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domingo, 31 de janeiro de 2010

Tensão em demasia causa sono


Desperto para um dia normal. O meu pulso está dentro dos limites que me são próprios. Nada de novo se avizinha. Apenas mais um dia de trabalho sentada à secretária, tentando descortinar em folhas de excel onde se encontra o erro que não se sabe se existe. É monótona a tarefa, é frio o ambiente. As salas individuais estão divididas ao longo de um enorme corredor que desemboca numa outra pouco utilizada, ao lado das casas de banho. A minha é a segunda. Todos são muito educados, todos nos cumprimentamos mutuamente e sempre que nos cruzamos sorrimos. Mas eu não pertenço ali. Apesar das aparências, não deixa de ser uma empresa onde cada um pensa apenas em si, onde cada um tenta fazer o seu trabalho o melhor possível e nem lhe passa pela cabeça perder tempo a ajudar o próximo.
A minha respiração começa a ser demasiado curta e torácica, a tensão acumula-se na nuca, atrás das orelhas e vai-se apoderando de todo o corpo. Mantenho-me quieta, tentando trabalhar. Mas o sono toma conta de mim. Deixo de ver o ecran e depois perco o raciocínio. Adormeço por meio segundo, tempo suficiente para a minha mente ir para outras paragens. Quando regressa, tem que se esforçar por encontrar o raciocínio anterior, para tentar concluir a pesquisa do erro. Mas mal o faz, volto a adormecer. Deixo de estar ali, por meio segundo, depois volto. Mantenho a cabeça erguida, apenas meus olhos denunciam o que está a acontecer: estão parados e baços, não reagem a estímulos. Pestanejo numa tentativa de recuperar a consciência. Mas de cada vez que isto acontece, mais me afasto da minha performance. A produtividade baixa, aumenta a sensação de mal estar. Os meus músculos parecem embebidos de electricidade. Querem movimentar-se, seja de que forma for. Relaxar é palavra que não conhecem. Faço força nas pernas e nos braços, espreguiço-me, bocejo, mas nada é suficiente. Todo o meu corpo, desde a planta dos pés até ao cimo da cabeça sofre do mesmo problema. Mesmo quieta, noto que os meus olhos estão esbugalhados. Os olhos também têm músculos, até esses se querem esticar. Não consigo ter paz.

Chego a casa e tento jantar. Demoro uma eternidade para o preparar. Não consigo raciocinar, a minha cabeça parece inchada, tenho um som estranho a ecoar nela, como se tivesse estado todo o dia exposta a um ruído intenso. Mas o único ruído que ouvi foi o silêncio. Tomo medicamentos, os que me apetecer no momento, pois a minha psiquiatra, como não entende, diz que só consegue ir lá por tentativas. Tentativas, experiências, também eu faço, e não tenho que pagar consultas e ouvir a frustrante e estúpida frase "O que é que quer que eu lhe faça?". Mas os medicamentos não ajudam. 9 mg de bromazepam deixam-me tão desperta como se bebesse um copo de água. Entretanto os meus músculos continuam na mesma, numa contínua excitação ultrapassa a da mente, que parece amorfa, e não me deixam dormir. Passo a noite num estado entre o sono e a vigília, algo que não é nada reparador para enfrentar o dia seguinte.

O sono diurno não é sono normal, é originado pela tensão. A psiquiatra não entende como tal é possível e propõe-me estimulantes. "Beba café!", diz ela. Café já eu bebo, se calhar mais do que devia. A ideia dela não é inédita, eu própria fiz a experiência. Não resultou. "Então dou-lhe calmantes, mas bromazepam 6 nunca, é muito elevado. Que tal alprazolan 0,25?". Esta tipa ou é surda ou parva. Será que não consegue perceber que se 9 mg de bromazepam não me fazem efeito, 0,25 de alprazolam seria placebo? Bom, decididamente tenho que fazer eu as minhas próprias experiências. Não sei mais o quê, estou a atingir os limites da minha paciência.

