente das consequências, do que nos espera no futuro. Porém, há que acreditar que aconteça o que acontecer, haveremos de saber lidar com a situação e ter fé em que a conseguimos superar.


sábado, 21 de março de 2009

O gancho do céu ou o efeito placebo


Era uma vez um patinho de nome Peninha que nascera junto de um lago tranquilo e sereno, juntamente com mais cinco irmãos. A mãe pata cuidou deles em terra desde que saíram dos ovos até terem mais algumas penas, levando-lhes grãos para se alimentarem e tudo o que demais precisavam. Certo dia, chegou a altura de os patinhos irem para a água e começarem a nadar, como acontece com todos os patos. Todos seguiram de imediato a mãe, abeiraram-se do lago e viram a sua imensidão e profundeza. A mãe explicou como se fazia e cinco deles não tiveram o menor receio e deslizaram suavemente atrás da progenitora, nadando alegremente. Porém, Peninha olhou para baixo e conseguiu ver o quanto fundo o lago era. Uma dúvida de imediato surgiu no seu íntimo:

- E se eu não conseguir nadar e me afundar? Vou-me afogar...

O seu coração começou a bater mais depressa, uma onda de ansiedade percorreu todo o seu corpo e recuou. Viu a sua mãe e os seus irmãos a afastarem-se e ficou na margem, angustiado.

Nos dias seguintes aconteceu o mesmo, e por mais que a mãe se esforçasse por lhe explicar todas as técnicas, ele pensava sempre na possibilidade de alguma delas falhar e ir parar ao fundo do lago. Até que a mãe, desolada, desistiu.

Um dia, ao passar pela margem, um velho pato viu Peninha muito triste a olhar para os seus irmãos que se afastavam nadando alegremente e perguntou qual a razão da sua tristeza.

- Tenho medo - respondeu - que me afunde e me afogue.

O velho começou a rir de tão grande disparate que acabara de ouvir. Depois parou de repente, ao lembrar-se dos vários medos que lhe tinham surgido ao longo da vida, alguns deles infundados, e calmamente disse a Peninha:

- Já sei como resolver o teu problema: o que tu precisas é de um gancho.

- Um gancho? - Perguntou, incrédulo Peninha.

- Sim, um gancho que te prenda ao céu enquanto nadas. Assim, terás sempre a certeza de que não te afundarás, pois o gancho impedir-te-há, pois está preso ao céu. - Pegou num galho que se encontrava próximo, virou-o ao contrário, fingiu que o enganchava no céu e entregou a ponta a Peninha. - Agora lança-te à água! Vai confiante, pois o gancho não te deixará afundar!

E assim fez o jovem pato. E ao contrário daquilo que imaginava, flutuou lindamente, aplicando as técnicas que a mãe lhe tinha ensinado, e segurando no ar o galho que o velho lhe tinha dado. É claro que todos acharam estranho, mas o pequeno pato estava tão confiante que nadava ainda melhor que todos os outros.

Certo dia enquanto nadava agarrado ao seu gancho do céu, passou uma cegonha e achou aquele pedaço de madeira ideal para construir o seu ninho. Assim, rasando as águas, tirou-o da mão de Peninha, mesmo no meio do lago. Este ficou tão surpreendido com a atitude da cegonha, que ficou alguns minutos a olhar para ela enquanto voava em direcção ao seu ninho. Quando regressou a si, apercebeu-se que estava a nadar sem suporte, ou seja, mesmo sem estar preso ao céu, conseguia nadar perfeitamente.

O velho, que observava tudo da margem apenas comentou:

- Ora não fosse eu o médico dos patos! O efeito placebo é mesmo muito poderoso!!

sábado, 14 de março de 2009

Tomar Medicamentos e Trabalhar


A depressão impede-nos por vezes de trabalhar ou de assistir às aulas. Para que possamos levar uma vida normal tomamos medicamentos. Mas como vivemos depois o nosso dia a dia sob o efeito desses medicamentos?


