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terça-feira, 17 de agosto de 2010

A superficialidade da vida quotidiana


Nunca a nossa vida se baseou tanto no princípio “Chiclet”. Assente no consumismo, toda a estrutura social está, como é óbvio, regulada pelo dinheiro. Por muito que os valores da família, amizade, liberdade, estejam no top das sondagens, a verdade é que os trocamos cada vez mais por dinheiro. Precisamos de tão pouco para viver. Contudo, temos uma casa com vários quartos, recheada de móveis e bibelots que nem sequer usamos, peças de roupa que não conseguimos rodar numa estação, etc. A posse tornou-se o mais estimado de todos os valores.

Aquilo que a maioria das pessoas não sabe e as restantes sabem mas não querem saber, é que a propriedade. Tudo aquilo que possuímos exige cuidado e dedicação, protecção, aos quais dedicamos a maioria do nosso tempo. Resta pouco para os amigos, para a família, enfim, para cultivar outros valores. Trata-se de uma prisão sem grades, onde somos simultaneamente presos e carcereiros. Adaptamo-nos a um estilo de vida superficial, virado para as aparências e iludimo-nos com elas; somos o que esperam que sejamos e não nós próprios; alimentamo-nos mais da imagem do que de comida; ajudamos a construir um mundo cada vez mais complexo, convencidos que isso nos facilita a vida. Mas não é bem assim. Estamos a erguer grades, a construir a nossa infelicidade. A nossa liberdade começa quando tomamos consciência que somos capazes de prescindir de tudo o que temos para abraçar outra vida, mais simples e menos dependente. Quando não sentirmos mais a necessidade de “ter”, “possuir”, encontramos verdadeiramente a felicidade. Que bom é poder partir, poder experimentar sensações, poder ser nós próprios! Mas para isso é preciso renunciar a tudo o que nos prende.


Um dia um velho estava numa cela, preso por vagabundagem. Frente a ele, um homem jovem lamentava-se pela falta de liberdade. O velho respondeu com um ar sereno e feliz:


- Quando um homem é verdadeiramente livre, não importa o lugar onde esteja: ele sentir-se-à sempre livre…

terça-feira, 20 de julho de 2010

Ansiedade Generalizada e Medo



No post anterior referi que a ansiedade é um fenómento normal que ocorre com todos nós e que tem como finalidade preparar-nos para enfrentar um perigo ou dificuldade que se avizinha. Mas quando as respostas de ansiedade se manifestam de forma causando sofrimento, deixam de exercer a sua função, passando a ser perturbadoras do funcionamento normal. A ansiedade patológica é elevada, faz o indivíduo ficar inibido e bloquear perante sitauções onde antes agia de forma natural. É característica da ansiedade uma apreensão sobre o futuro, que pode permanecer no tempo quando perigo real desaparece.

O medo e a ansiedade andam de mãos dadas. O medo é uma emoção que tem quase o mesmo propósito da ansiedade: preparar-nos para fugir ou agir de forma defensiva perante uma ameaça ,activando mecanismos no nosso corpo, como o acelerar do batimento cardíaco e a vigilância, por exemplo. Trata-se de uma reacção de alarme, quase imediata; a ansiedadeé dirigida ao futuro. Sabemos que o medo causa ansiedade. E será que a ansiedade causa medo?

A asniedade patológica pode descrever-se como um funcionamento incorrecto do nosso sistema do medo. O transtorno da ansiedade generalizada (TAG) diferencia-se das fobias (medo patológico relativamente a um objecto ou situação específica) dado que não está associada a nada em concreto. Apesar disso, toda a ansiedade tem como pano de fundo o medo.

A Ansiedade pode se manifestar em três níveis: neuroendócrino, visceral e de consciência. O nível neuroendócrino diz respeito aos efeitos da adrenalina, noradrenalina, glucagon, hormônio anti-diurético e cortisol. No plano visceral a Ansiedade corre por conta doSistema Nervoso Autônomo (SNA), o qual reage se excitando o organismo na reação de alarme (sistema simpáticoto) ou relaxando (sistema vagal) nas fase de esgotamento.