Bom, por agora vou tentar jantar. Que existe mais para eu tentar? Se alguém tiver alguma ideia, por favor diga, pois eu só sei que tenho que tenho que ficar bem.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Hipocondria

""Comecei com tonturas e com a sensação de desmaio. Primeiro julguei que fosse pela má alimentação, depois talvez um problema de ouvidos devido ao desequilíbrio. Passado pouco tempo comecei a pensar que tinha alguma doença terminal. Fui a uma médica que me disse que não tinha nada, que era tudo do sistema nervoso e stress. Claro que não acreditei", recorda Catarina, 26 anos, livreira. Os primeiros sinais de hipocondria surgiram depois de ter descoberto um gânglio inflamado na zona do maxilar, "fiz o que não se deve fazer - procurar justificações na Internet para algo que encontrei de diferente no meu corpo. Depois da minha pesquisa e de ter encontrado um monte de cancros e doenças terminais para justificar um simples gânglio inflamado, o meu pesadelo começou. Fiz uma ecografia que não acusou nada. No momento fiquei muito aliviada, "curada". Mas no dia seguinte voltou tudo e com mais força ainda. "E se o médico não viu bem e tenho qualquer coisa escondida?", lembra. Catarina não dormia, não aguentava nada no estômago nem nos intestinos. Sentia suores frios, o coração a querer sair do sítio e falta de ar nos pulmões. "É um descontrolo total dos membros e órgãos. É um desespero e um sofrimento inacreditável", sustenta. Recorreu a quase todas as especialidades, fez ecografias e dezassete raios X. "Corri tudo à procura da doença que eu tinha que ter. Sente-se tudo, e nada ao mesmo tempo, sente-se o corpo a desintegrar, palpitações onde não deviam, estalidos que não são normais, é uma atenção pormenorizada a tudo o que acontece e mexe no nosso corpo", afirma. E acabou por atingir o limite quando deixou de sair da cama e de conseguir andar, "cansava-me muito, o coração disparava e era naquele momento que eu ia morrer. É aterrador viver com a permanente queixa, traduzida em dores, do nosso corpo de como já não aguenta mais. Dava dois passos e tinha que descansar ou encostar-me para não cair", explica.
"Imagine que vai a um médico e lhe dizem que tem aproximadamente dois segundos de vida. É isso que se sente, a cada segundo que passa é no próximo que vou morrer, porque sinto uma dor aqui, outra ali, e se não tenho cancro, tenho outra coisa qualquer que ainda ninguém descobriu. Alguém consegue viver assim? Não se consegue pensar em mais nada, nem há interesse para tal. É um desinteresse total, um morrer e continuar a respirar", pormenoriza Catarina."
Este texto é uma transcrição de parte de um artigo publicado na revista "Happy" de Novembro de 2009, pª 250 e 252, sobre casos de hipocondria.
Nada do que encontrei consegue melhor exprimir o sente um hipocondríaco. Apesar de gozados e incompreendidos pelos outros, o seu sofrimento é bem real. Trata-se de um dos casos de fobia mais complicados, quer para o paciente quer para o terapeuta. Primeiro, porque o paciente não supõe que os sintomas que sente se devam a causas psicológicas, logo procura médicos de especializados em tratar o corpo físico. Só muitas vezes devido à exaustão até dos próprios, o paciente é encaminhado para consultas de psicologia ou psiquiatria.
O caso de Catarina atingiu proporções extremas, mas milhares de pessoas vivem no dia a dia a mesma angústia que ela. A vida muda, embora se esforcem por não deixar que os outros se apercebam disso. Primeiro, o medo constante, depois a fuga. Não há lugar para onde fugir, a fuga de que falo é outra. Começa-se por deixar de sair, não querer estar os amigos, deixar de fazer as actividades que antes lhe davam prazer. Porquê? Porque não há disponibilidade para mais nada. Para além da pessoa não se sentir bem, não consegue pensar em mais nada, a sua constante vigia às sensações corporais e procura de uma explicação para elas, além da antecipação de graves enfermidades, não deixam espaço para pensar em mais nada. Nem sentir mais nada. O sofrimento é incrível, Catarina relatou-o bem. Vivem constantemente com medo é insuportável, e às tantas já têm medo de ter medo.
O acontecimento ou acontecimentos que despoletaram a hipocondria ficam marcados no cérebro como uma fotografia que não se consegue apagar, sobretudo sob a forma de emoção. Ainda que o médico diga que está tudo bem, a sensação continua. O que atormenta, o que vem à tona e não deixa viver a vida é a sensação por vezes mais inconsciente que consciente, do medo, da eminência da morte.
Mesmo quando o paciente toma consciência de que se trata de uma fobia, não consegue eliminar a "fotografia". O facto de ter um corpo que, como toda a gente, está sujeito a doenças e a inevitabilidade e impossibilidade de determinação temporal da morte, não dão paz, tanto mais que ninguém nem nada pode garantir que o que se teme não possa acontecer.
Muitos tratamentos são tentados, desde administração de medicamentos, psicoterapia, acumpunctura, EMDR, etc. Penso que o passo decisivo no tratamento não consiste em eliminar os sintomas mas deixar de temer a morte. Por mais absurdo que isto possa parecer, tal como em todas as outras fobias o que se pretende atingir é pôr fim ao medo do objecto das mesmas, porque não pensar nos mesmos termos em relação à hipocondria?