Cada medicamento produz os seus efeitos secundários específicos e cada pessoa reage ao mesmo de forma única. Porém, a sonolência, excitação, secura de boca, desconcentração, tonturas e outros podem ser alguns dos mais incomodativos. Muitas pessoas, após um período de interrupção no trabalho ou estudos regressam e procuram ter uma vida o mais normal possível, como é suposto ser o objectivo das terapias anti-depressivas. Porém confrontamo-nos muitas vezes com as exigências das nossas tarefas e os efeitos secundários dos medicamentos que tomamos. Para quem trabalha num escritório por exemplo, sentado todo o dia a uma secretária a executar tarefas rotineiras, o sono ataca quando não é de todo desejado e é por vezes muito difícil fazê-lo ir embora, por mais cafés que se tomem; outro exemplo é a falta de concentração nos estudantes quando assistem a uma aula e nada lhes ficou na memória, ou as tonturas para um construtor civil que trabalha em edifícios altos. Poder-se-ia dizer que pessoas com estas profissões deviam ficar de baixa até que terminassem a medicação. Mas na sociedade em que vivemos, pelo menos a portuguesa, ficar de baixa muito tempo por vezes implica a perda do emprego. Além disso muitas pessoas têm que tomar este tipo de medicamento praticamente toda a vida e não querem nem podem abdicar da vida activa tão precocemente.


Trabalhar pode-se tornar difícil nestas condições. O pior é que muitas vezes o chefe também nota e das duas uma: ou conhece a situção e entende-a, ou simplesmente atribui àquele funcionário o rótulo de ineficiente ou improdutivo. Muitas vezes até conhece as causas e simplesmente não aceita que algum seu subordinado possa ter problemas psicológicos, devido ao estigma de loucura que ainda se associa a isso. Quer por uma razão ou por outra não é fácil trabalhar sob o efeito de medicamentos ansiolíticos ou antidepressivos, nem é aconselhável ficar em casa a curar uma depressão, não só porque por vezes o isolamento e a inactividade pode até acentuá-la mas sobretudo devido à realidade que temos no emprego em Portugal.


Algumas pessoas optam por vezes por nem sequer consultarem um terapeuta, com medo das consequências de que falei. Então a situação vai-se agravando até culminar numa depressão grave que poderia ter sido travada a tempo de evitar chegar a tanto e muito sofrimento teria sido evitado. Esperamos que haja mais compreensão por parte da classe empregadora, menos estigma relacionado com o tema e cultura - acho que é uma questão de cultura - em relação a toda a sociedade, para que não associem imediatamente as palavras "psicólogo", "psiquiatra", "anti-depressivos", "ansiolíticos" e outras semelhantes, a "loucura".

domingo, 1 de março de 2009

Medo do Sucesso

Desde as tarefas mais insignificantes das nossas vidas até às maiores, todos dizemos que ambicionamos o sucesso. Porém, por vezes falhamos justamente naquilo onde julgamos ser mais importante para nós alcançá-lo. Sentimos que nos esforçamos tanto, que concentramos todas as nossas forças naquele objectivo concreto e no entanto, na hora H, surge algo que compromete os resultados, culminando em fracasso todo o nosso empenho. Por vezes situações destas ocorrem repetidas vezes ao longo das nossas vidas e chegar ao "quase consegui" parece constituir uma espécie de padrão. Temos consciência que trabalhamos arduamente para o fim a que nos propusemos, não faltaram apoios, porque falhamos então? Culpamos a falta de tempo, a constipação que surgiu à última da hora, o transito, a chuva... tudo, excepto nós mesmos. Não temos consciência que por vezes, somos nós próprios que criamos aquilo que grandiosamente nos levaria ao sucesso, mas que inconscientemente abortamos todas as possibilidades de esse momento ocorrer.

