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sexta-feira, 17 de junho de 2011

País deprimido

O cidadão comum está apreensivo. Não sabe o que o espera, apenas sabe que terá que sofrer um bom bocado em nome das promessas dos governantes de que as medidas de austeridade vão inverter o sentido da crise. Mas, farto de apertar o cinto, de acreditar em mentiras e de assistir a cada dia que passa à degradação da economia e da sociedade, ele passou a desconfiar de tudo e de todos. Principalmente do futuro.

No imediato aumenta o desemprego, diminui o poder de compra, diminui a qualidade no ensino, na saúde, na justiça; não admira que a depressão bata à porta e atire para os consultórios de psiquiatras e psicólogos novos clientes mas mais pobres. Não há dinheiro nem para as consultas! A primeira, ainda vá que não vá, mas as seguintes.... E os medicamentos? A escolha entre pôr comida na boca dos filhos ou pagar a prestação da casa leva a que a uma dada altura eles fiquem na farmácia, depois de irem ao balcão, as caixas serem inspeccionadas e serem rejeitados com qualquer desculpa esfarrapada.
E assim o cidadão comum começa a andar irritado, aborrecido, melancólico. Por vezes enverga por caminhos um tanto ou quanto obscuros na tentativa de fazer atalhos para o seu objectivo final, outras procura esvaziar a cabeça virando a atenção para a folia e o futebol, outras ainda fica em casa indeciso entre o atirar-se da janela ou o emigrar para outra nação.
Pergunto se este cidadão é capaz de aumentar a sua produção, de forma a superar o défice. Espera-se dele o levantar Portugal do chão. Mas, como pode alguém levantar alguma coisa, se está a ser constantemente obrigado a se baixar?
Um país deprimido não vai a lado nenhum. A continuar assim, é melhor o estado tomar como prioridade a encomenda de altas quantidades de Prozac, não vá toda a gente começar andar de cabeça tão baixa que nem se aperceba que mudamos de governo...

domingo, 5 de junho de 2011

Despertar para a realidade

"Não me lembro quem foi
mas me convenceu
O mundo afinal é de todos,
não é só meu.
Foi um grito da alma,
foi um peso no olhar
Foi orgulho ferido
duro soluçar.
Deitei no chão frio
pra esfriar o coração,
mudei de nome e de morada
estava sem solução.
Me olhei no espelho e vi pedaços
feito vidro que eu quebrei
mas eram correntes, eram barreiras
que à minha volta eu criei
Foi duro, foi desespero,
acordar, ver meu espaço
ver que o mundo é de todos
e só nos cabe um pedaço
e agora não reclamo,
por fazer parte de um todo.
Pois por viver na realidade
sou feliz de qualquer modo..."
Anónimo

sábado, 2 de abril de 2011

Crise - Depressão Colectiva

A crise que Portugal vive (e o mundo), a crescente consciencialização por parte da população da prepotência dos líderes e seus amigos, o assalto aos bolsos dos cidadãos sem que ninguém saiba para quê, quando a única coisa onde vemos o governo aplicar esse dinheiro é nos megalómanos salários de alguns que pouco fazem, em carros de luxo, submarinos, TGVs e outros projectos que tais, faz com que o cidadão comum se veja numa situação tão precária que perdeu a confiança no futuro, não vê alternativas para sair da situação, enfim, anteveja cenários negros para os próximos tempos. Podemos dizer que a população portuguesa - falo da portuguesa porque é a que conheço melhor, mas muitos países haverão na mesma situação - se encontra numa Depressão Colectiva.

Depressão Colectiva, que é mais que a soma das depressões individuais de cada um de nós, é algo que tem unidade por si próprio, pois mesmo consegue-se ver, cheirar, sentir. Basta comparar-mos o sentimento global das pessoas de há dez anos com o das de agora. Aquilo que sentem no seu conjunto preenche os requisitos da "Depressão". É claro que isto tem consequências no nível de felicidade, auto-estima e perspectivas futuras. Se se vê à frente um futuro tão negro, como se pode andar por aí sorrindo hoje e fazendo planos para o amanhã? Os únicos planos que vemos as famílias fazerem é estabelecerem estratégias para reduzir ainda mais os custos, já que a diminuição dos ordenados e o desemprego não lhes permite pensar em aumentar as receitas. Mas reduzir os custos como? Quantos não entregaram já as suas casas ao banco, quantos estudantes não desistiram de estudar, quantos não deixam acentuar as doenças por falta de dinheiro para medicamentos, ou  mesmo para ir ao médico?