sábado, 21 de novembro de 2009

Stress e Distress


Hans Selye (1936) definia o stress como “Qualquer adaptação requerida à pessoa, isto é, reacção não específica a qualquer exigência de adaptação”.

O stress é fundamental para a nossa sobrevivência. Em pequenas quantidades é positivo, pois permite-nos mantermo-nos interessados pela vida e enfrentarmos desafios. Contudo em quantidades elevadas diminui as capacidades normais do indivíduo e tensão associada

apresenta-se a níveis demasiado desconfortáveis. Quase toda a gente já ouviu falar de stress. Ele faz parte do nosso dia-a-dia e quem não o sentiu já de vez em quando?

A forma como se fala do stress nas sociedades modernas ocidentais, faz pressupor que se trata de algo recente, mas é algo com o qual convivemos desde o tempo em que vivíamos nas árvores. O psiquiatra João Vasconcelos Vilas-Boas afirma que “o stress é sempre uma resposta emocional a uma situação de risco, resposta essa que pode ser adequada ou desadequada”. O mesmo psiquiatra refere ainda que o stress “não é uma doença mas um sintoma ou conjunto de sintomas”.

O que se está a passar hoje em dia na nossa sociedade é que estamos rodeados de “indutores” de stress, estamos a acelerar as nossas vidas de forma a responder às exigências externas, mas também internas, pois muitas vezes impomos metas e objectivos a nós próprios demasiado severos.

O stress afecta a percepção, o sistema nervoso, o equilíbrio hormonal, o sistema cardiovascular, o

sistema digestivo e o respiratório, o trato urogenital e o sistema imunológico. Aquele normalmente designado como "mau" é o chamado "distress" que aparece quando o organismo não sabe adaptar-se a uma nova situação e responde de forma desmesurada ao estímulo que essa situação provoca. Neste caso o indivíduo fica incapaz de pensar e de se concentrar e mesmo quando o estímulo acaba o corpo não sabe como voltar ao estado normal. (Departamento de Engenharia Informática Universidade de Coimbra, Stress Comunicação Técnica Profissional, Luis Fernando Lopes).