Cognitivamente a Ansiedade se manifesta por dois sentimentos desagradáveis:

1- através da consciência das sensações fisiológicas de sudorese, palpitação, inquietação e outros sintomas autossômicos (do sistema nervoso autônomo);

2- através da consciência de estar nervoso ou amedrontado.”

in http://virtualpsy.locaweb.com.br

Quando os factores que desencadeiam a ansiedade se mantêm por muito tempo (avaliação subjectiva), e o esforço adatativo é muito intenso, pode-se entrar na fase de esgotamento, como ilustrado no gráfico acima: trata-se da fakência dos recursos emocionais e fisiológicos, o que leva ao aparecimento de transtornos diversos, orgânicos, psíquicos ou emocionais.

No TAG o objecto do medo é muito vago e difuso. A sensação é intensa, mas não dirigida. Por essa razão, o individuo “procura” um objecto, acumula-os, muda de um para outro com facilidade. O medo vago passa a medo de tudo, a decadência no sentido do esgotamento antevê um cenário horrível e portanto gera ainda mais medo. O indivíduo perde o controlo, rompe com os seus mais íntimos valores, apenas pede ajuda sem conseguir estabelecer um plano, as suas ideias tornam-se obsessivas e desorganizadas… Bom, o melhor é evitar, inverter o sentido da curva do gráfico até que atinja novamente o estado “Óptimo”….

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Ansiedade Generalizada

Definição, caracteríscticas e diagnóstico

A ansiedade consiste na sensação decorrente de intensa excitação do sistema nervoso central face à identificação ou antecipação de algum perigo ou obstáculo potencial.

O Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG) consiste numa preocupação e ansiedade excessiva, tendo por base motivos injustificáveis ou desproporcionais ao grau de ansiedade observado, tendo em conta a frequência, a intensidade e a duração dos sintomas. Estes manifestam-se quase diáriamente, são contínuos e a sua duração é superior a seis meses. Distinguem-se da ansiedade normal e são tão extremos que se tornam difíceis de controlar e afectam a qualidade de vida do sujeito. De notar que a ansiedade só se torna

patogénica quando atinge estes níveis. Até aí ela é uma reacção normal e necessária, com fins adaptativos do indivíduo ao meio ambiente e à sociedade, restringe-se a uma determinada situação e, ainda que a gravidade e duração da situação seja extensa, há uma tendência do indivíduo de se adaptar a ela, diminuindo assim naturalmente o seu grau de desconforto.

Normalmente o tipo de preocupações são bastante normais e vulgares, que vão desde a situação financeira, profissional ou familiar. O foco mais comum destas preocupações costuma estar relacionado com a possibilidade de se adoecer com algo grave ou sofrer algum acidente. A constante atenção e vigilância face a esta possibilidade está também relacionada com o facto de se sentirem impotentes e incapazes de lidar com a situação perante a ocorrencia de tal facto. É frequente o indivíduo sentir inquietação, cansaço fácil, dificuldades de concentração, irritabilidade, tensão muscular e alterações do sono.

Para que estejamos perante o TAG é necessário que sejam afastados o diagnóstico de outros transtornos da ansiedade tais como a fobia social ou o pânico, entre outros, uso de substâncias ou doença física. O autodiagnóstico não é muito fiável, por mais informação que o se tenha sobre o tema, dado que os estados ansiosos alteram a percepção que o indivíduo tem de si mesmo ou do que lhe está a acontecer, comprometendo assim a sua imparcialidade, pelo que o indicado será a avaliação por um profissional de saúde especializado.

As características são (não exaustivas e variáveis de pessoa para pessoa em intensidade e frequência):

- Dificuldade para relaxar ou a sensação de que se está no limite do nervosismo;

- Cansaço fácil;

- Dificuldade de concentração e esquecimentos frequentes;

- Irritabilidade;

- Tensão muscular;

- Taquicardia;

- Espasmos e tremores;

- Hiperpneia (hiperventilação);

- Transtornos no sono (dificuldade para adormecer ou sono insatisfatório);

- Boca seca, pés húmidos, diarréia, náuseas, micção frequente, suor excessivo, sensação de bolo na garganta, etc.