Penso que o que resta é uma crescente revolta interior, que, se se chegar a exteriorizar vai encher o país de manifestações, greves, revoluções que, apesar de ajudarem a descomprimir não nos dão pão para a boca. Tirar quem está no governo e por lá outros? Vai dar no mesmo, são todos farinha do mesmo saco, e prova disso são os níveis alarmantes das abstenções - assunto ao qual todos os políticos taparam os ouvidos, pois a todos dizia respeito.

Vamos esperar mais uns dias e arrastar-nos mais um pouco nesta "Depressão Colectiva" que apenas atinge quem não tem poder.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Curso de Autismo

"Caro Sr jornalista da TV Utopia,

Antes de mais deixe-me agradecer o prezado convite para responder à sua entrevista, embora que de forma indirecta, pois o tempo escasseia. Mas é para isso mesmo que existem os emails.

Como sabe, sou proprietário e director de uma escola de formação há meia dúzia de anos. A ideia surgiu quando fiquei desempregado e, aos cinquenta as hipóteses de encontrar um novo emprego eram quase nulas. Foi então que apresentei um projecto ao Centro de Emprego, ao abrigo de um programa de incentivo à criação do próprio emprego e recebi de uma só vez o subsídio de desemprego a que tinha direito. Pesquisei o mercado, procurando nichos pouco explorados e pareceu-me bem apostar nos Cursos de Personalidade. Criei o "Curso de Autista" e comecei a publicitá-lo. De imediato choveram telefonemas e emails de interessados pedindo informações. Fiquei bastante satisfeito durante os primeiros meses.

Respondendo mais concretamente à sua pergunta sobre o que era ensinado: trata-se de um curso de formação da personalidade. A maioria das pessoas está insatisfeita com a sua maneira de ser e têm intenção de mudar. Por isso são tão procurados os livros e cursos que ajudam a ter uma melhor relação consigo próprios e a desenvolver a auto-estima. Pensei em enveredar por essa área, contudo o mercado está demasiado saturado de ofertas. Eu queria algo mais inovador, algo que fosse ao encontro da sociedade moderna. Já tinha ouvido falar nos Cursos de Autista e apostei nisso.

As pessoas não querem comunicar. Querem passivamente ser compreendidas, mas não estão dispostas a emanar de si qualquer mensagem. Procuram viver num mundo interior, fechado para o exterior, com interacções mínimas com este, que não compreendem nem procuram compreender. É aqui que eu entro. Se é isto que procuram, é a consegui-lo que eu as ensino.

Se é fácil? Não é o mais difícil de ensinar. Nada melhor para assimilar uma aula que uma turma motivada. Ensino-lhes como usar auscultadores e música alta para se abstraírem de tudo ao seu redor, em como a forma como se usam as palavras, abusando de neologismos, palavras caras e outras cenas que tais, pode tornar as mensagens de tal forma encriptadas que se torna impossível entender pelo interlocutor. Ensino-lhes ainda como não compreender os outros. Esta é uma coisa muito simples, embora não pareça: basta que se cultive uma outra linguagem que apenas o próprio conhece e se ignore por completo aquela que é usual entre aqueles que nos rodeiam. Mas há um aspecto muito importante a ter em atenção neste ponto: estou a falar de TODO o tipo de linguagem, não só a verbal, também a corporal e mimética. Desta forma, atingem-se dois objectivos de uma só vez: não só não se é entendido, como também não se entende os outros.

O autismo não é só isto, a impossibilidade de comunicar, interagir com o mundo exterior não se limita a deformações na linguagem, qualquer que seja o seu tipo. Há que viver no seu próprio mundo, onde não entra mais ninguém. E o quê melhor para o conseguir que inventa-lo ou refugiar-se num alternativo que encontre desocupado por aí? Há-os muitos, desde os provocados por drogas aos que se regem por valores anti-sociais.