O stress não surge de um momento para o outro. Existem três fases:

- Fase se alarme, em que, perante uma nova situação que se impõe ao indivíduo O cerebro recebe e analisa os estimulos que lhe chegam dos sentidos e compara com a informação que já

tem armazenada. Se julga não ter os recursos suficientes para lhe fazer face, envia um sinal de alarme que vai libertar hormonas como a adrenalina e o cortisol, que faz aumentar o batimento cardíaco, dilatam as pupilas, os músculos ficam tensos, etc, tentando preparar o corpo para o perigo eminente;

- Fase de resistência, em que o organismo tenta a recuperação do organismo após o dequilíbrio inicial, consumindo desta forma mais energia, o que pode originar cansaço excessivo;

- Fase de esgotamento, ou seja, quando a resistência do corpo se esgota, quando o cansaço nos derrota. Aqui o stress passa a distress, ou seja, mau stress, que tem consequências nefastas para o organismo.

O distress provoca problemas a nível físico e psíquico. Pode provocar palpitações, desiquilíbrios hormonais, tensão muscular, tensão arterial alta, inquietação, dificuldades em pensar e tomar decisões, insónias, perda de concentração entre outras. Uma situação de stress mantida por muito tempo pode levar à morte e, segundo uma investigação da Faculdade de Medicina da Universidade de Washington pode provocar perda de neurónios. Contudo, relativamente a esta última questão o médico português Nuno Sousa provou no seu doutoramento que o stress crónico não conduz à morte dos neurónios, mas que o hipocampo apenas fica atofiado porque diminuem as sinapses (a comunicação entre os neurónios), conduzindo à reversibilidade da situação.

Sntomas de distress são vários, desde a tensão muscular, à pulsação elevada, a diarreias e indigestões, falta de desejo sexual, dificuldades em conciliar o sono. Variam de pessoa para pessoa.

Existem formas de aliviar o stress: fazer exercício físico, planear o dia-a-dia, ingerir comida mais saudável, tirar um tempo para si próprio, tentar dormir pelo menos oito horas, etc. Já agora uma boa notícia para os amantes de chocolate: comer perto de 30 gr de chocolate preto por dia reduz o nível de hormonas de stress!

O sress crónico, além do mal estar que provoca, pode evoluir para quadros trasntorno de ansiedade generalizada, depressão, ataques de pânico e levar a um aumento do risco de contrair infecções devido à quebra no sistema imunitario. Convém consultar um terapeuta nos casos mais graves.

Vale a pena ler o artigo pulbicado em http://www.fchampalimaud.org/images/uploads/Publico_July31_2009.pdf sobre stress e rotina.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

O Gato-Cão


Existe na localidade onde vive um gato-cão. Como mostra a fotografia, cinquenta por cento do pelo deste animal parece-se com o de um gato, enquanto os outros cinquenta parecem pertencer a um canídeo.

Ao vê-lo pela primeira vez, fiquei espantada, parecia-me uma aberração. Estava a cinco metros de mim e pude fotografá-lo. Achei que tinha encontrado um "tesouro" da natureza e até enviei por mail para alguns amigos.

Na altura pensei tratar-se de um gato vadio que passou por ali e seguiu o seu caminho, pois nunca mais lhe pûs a vista em cima. Passados cerca de dois meses, ao fazer jogging, passei por aquele local e vi-o. Estava à porta de uma das casas térreas de onde saiu uma senhora de muita idade, pegou no animal e levou-o para o interior do seu quintal, lançando-me um olhar reprovante pela minha atitude de curiosidade em relação ao bicho. É que eu aproximei-me dele e comecei a examinar o seu estranho pêlo.

Senti-me muito mal, pois de repente percebi o porquê daquele olhar. Reparei que o gato estava doente e o que quer que lhe tinha provocado aquela anomalia no pêlo não era certamente motivo de orgulho. É claro que ao animal não importava a minha curiosidade ou indiferença, mas a dona percebeu. Percebeu que o seu amado animal de estimação, só porque era diferente, era visto como uma aberração, provocava exclamações aos transuentes e era até objecto de registo fotográfico. Pensei que a situação não seria diferente se se tratasse de uma pessoa. De repente imaginei-me no lugar do gato. Será que a situação seria idêntica? Será que as pessoas parariam para ver as minhas anormalidades físicas? Fiquei com imensa pena dele.