- Desenvolvimento de fobias;

- Humor bastante instável;

- Marcado sofrimento e prejuízo no funcionamento pessoal do indivíduo.

Apesar da presença das características citadas, o diagnóstico é feito também por eliminação de outras causas que geram sintomas semelhantes (de nível físico ou mental), recorrendo por vezes, se necessário, a exames de laboratório.

Estatísticas

O TAG é mais frequente do que se imagina, atingindo cerca de 3 a 5% dos adultos em algum momento durante um ano. É ainda o tipo de transtorno da ansiedade mais comum. A prevalência nas mulheres é quase o dobro do que nos homens. Em termos de faixa etária, ele manifesta-se em qualquer idade, iniciando-se normalmente na infância ou adolescência,

atingindo um pico por volta dos 20, ou pelo contrário em idades mais avançadas embora a o avançar da idade tenda a diminuir as probabilidades de surgirem transtornos deste tipo. Há tendência para os sintomas piorarem após períodos naturais de stress.

O TAG costuma ser crónico, duradouro com pequenos períodos de remissão dos sintomas mas geralmente leva o paciente a sofrer com o estado de ansiedade elevado durante anos.

Tratamento

O primeiro passo para o tratamento do TAG é o indivíduo consciencializar-se de que tem um problema e manifestar interesse em tratar-se.

Os fármacos são o tratamento preferido para o TAG, nomeadamente os ansiolíticos ou tranquilizantes, tais como as benzodiazepinas e a buspirona. O uso de benzodiazepinas a longo prazo pode criar dependências ao contrário da buspirona, contudo as primeiras aliviam os sintomas quase imediatamente enquanto a segunda leva perto de duas semanas a surtir efeito.

Muitas vezes a ansiedade generalizada está associada a conflitos psicológicos subjacentes tais como insegurança ou auto-crítica nestes casos será útil coadjuvar a administração de fármacos com psicoterapia ou terapias cognitivo-comportamentais.

Tendo em conta a natureza dos fármacos citados acima, eles dirigem-se ao alívio específico dos sintomas. As benzodiazepinas promovem a relaxação física e mental, reduzindo assim a actividade nervosa do cérebro. Exemplos de benzodiazepinas: alprazolam, clordiazepóxido, diazepam, flurazepam, lorazepam, oxazepam, temazepam e triazolam, etc. A buspirona não pertence a essa classe de medicamentos. Não se sabe ao certo como actua,mas não provoca sedação nem interage com o álcool. Tem a desvantagem de levar cerca de duas semanas a actuar, sendo por isso recomendado em casos de perturbações da ansiedade de longa duração. Por vezes também são prescritos medicamentos antidepressivos tais como inibidores selectivos da recaptação de serotonina (exemplo: fluoxetina, fluvoxamina, paroxetina, sertralina), inibidores da monoaminooxidase (exemplo: fenelzina, tranilcipromina) e antidepressivos tricíclicos (exemplo: amitriptilina, amoxapina, clomipramina, imipramina, nortriptilina, protriptilina)

Para além do tratamento prescrito pelo especialista, ajuda praticar exercícios como yoga, caminhadas, meditação, enfim, tudo o que relaxe física e mentalmente o indivíduo.

Fontes:

http://www.gigamundo.com/2008/12/19/transtorno-da-ansiedade-generalizada/

http://www.psicosite.com.br/tra/ans/ansgeneralizada.htm

http://www.manualmerck.net/?id=109&cn=956

domingo, 31 de janeiro de 2010

Tensão em demasia causa sono


Desperto para um dia normal. O meu pulso está dentro dos limites que me são próprios. Nada de novo se avizinha. Apenas mais um dia de trabalho sentada à secretária, tentando descortinar em folhas de excel onde se encontra o erro que não se sabe se existe. É monótona a tarefa, é frio o ambiente. As salas individuais estão divididas ao longo de um enorme corredor que desemboca numa outra pouco utilizada, ao lado das casas de banho. A minha é a segunda. Todos são muito educados, todos nos cumprimentamos mutuamente e sempre que nos cruzamos sorrimos. Mas eu não pertenço ali. Apesar das aparências, não deixa de ser uma empresa onde cada um pensa apenas em si, onde cada um tenta fazer o seu trabalho o melhor possível e nem lhe passa pela cabeça perder tempo a ajudar o próximo.
A minha respiração começa a ser demasiado curta e torácica, a tensão acumula-se na nuca, atrás das orelhas e vai-se apoderando de todo o corpo. Mantenho-me quieta, tentando trabalhar. Mas o sono toma conta de mim. Deixo de ver o ecran e depois perco o raciocínio. Adormeço por meio segundo, tempo suficiente para a minha mente ir para outras paragens. Quando regressa, tem que se esforçar por encontrar o raciocínio anterior, para tentar concluir a pesquisa do erro. Mas mal o faz, volto a adormecer. Deixo de estar ali, por meio segundo, depois volto. Mantenho a cabeça erguida, apenas meus olhos denunciam o que está a acontecer: estão parados e baços, não reagem a estímulos. Pestanejo numa tentativa de recuperar a consciência. Mas de cada vez que isto acontece, mais me afasto da minha performance. A produtividade baixa, aumenta a sensação de mal estar. Os meus músculos parecem embebidos de electricidade. Querem movimentar-se, seja de que forma for. Relaxar é palavra que não conhecem. Faço força nas pernas e nos braços, espreguiço-me, bocejo, mas nada é suficiente. Todo o meu corpo, desde a planta dos pés até ao cimo da cabeça sofre do mesmo problema. Mesmo quieta, noto que os meus olhos estão esbugalhados. Os olhos também têm músculos, até esses se querem esticar. Não consigo ter paz.

Chego a casa e tento jantar. Demoro uma eternidade para o preparar. Não consigo raciocinar, a minha cabeça parece inchada, tenho um som estranho a ecoar nela, como se tivesse estado todo o dia exposta a um ruído intenso. Mas o único ruído que ouvi foi o silêncio. Tomo medicamentos, os que me apetecer no momento, pois a minha psiquiatra, como não entende, diz que só consegue ir lá por tentativas. Tentativas, experiências, também eu faço, e não tenho que pagar consultas e ouvir a frustrante e estúpida frase "O que é que quer que eu lhe faça?". Mas os medicamentos não ajudam. 9 mg de bromazepam deixam-me tão desperta como se bebesse um copo de água. Entretanto os meus músculos continuam na mesma, numa contínua excitação ultrapassa a da mente, que parece amorfa, e não me deixam dormir. Passo a noite num estado entre o sono e a vigília, algo que não é nada reparador para enfrentar o dia seguinte.

O sono diurno não é sono normal, é originado pela tensão. A psiquiatra não entende como tal é possível e propõe-me estimulantes. "Beba café!", diz ela. Café já eu bebo, se calhar mais do que devia. A ideia dela não é inédita, eu própria fiz a experiência. Não resultou. "Então dou-lhe calmantes, mas bromazepam 6 nunca, é muito elevado. Que tal alprazolan 0,25?". Esta tipa ou é surda ou parva. Será que não consegue perceber que se 9 mg de bromazepam não me fazem efeito, 0,25 de alprazolam seria placebo? Bom, decididamente tenho que fazer eu as minhas próprias experiências. Não sei mais o quê, estou a atingir os limites da minha paciência.