Parece contraditório querermos tanto algo e sabotarmos os nossos próprios planos. Afinal de contas, não temos culpa de adoecermos ou de ter havido um acidente que empatou o trânsito. Isso não depende de nós, pensamos. Mas a história não é bem assim. Imaginemos alguém, vamos chamar-lhe João, que trabalhou durante seis meses num projecto que tinha que apresentar numa reunião da qual dependeria o aumento do seu salário e categoria profissional dentro da empresa onde trabalha.

O nosso inconsciente trabalha de forma independente, não é comandado pela nossa vontade explícita. É um armazém de dados e gere a informação baseada nos mesmos, aqueles que a mente consciente já se esqueceu ou nem sequer se apercebeu de que existiram. Tem um poder incrível para agir por detrás do pano. Por isso não nos apercebemos da sua actuação.

Voltando ao caso de João. Na véspera da reunião apanhou uma constipação que o deixou rouco. Apesar de tudo, resolveu ir na mesma. Meteu-se no carro e deparou-se com uma fila de trânsito enorme que lhe gorou todas as perspectivas de chegar à hora agendada. Parece apenas uma questão de azar. Mas analisando bem as coisas, o azar por vezes não chegar para justificar todos os fracassos.

João de uma família onde o pai era demasiado autoritário e a mãe demasiado submissa, onde sempre foi tratado como um bebé, apesar de ter crescido, ser muito inteligente e ter imensas capacidades. Contudo, nunca foi elogiado pelos seus sucessos, nem mesmo os maiores, e sempre lhe apontaram os erros e os pontos fracos de forma demasiado frequente e destrutivamente crítica. "Tu não és capaz", "Não te vão escolher", "Não sabes nada da vida"... foram frases como estas que João ouviu toda a sua vida. Por mais que actualmente pense o contrário, o seu inconsciente registou estas ideias negativas e no momento de tomar uma decisão, influenciam o resultado. Ele não se apercebeu, mas foi o seu inconsciente que debilitou o seu sistema imunitário, justamente numa altura crucial, de forma a que ele facilmente contraísse uma constipação. Por outro lado, na altura de iniciar a viagem, dirigiu o seu pensamento para todo o lado excepto para aquele que mais interessava no momento: fez com que se "esquecesse" de verificar as notícias sobre o trânsito e procurar caminhos alternativos de forma a evitar a fila e chegar assim a horas. Em vez de culpar o azar pelo sucedido, se há culpados, é o próprio João. Mas é claro que ele não sabe que foi o responsável por impedir o seu próprio sucesso.

Porque fez isso? Porque haveria alguém de trabalhar tanto para no último minuto deitar tudo a perder? Não acreditar verdadeiramente em si e ter medo do próprio sucesso. Medo de não saber lidar com ele. Porque toda a vida nunca foi os seus pequenos (e grandes) sucessos foram esquecidos, porque passou a acreditar no seu íntimo que não seria capaz. Ascender a um nível superior (como no caso de João a uma superior categoria profissional) acarreta também mais responsabilidades, a atenção recai mais sobre si. Pessoas como o João habituaram-se a viver na sombra, não gostam muito das luzes da ribalta e facto de terem interiorizado aquelas frases que repetidamente ouviram dizer dos seus pais ou familiares directos criaram nelas um medo de subir os degraus que levam ao sucesso. Por isso, por mais que conscientemente lutem contra isso, o seu inconsciente mexe os cordelinhos de forma a abortar os seus planos.

O João personaliza muitas pessoas anónimas que provavelmente nesta altura estão a ler este post. É difícil acreditar que o que estou a escrever aqui seja verdade, mas é-o de facto. Pode haver mais razões para que isto aconteça, como a previsão das consequências em relação por exemplo a uma mudança de local, o sentimento de culpa, etc. Mas vale a pena pensar sobre isso e em vez de culpar o azar pelos nossos fracassos, revermos o nosso inconsciente e começarmos por "tratá-lo" antes que ele nos trame outra vez.

Lágrimas secas

Ver fonte da imagem   So me apetece chorar, mas as lágrimas não caem.... É um alívio quando elas escorrem pelo rosto, pois é uma forma de ex...

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