O ser humano tem tendência para fazer isto em relação ao seus iguais também. Seria eu capaz de o fazer? Não, não seria. Mas qual é a diferença então? Realmente não sei responder a esta pergunta, ou melhor, sei, era porque ainda não tinha parado para pensar. Aquele gato fêz-me acordar para uma realidade que ainda estava adormecida em mim: não julgues os outros pela aparência, nem mesmo um animal, pois não gostarias que te julgassem a ti. Se hoje coloco aqui a fotografia é apenas para que tenham a ideia do que estou a falar.

Naquele dia, voltei atrás e pedi desculpa à dona.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Em busca da felicidade


Aprendi mais neste último ano que nos anteriores trinta. É claro que não me refiro a ensinamentos académicos, nem tão pouco a cultura geral. Refiro-me a uma aprendizagem íntima e emocional que parece estar a ser incrementada uma velocidade exponencial, que gostava de partilhar convosco.

Aprender só se consegue quando estamos interessados em tal, quando a nossa mente está aberta o suficiente para abarcar novos conhecimentos e experiências, quando achamos que não sabemos quase nada do que existe para saber e principalmente quando temos a humildade suficiente para aceitar que todos têm alguma coisa para nos ensinar e que tudo o que nos acontece na vida tem uma lição subjacente. A mim, nunca me faltou a humildade, devo confessar que o que me faltou foi a abertura da mente e o interesse em aprender. Considero que fui uma boa aluna, aprendi na perfeição tudo o que os professores me ensinaram nas aulas, assisti a inúmeras formações e aprendi muito a nível profissional. Contudo, isso era o que menos interessava. Não foi isso que contribuiu para a minha felicidade. Não me considerei mais feliz com o nível de cultura que atingi do que antes de me sentar numa sala de aulas. Não nos ensinam na escola o essencial, todas as reformas feitas no ensino até agora visam apenas capacitar o indivíduo para o seu futuro profissional e ensinar-lhe ferramentas com vista à sua insersão na sociedade, de um ponto de vista material. É de todo ignorado o indivíduo enquanto ele próprio, os alunos são vistos como um todo e o tempo e o dinheiro são poucos para lhes oferecer ferramentas para alcançar a sua felicidade. Parece irónico que um estado e sociedade que se preocupam tanto com o futuro não tenha a mesma preocupação com a forma como esse futuro é vivido.

Durante quase toda a minha vida estive presa a crenças sobre mim própria e sobre como deveria ser a minha relação com o mundo, decerto idênticas às de muita gente:
- O teu destino está traçado;
- Os outros são melhores e sabem mais que tu;
- Quanto mais velha uma pessoa é mais sabe da vida e quando se atinge a velhice sabe-se quase tudo;
- Há que duvidar sempre do que os outros dizem porque a vida é uma competição;
- Há que esconder os nossos sentimentos para não nos considerarem fracos;
- Deves ser submisso porque não vais conseguir nada remando contra a maré;
- Deves seguir os outros para que não te julguem diferente;
- O mundo está cheio de desgraças e como tal temos que ver as coisas pela negativa;
- O sucesso está reservado a meia dúzia de felizardos e tu não és um deles;
- Não é o que tu queres que importa mas sim o que está disponível para tu obteres;
- Quanto mais trabalhares, mais dinheiro vais conseguir;
- Etc..

A quantos de vós estas palavras não soam a familiares? Estas crenças moldaram-nos desde que nascemos. A mim, não deixaram que a minha mente estivesse disponível para pensar por mim própria. Impediram-me de acreditar em mim mesma. Mantiveram-me colada a uma triste realidade causada pelas minhas atitudes e pensamentos destrutivos, que eu não tinha forças nem motivação para mudar. É que só se pode mudar quando se começam a pôr em causa todas as crenças em que estivemos a basear a nossa vida. E isso é muito mais difícil do que pensamos, pois uma das funções das crenças é dar-nos respostas para qualquer que seja a pergunta, dispensando assim a nossa análise crítica. Ao longo de toda a nossa vida não estivemos sequer habituados a pensar nelas, sempre foram um dado adquirido, uma verdade imutável. Como poderíamos pô-las em causa?