Bom, por agora vou tentar jantar. Que existe mais para eu tentar? Se alguém tiver alguma ideia, por favor diga, pois eu só sei que tenho que tenho que ficar bem.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Hipocondria

""Comecei com tonturas e com a sensação de desmaio. Primeiro julguei que fosse pela má alimentação, depois talvez um problema de ouvidos devido ao desequilíbrio. Passado pouco tempo comecei a pensar que tinha alguma doença terminal. Fui a uma médica que me disse que não tinha nada, que era tudo do sistema nervoso e stress. Claro que não acreditei", recorda Catarina, 26 anos, livreira. Os primeiros sinais de hipocondria surgiram depois de ter descoberto um gânglio inflamado na zona do maxilar, "fiz o que não se deve fazer - procurar justificações na Internet para algo que encontrei de diferente no meu corpo. Depois da minha pesquisa e de ter encontrado um monte de cancros e doenças terminais para justificar um simples gânglio inflamado, o meu pesadelo começou. Fiz uma ecografia que não acusou nada. No momento fiquei muito aliviada, "curada". Mas no dia seguinte voltou tudo e com mais força ainda. "E se o médico não viu bem e tenho qualquer coisa escondida?", lembra. Catarina não dormia, não aguentava nada no estômago nem nos intestinos. Sentia suores frios, o coração a querer sair do sítio e falta de ar nos pulmões. "É um descontrolo total dos membros e órgãos. É um desespero e um sofrimento inacreditável", sustenta. Recorreu a quase todas as especialidades, fez ecografias e dezassete raios X. "Corri tudo à procura da doença que eu tinha que ter. Sente-se tudo, e nada ao mesmo tempo, sente-se o corpo a desintegrar, palpitações onde não deviam, estalidos que não são normais, é uma atenção pormenorizada a tudo o que acontece e mexe no nosso corpo", afirma. E acabou por atingir o limite quando deixou de sair da cama e de conseguir andar, "cansava-me muito, o coração disparava e era naquele momento que eu ia morrer. É aterrador viver com a permanente queixa, traduzida em dores, do nosso corpo de como já não aguenta mais. Dava dois passos e tinha que descansar ou encostar-me para não cair", explica.
"Imagine que vai a um médico e lhe dizem que tem aproximadamente dois segundos de vida. É isso que se sente, a cada segundo que passa é no próximo que vou morrer, porque sinto uma dor aqui, outra ali, e se não tenho cancro, tenho outra coisa qualquer que ainda ninguém descobriu. Alguém consegue viver assim? Não se consegue pensar em mais nada, nem há interesse para tal. É um desinteresse total, um morrer e continuar a respirar", pormenoriza Catarina."
Este texto é uma transcrição de parte de um artigo publicado na revista "Happy" de Novembro de 2009, pª 250 e 252, sobre casos de hipocondria.
Nada do que encontrei consegue melhor exprimir o sente um hipocondríaco. Apesar de gozados e incompreendidos pelos outros, o seu sofrimento é bem real. Trata-se de um dos casos de fobia mais complicados, quer para o paciente quer para o terapeuta. Primeiro, porque o paciente não supõe que os sintomas que sente se devam a causas psicológicas, logo procura médicos de especializados em tratar o corpo físico. Só muitas vezes devido à exaustão até dos próprios, o paciente é encaminhado para consultas de psicologia ou psiquiatria.
O caso de Catarina atingiu proporções extremas, mas milhares de pessoas vivem no dia a dia a mesma angústia que ela. A vida muda, embora se esforcem por não deixar que os outros se apercebam disso. Primeiro, o medo constante, depois a fuga. Não há lugar para onde fugir, a fuga de que falo é outra. Começa-se por deixar de sair, não querer estar os amigos, deixar de fazer as actividades que antes lhe davam prazer. Porquê? Porque não há disponibilidade para mais nada. Para além da pessoa não se sentir bem, não consegue pensar em mais nada, a sua constante vigia às sensações corporais e procura de uma explicação para elas, além da antecipação de graves enfermidades, não deixam espaço para pensar em mais nada. Nem sentir mais nada. O sofrimento é incrível, Catarina relatou-o bem. Vivem constantemente com medo é insuportável, e às tantas já têm medo de ter medo.
O acontecimento ou acontecimentos que despoletaram a hipocondria ficam marcados no cérebro como uma fotografia que não se consegue apagar, sobretudo sob a forma de emoção. Ainda que o médico diga que está tudo bem, a sensação continua. O que atormenta, o que vem à tona e não deixa viver a vida é a sensação por vezes mais inconsciente que consciente, do medo, da eminência da morte.
Mesmo quando o paciente toma consciência de que se trata de uma fobia, não consegue eliminar a "fotografia". O facto de ter um corpo que, como toda a gente, está sujeito a doenças e a inevitabilidade e impossibilidade de determinação temporal da morte, não dão paz, tanto mais que ninguém nem nada pode garantir que o que se teme não possa acontecer.
Muitos tratamentos são tentados, desde administração de medicamentos, psicoterapia, acumpunctura, EMDR, etc. Penso que o passo decisivo no tratamento não consiste em eliminar os sintomas mas deixar de temer a morte. Por mais absurdo que isto possa parecer, tal como em todas as outras fobias o que se pretende atingir é pôr fim ao medo do objecto das mesmas, porque não pensar nos mesmos termos em relação à hipocondria?