Se a crise que Portugal vive está a afectar a minha escola? Não, não sinto isso. Tem havido uma redução de formandos nos últimos anos, mas não creio que seja da crise, até porque os cursos em questão são reconhecidos pelo Ministério da Educação e financiados pela União Europeia e dão acesso a inúmeras profissões, principalmente dentro da classe política, apetecível a qualquer um pelo poder e  recompensas financeiras avantajadas a que têm acesso. O problema aqui é outro: o problema é que parece que já toda a gente sabe como ficar autista - e não estou a falar em tomar vacinas contra a gripe A - e como tal já não sentem necessidade de frequentar os meus cursos. A sociedade já os formou e eles aprendem depressa, para mal dos meus pecados. Tenho alunos com os quais é impossível comunicar. Não atingiram já estes o grau mais elevado de formação que posso chegar a atribuir?

Tenho também alguma dificuldade em contratar formadores. No início eram os governantes e membros das elites - alguns dos mais ilustres tiraram aqui o diploma! - a desempenhar esse papel. Agora estão demasiado ocupados ou incomunicáveis para que se apercebam que precisamos deles. Por isso recorremos a políticos da oposição.

Se me é permitido gostaria de fazer um apelo: se aspira a ser rico sem trabalhar muito, poderoso e imune à lei e viver à custa daqueles que se esforçam por ganhar o pão de cada dia, não hesite em inscrever-se. Lembre-se de que tem apoio do Estado! Venha crescer connosco e fixe os olhos em quem está no topo agora: eles também frequentaram um Curso de Autismo e passaram com distinção!"

Nota: este texto é unicamente humor negro, gostaria de explicar que tenho o maior carinho e compreensão para com as pessoas autistas e gostaria muito de poder ajuda-las, a elas e seus familiares, a eliminar ou contornar o problema.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Ansiedade e conflito emocional subjacente

Nem sempre a ansiedade é uma resposta de carácter adaptativo. Quando não causado por um desiquilibrio hormonal (ex. hipertiroidismo) ou alguma anormalidade química, quando não se consegue identificar a causa primária, pode significar a consequência de um conflito interno. Designa-se conflito o estado psicológico decorrente da situação em que a pessoa é motivada, ao mesmo tempo, para dois comportamentos incompatíveis. É necessário pois fazer uma escolha, tomar uma decisão a favor de apenas um deles, o que não é fácil. Aqui, a razão não é grande ajuda, se se tratar de assuntos pessoais, onde a emoção desajusta a balança da objectividade. Sabe-se também de antemão que a frustração se seguirá ao bloqueio da satisfação do comportamento não escolhido.
Normalmente o que está em jogo é o que se deve em oposição ao que se quer. Quer sejam ditadas pela sociedade, pela religião, pela lei, pela moral ou pelos costumes, os valores que o indivíduo considera correctos e portanto deve seguir, são impostos do exterior; porém, o que ele "quer", "gosta" ou que efectivamente satisfaria as suas reais necessidades não são os mesmos. A obrigatoriedade e/ou emergência de uma escolha, associada ao medo do sofrimento causado pelo desvio dos valores aceites, e a frustração de um desejo insatisfeito, é fonte de ansiedade. Não há aqui uma tentativa de adaptação não conseguida, mas unicamente um stress patológico derivado da luta interior, muitas vezes inconsciente, entre a razão e o coração.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Os vários tipos de ansiedade - Correlação com o medo

Apesar de muitas vezes enfiados no mesmo saco, os transtornos psicológicos ligados à ansiedade têm diferenças entre si, quer em termos de sintomas ou mesmo de tratamento. Assim, convém antes de mais perceber quais as principais diferenças.