Quando comecei a ler livros sobre inteligência emocional, cedo percebi que nem sequer sabia identificar as minhas emoções; quando questionei outras pessoas sobre isso, descobri que elas também não sabiam. Reparei que aprendendo a conhecê-las iria alcançar um maior controlo da minha vida. Pela primeira vez questionei se aqueles que nem sequer as sabiam identificar estariam certos acerca de tudo o que me haviam ensinado até então. Pouco a pouco fui pondo todas as outras crenças também em causa. Seria verdade tudo aquilo que me tinham enfiado na cabeça desde que nascera?

Li muito sobre auto-estima, inteligência emocional, atitudes positivas e desenvolvimento pessoal. Comecei a estar atenta às pessoas que eram felizes porque só estas tinham alguma coisa para me ensinar. Aprendi que:

- O destino somos nós que o fazemos, através de cada decisão que tomamos, independentemente da importância desta;
- Eu tenho capacidades e se os outros são capazes eu também sou; posso não saber mais que os outros, mas tenho vontade e procuro a cada passo aprender ainda mais que eles;
- O conhecimento é ilimitado e é arrogância pensar que se sabe quase tudo. O conhecimento é independente da idade e existem vários tipos, não um só.
- A vida não tem que ser uma competição, apenas temos que dar o nosso melhor e desde que o façamos, não temos nada a temer. Se desconfiarmos constantemente dos outros, será que somos de confiança?
- Os nossos sentimentos podem ser escondidos dos outros, mas nunca de nós mesmos. Mesmo assim, partilhá-los leva a criar laços entre as pessoas que de outra forma nunca surgiriam;
- Devemos ser sempre fiéis aos nossos valores, ainda que isso implique lutar contra meio mundo;
- Devemos seguir o nosso caminho, por nós traçado e não o caminho que os outros escolheram, para eles ou para nós;
- O mundo também tem coisas boas a acontecer: temos é que olhar para elas, pois elas estão por todo o lado: se olharmos para o mundo de uma forma positiva vamos estar sempre a deparar-nos com elas;
- O sucesso depende de acreditar. Se acreditarmos o suficiente, vamos ter sucesso;
- O que nós queremos importa. Só assim podemos estabelecer tal como um objectivo a atingir e lutar por ele;
- Não é trabalhando mais que vais conseguir enriquecer: por vezes é parando, levantando a cabeça que se conseguem ver as melhores oportunidades. Não é de dinheiro que falo neste post, mas este princípio aplica-se a todos os aspectos da nossa vida.

Vou continuar a "estudar". Sei que vai valer a pena.

sábado, 8 de agosto de 2009

Hipnoterapia


Considerada uma prática alternativa à terapia tradicional, a hipnoterapia (ou hipnose clínica) tem vindo a ganhar cada vez mais adeptos entre os que sofrem de problemas psíquicos. O estado hipnótico é um estado alterado de consciência que pode ter vários graus, semelhante aos vários estados que experimentamos durante o nosso dia. É um estado de concentração profunda, no qual a nossa mente está voltada para a sua vida interior. Experimentamos um total relaxamento físico e emocional, em que o cérebro entra em frequência alfa, um estado intermediário entre o sono e a vigília. O paciente está sempre consciente (30 a 40%) e tem poder de decisão. Quer isto dizer que o paciente não fará nem dirá nada que não queira e ao sair do estado hipnótico lembrar-se-à de tudo o que aconteceu. Contudo encontra-se mais sugestionável, daí que este método seja eficaz no tratamento de diversos problemas como adicções, fobias, depressão, insónia, stress e até obesidade ou asma.