sábado, 21 de novembro de 2009

Stress e Distress


Hans Selye (1936) definia o stress como “Qualquer adaptação requerida à pessoa, isto é, reacção não específica a qualquer exigência de adaptação”.

O stress é fundamental para a nossa sobrevivência. Em pequenas quantidades é positivo, pois permite-nos mantermo-nos interessados pela vida e enfrentarmos desafios. Contudo em quantidades elevadas diminui as capacidades normais do indivíduo e tensão associada

apresenta-se a níveis demasiado desconfortáveis. Quase toda a gente já ouviu falar de stress. Ele faz parte do nosso dia-a-dia e quem não o sentiu já de vez em quando?

A forma como se fala do stress nas sociedades modernas ocidentais, faz pressupor que se trata de algo recente, mas é algo com o qual convivemos desde o tempo em que vivíamos nas árvores. O psiquiatra João Vasconcelos Vilas-Boas afirma que “o stress é sempre uma resposta emocional a uma situação de risco, resposta essa que pode ser adequada ou desadequada”. O mesmo psiquiatra refere ainda que o stress “não é uma doença mas um sintoma ou conjunto de sintomas”.

O que se está a passar hoje em dia na nossa sociedade é que estamos rodeados de “indutores” de stress, estamos a acelerar as nossas vidas de forma a responder às exigências externas, mas também internas, pois muitas vezes impomos metas e objectivos a nós próprios demasiado severos.

O stress afecta a percepção, o sistema nervoso, o equilíbrio hormonal, o sistema cardiovascular, o

sistema digestivo e o respiratório, o trato urogenital e o sistema imunológico. Aquele normalmente designado como "mau" é o chamado "distress" que aparece quando o organismo não sabe adaptar-se a uma nova situação e responde de forma desmesurada ao estímulo que essa situação provoca. Neste caso o indivíduo fica incapaz de pensar e de se concentrar e mesmo quando o estímulo acaba o corpo não sabe como voltar ao estado normal. (Departamento de Engenharia Informática Universidade de Coimbra, Stress Comunicação Técnica Profissional, Luis Fernando Lopes).

O stress não surge de um momento para o outro. Existem três fases:

- Fase se alarme, em que, perante uma nova situação que se impõe ao indivíduo O cerebro recebe e analisa os estimulos que lhe chegam dos sentidos e compara com a informação que já

tem armazenada. Se julga não ter os recursos suficientes para lhe fazer face, envia um sinal de alarme que vai libertar hormonas como a adrenalina e o cortisol, que faz aumentar o batimento cardíaco, dilatam as pupilas, os músculos ficam tensos, etc, tentando preparar o corpo para o perigo eminente;

- Fase de resistência, em que o organismo tenta a recuperação do organismo após o dequilíbrio inicial, consumindo desta forma mais energia, o que pode originar cansaço excessivo;

- Fase de esgotamento, ou seja, quando a resistência do corpo se esgota, quando o cansaço nos derrota. Aqui o stress passa a distress, ou seja, mau stress, que tem consequências nefastas para o organismo.