  • Ataques de Pânico - São episódios de ansiedade extrema de curta duração, com sintomas físicos bem marcados, tais como taquicardia, falta de ar, síncope, tonturas, sudorese.
  • Fobias específicas - medos injustificados e exagerados de algo ou alguma situação em particular. As crises são desencadeadas pela presença do objecto ou situação ou pela sua previsão ou possibilidade de ocorrência.
  • Stress pós-traumático - ocorre na sequência de um acontecimento com uma carga emocional negativa muito intensa (ex. acidentes, guerras, etc). A pessoa vivencia essa situação vezes sem conta, é como se tratasse de uma fotografia impressa na memória factual e emocional que não desaparece com o tempo, como seria normal.
  • Ansiedade generalizada - os sintomas associados à ansiedade comum (não patológica ou normal) encontram-se exacerbados, prolongam-se por muito tempo e perturbam o normal funcionamento da vida do indivíduo, causando marcado sofrimento. O seu objecto é indefinido.


O que pretendo analisar aqui é a relação entre a ansiedade generalizada e o medo irracional. Este tipo de ansiedade parece evoluir de situações de stress intenso e pode ser desencadeado por algum acontecimento stressante, ao qual o indivíduo não se conseguiu adaptar. Há uma correlação mórbida entre os sintomas físicos e o evoluir do quadro. A insegurança típica dos estados ansiosos associada à persistência dos sintomas físicos leva ao desenvolvimento do medo. É certo que se suprimíssemos esta emoção não teríamos ansiedade. É importante verificar aqui a presença de uma outra emoção que é a angústia. Esta última intensifica o sofrimento psicológico. Cria-se portanto um efeito bola de neve, no qual ansiedade gera medo que gera angústia que gera novamente ansiedade e assim por diante. Não se sabe ao certo o que desencadeia o quê, apenas que é impossível dissociá-los.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

A importância do contacto físico

Numa altura em que cada vez mais a internet e o telemóvel substituem os encontros físicos, em que o trabalho e a escola afastam as famílias e em que a televisão as remete ao silêncio, mudou a forma como "contactamos" uns com os outros. O certo é que já há algum tempo isto vinha acontecendo, porém agora isso está-se a verificar de forma massificada e atingindo grupos etários cada vez mais jovens. Muda também, em consequência, a forma como nos contactamos fisicamente.
Há uma razão para que, em quase todas as culturas haja um tipo físico de cumprimento: um aperto de mão, dois beijinhos na cara, esfregar os narizes, até um beijo na boca. Este primeiro contacto aproxima as pessoas, é uma forma de empatia e de identificação, um sinal de paz que premissa algo de agradável ou pelo menos não ofensivo daí para a frente. É uma forma de dizer "venho em paz e espero que também venhas", "sê bem-vindo", "agrada-me ver-te".
Hoje em dia, além desses gestos iniciais - e muitas vezes nem esses - a maioria das pessoas passa grande parte das suas vidas sem mais nenhum contacto físico. Não há um toque, um abraço, um pegar na mão a um amigo, filho ou pai, irmãos... Entre os casais há sexo, muitas vezes consentido mas sem sentido, onde são o ímpeto animal ou o hábito a comandar, a embalar uma relação quase adormecida. O ser humano necessita de contacto. Necessita de um toque, de um abraço que preencha o vazio de afecto que a vida de hoje e o individualismo para que somos empurrados pela ausência de valores, instalaram. Então buscamo-lo em outros lugares: em relações amorosas fortuitas, em massagens, em animais de estimação, em violência... muitas vezes a violência nada mais é que a necessidade de contacto, a par com a de afecto, mesmo quando entre casais onde não existe falta de sexo. É um grito, uma forma de ter de alguma maneira o que não se tem de outra ou se não é capaz de dar.
É claro que isto não é válido para todas as situações, mas o certo é que um abraço entre um pai e um filho, amigos, etc, fortalece relações entre ambos e alimenta-os de conforto; mesmo uma simples palmada no ombro de um desconhecido pode significar, se não mais, que ainda somos suficientemente humanos para sermos dignos de que alguém nos tencione transferir afecto.

Lágrimas secas

Ver fonte da imagem   So me apetece chorar, mas as lágrimas não caem.... É um alívio quando elas escorrem pelo rosto, pois é uma forma de ex...

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