Quando a pessoa está hipnotizada, os hemisférios cerebrais atingem uma excelente capacidade de comunicação entre si, facilitando a troca de material psíquico e simbólico entre o consciente, o pré-consciente e o inconsciente. A acessibilidade ao inconsciente torna-se desta forma mais fácil.

Os nossos sintomas têm a ver com programação. Estamos programados para agir ou pensar de determinada forma. A hipnose actua no sentido de ajudar os indivíduos a desprogramar aquilo que conduz a estados de sofrimento, a eliminar traumas e bloqueios.

É importante que o paciente sinta confiança no terapeuta, pois terá que seguir as suas sugestões. Antes de uma sessão, convém averiguar as suas credenciais. Existe um código de ética e deontológico para estes profissionais (pode consultar em www.bsch.org.uk/code_of_conduct.htm), pelo que os bons profissionais se guiarão por ele, estando sempre o paciente salvaguardado. Contudo, há quem entenda que a hipnoterapia tem perigos. Deixo aqui um site que resume os mais comuns: http://cadernoalfa.blogspot.com/2008/06/o-perigo-da-hipnose.html. Devo contudo salientar que na busca que efectuei através da internet e de outros meios de comunicação a ausência de perigos nesta prática vence com esmagadora maioria.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Calar o sofrimento


Quem sofre depressão ou de outro tipo de patologia do foro psíquico sofre de duas formas: por um lado os sintomas próprios do mal de que padece e por outro do que lhe é causado pela sociedade. Porque a sociedade ainda não aprendeu a aceitar que nem todas as pessoas que sofrem de problemas que não são de origem física, são loucas.

Quem nunca passou por uma situação semelhante quase nunca consegue entender porque é que quem está deprimido não consegue simplesmente deixar de o estar, como se bastasse estalar os dedos para isso acontecer. Por vezes essas pessoas podem ser nossos familiares, amigos, colegas de trabalho, vizinhos. Há uma tendência natural em pormos de lado aquilo que não entendemos. É o que acontece com eles. Mas, como se não bastasse, há determinadas pessoas para quem pura e simplesmente não podemos dizer que não nos sentimos bem. Então se esse mal estar for do foro psicológico, ainda menos. É-se rotulado de louco, de instável, de incapaz. O simples facto de entregar um justificativo de falta num emprego, quando se vai a uma consulta, assinado por um psiquiatra, pode levar a questionar se aquele empregado é competente para o cargo que desempenha, se se disser aos amigos que se tem uma obsessão ouve-se logo um borburinho, e por aí fora. A reacção das outras pessoas não é a mesma se se disser que se tem uma broncopneumonia ou se tem uma depressão.

Como fazer então para evitar estas situações? Conheço quem escolha médicos que passam justificativos em nome das clínicas em que trabalham de forma a que a sua especialidade não seja identificável, quem coloque os comprimidos em frascos vazios de outros para a dor de cabeça por exemplo e ainda quem simplesmente finja que anda bem para não ter que consultar um médico ou tomar qualquer tipo de medicamentos. Por vezes temos que contornar os obstáculos que se nos deparam, enquanto a sociedade não "cresce". Contudo, deixar de procurar ajuda não é de todo solução.

A década que corre tem desmistificado muito estas questões. O aumento do número de pessoas com problemas é cada vez maior e o número daquelas que recorre a tratamento. Penso que as pessoas estão a consciencializar-se de que não acontece apenas aos outros e além disso a internet, a imprensa escrita e os media em geral estão a confrontar o seu público com cada vez mais informação acerca destes temas. A informação é a chave para um correcto julgamento, em qualquer situação. Contudo ainda há um longo caminho a percorrer.

Lágrimas secas

Ver fonte da imagem   So me apetece chorar, mas as lágrimas não caem.... É um alívio quando elas escorrem pelo rosto, pois é uma forma de ex...

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