O distress provoca problemas a nível físico e psíquico. Pode provocar palpitações, desiquilíbrios hormonais, tensão muscular, tensão arterial alta, inquietação, dificuldades em pensar e tomar decisões, insónias, perda de concentração entre outras. Uma situação de stress mantida por muito tempo pode levar à morte e, segundo uma investigação da Faculdade de Medicina da Universidade de Washington pode provocar perda de neurónios. Contudo, relativamente a esta última questão o médico português Nuno Sousa provou no seu doutoramento que o stress crónico não conduz à morte dos neurónios, mas que o hipocampo apenas fica atofiado porque diminuem as sinapses (a comunicação entre os neurónios), conduzindo à reversibilidade da situação.

Sntomas de distress são vários, desde a tensão muscular, à pulsação elevada, a diarreias e indigestões, falta de desejo sexual, dificuldades em conciliar o sono. Variam de pessoa para pessoa.

Existem formas de aliviar o stress: fazer exercício físico, planear o dia-a-dia, ingerir comida mais saudável, tirar um tempo para si próprio, tentar dormir pelo menos oito horas, etc. Já agora uma boa notícia para os amantes de chocolate: comer perto de 30 gr de chocolate preto por dia reduz o nível de hormonas de stress!

O sress crónico, além do mal estar que provoca, pode evoluir para quadros trasntorno de ansiedade generalizada, depressão, ataques de pânico e levar a um aumento do risco de contrair infecções devido à quebra no sistema imunitario. Convém consultar um terapeuta nos casos mais graves.

Vale a pena ler o artigo pulbicado em http://www.fchampalimaud.org/images/uploads/Publico_July31_2009.pdf sobre stress e rotina.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

O Gato-Cão


Existe na localidade onde vive um gato-cão. Como mostra a fotografia, cinquenta por cento do pelo deste animal parece-se com o de um gato, enquanto os outros cinquenta parecem pertencer a um canídeo.

Ao vê-lo pela primeira vez, fiquei espantada, parecia-me uma aberração. Estava a cinco metros de mim e pude fotografá-lo. Achei que tinha encontrado um "tesouro" da natureza e até enviei por mail para alguns amigos.

Na altura pensei tratar-se de um gato vadio que passou por ali e seguiu o seu caminho, pois nunca mais lhe pûs a vista em cima. Passados cerca de dois meses, ao fazer jogging, passei por aquele local e vi-o. Estava à porta de uma das casas térreas de onde saiu uma senhora de muita idade, pegou no animal e levou-o para o interior do seu quintal, lançando-me um olhar reprovante pela minha atitude de curiosidade em relação ao bicho. É que eu aproximei-me dele e comecei a examinar o seu estranho pêlo.

Senti-me muito mal, pois de repente percebi o porquê daquele olhar. Reparei que o gato estava doente e o que quer que lhe tinha provocado aquela anomalia no pêlo não era certamente motivo de orgulho. É claro que ao animal não importava a minha curiosidade ou indiferença, mas a dona percebeu. Percebeu que o seu amado animal de estimação, só porque era diferente, era visto como uma aberração, provocava exclamações aos transuentes e era até objecto de registo fotográfico. Pensei que a situação não seria diferente se se tratasse de uma pessoa. De repente imaginei-me no lugar do gato. Será que a situação seria idêntica? Será que as pessoas parariam para ver as minhas anormalidades físicas? Fiquei com imensa pena dele.

O ser humano tem tendência para fazer isto em relação ao seus iguais também. Seria eu capaz de o fazer? Não, não seria. Mas qual é a diferença então? Realmente não sei responder a esta pergunta, ou melhor, sei, era porque ainda não tinha parado para pensar. Aquele gato fêz-me acordar para uma realidade que ainda estava adormecida em mim: não julgues os outros pela aparência, nem mesmo um animal, pois não gostarias que te julgassem a ti. Se hoje coloco aqui a fotografia é apenas para que tenham a ideia do que estou a falar.

Naquele dia, voltei atrás e pedi desculpa à dona.

Lágrimas secas

Ver fonte da imagem   So me apetece chorar, mas as lágrimas não caem.... É um alívio quando elas escorrem pelo rosto, pois é uma forma de ex...

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