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terça-feira, 18 de outubro de 2011

Desmame - 2ª Semana

Esta semana tem sido estranha. Agora estou a fazer Cymbalta dia sim dois dias não. Não quero ser "rápida" demais, para não demorar ainda mais tempo.
A ansiedade subiu, bem como a taquicardia. A ansiedade anda de mãos dadas com um medo difuso, inexprimível... O véu que me mantinha numa zona de segurança em relação à realidade está a desaparecer. É tão mais evidente a falibilidade do corpo, a inevitabilidade do seu perecimento e a sua exposição ao sofrimento... 
Agora estou cada vez mais acordada. Acordar é doloroso, principalmente para quem não age, apenas deseja. Dentro do meu cérebro a confusão instala-se aos poucos. Não me consigo apoiar nem nas religião, nem na filosofia, nem na psicologia. Preciso de  uma tese minha que satisfaça os meus critérios de solidez. Começo a acreditar que o ser humano não é um ser nobre por natureza, antes de uma bondade volátil e uma tendência nativa para destruir e complicar, em nome do progresso e da sabedoria, da fé ou simplesmente da vontade. Qual é a natureza do ser humano? Qual é ao certo a minha própria natureza? Nós não temos um anjinho e um diabinho sentados em cada ombro, nós somos esse anjinho e esse diabinho: somos o melhor e simultâneamente o pior que a natureza concebeu.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Desmame - 1ª Semana

Após dois anos a tomar Cymbalta e depois de tanto chatear a minha terapeuta por causa do sono durante o dia, ela resolveu alterar a medicação, substituindo aquele medicamento pelo Elontril.
Devido aos efeitos severos da interrupção abrupta do Cymbalta - quem já tomou sabe que basta nos esquecermos um dia para começarmos a ter tonturas, enjoos, etc - , terei que fazer um desmame suave enquanto inicio o Elontril.
Uma vez deixei de tomar os comprimidos, porque simplesmente andava farta. Comecei a sentir-me muito mal, todos  os dias e durante mais de um mês. Fiquei próximo do abismo e então resolvi retomar. Melhorei logo. Desta vez, tenho medo que aconteça algo semelhante, pelo que estou receosa quanto ao desmame. Decidi então postar aqui como me vou sentindo e quais os efeitos que a sua falta me causa.
Desde o início da semana que estou a fazer um dia sim dia não. Tentei fazer uma tabela com várias variantes tais como pulsação, nível de ansiedade, frequência dos enjoos e tonturas, mas desisti ao fim de dois dias, pois ou esqueço-me ou não tenho tempo ou não tenho paciência.
O Cymbalta funciona como uma espécie de "aconchego" para o cérebro. Dá-nos uma sensação de segurança e auto-confiança, ao mesmo tempo que que nos sentimos "protegidos" por uma espécie de véu que nos separa das coisas menos agradáveis; notei um afastamento emocional em relação a tudo, não quero dizer com isto que ficasse fria, sem emoções, mas sim que as conseguia controlar, ser mais objectiva e racional. Com o tumulto emocional apaziguado tudo se tornava mais fácil, passei a viver mais no aqui e agora e a não temer o futuro; tornei-me muito mais espontânea e elástica em relação à forma como lidava com as outras pessoas em diferentes situações.
Porém, estou farta de medicamentos. Estou farta dos seus efeitos secundários - não conheço nenhum que não os tenha - e de me sentir dependente. Não sou diferente dos drogados que necessitam de uma dose de droga para se sentirem melhor, embora o seu desejo seja poderem sentir-se bem sem ela. A diferença é que esta é um droga legal e prescrita por especialistas, aceite pela sociedade (não a cem por cento, como já escrevi noutro post, mas isso é outra história...). Por tudo isto, eis-me aqui a tentar deixar a minha droga actual para entrar noutra cujo comportamento ainda não conheço. Ouvi dizer que é mais fraca, e isso já me deixa satisfeita.
Ao fim da primeira semana, depois de passar os últimos dias com náuseas, sono e fome como se não comesse nem dormisse à três meses. A realidade parece mais crua e fria, o que assusta. A luz do meu quarto, que é a mesma de sempre, parece devolver em 4D o interior da divisão, obrigando-me a tomar atenção a detalhes antes ignorados ou sem relevância; os sons estão mais estridentes, o ruído incomoda mais.
Vou dando notícias, o que significa ao mesmo tempo consciencializar-me do que se está a passar, verbalizar algo ajuda a lembrar e convém não esquecer estas experiências. Ajuda a conhecermo-nos a nós mesmos...

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Medo e ansiedade - principais diferenças

Se bem que correlacionados, e produzindo basicamente os mesmos sintomas perante um perigo real ou potencial, a ansiedade e o medo não são bem a mesma coisa. A principal diferença está na caracterização do perigo. Enquanto no medo ele é bem definido, já o não é no caso da ansiedade. A ameaça é algo difuso, sem contornos definidos, é mais "um sentimento de ameaça"; o medo por sua vez é uma emoção básica, uma resposta. Para se estar perante a ansiedade é necessário estar presente a imaginação. Sem ela este sentimento não existiria, pelo menos nunca atingiria os graus que se verificam no ser humano. 
É importante conhecer a distinção para melhor diagnosticar e tratar. Pensamento positivo, aumentar auto-confiança, poderão ajudar a diminuir a ansiedade; aprender a lutar contra o perigo que se anuncia pode ajudar a lidar com o medo. Diferentes abordagens, diferentes estratégias de acção.

domingo, 10 de julho de 2011

Ansiedade extrema - vivendo o futuro

A crise de ansiedade é uma experiência de terror extremo. O seu desencadeamento está ligado ao medo, desenvolvendo-se até ao seu máximo numa questão de pouquíssimos minutos, mas também se pode manifestar de forma espontânea (ataques de pânico). Os sintomas principais foram já referidos no post anterior.
Um aspecto extremamente importante a saber sobre o medo é que ele se refere sempre ao futuro. Não há medo no presente, ele é sempre antecipatório de algo ruim que poderá acontecer. Trata-se de representações mentais de potenciais acontecimentos aos quais se associam de imediato emoções intensas, muitas vezes até desajustadas. Estes pensamentos desencadeiam reacções físicas proporcionais, como se estivesse a acontecer naquele momento.
O pânico é o nível mais alto da ansiedade. Um artigo da Universidade de Londres publicado na revista "Science" revela que "durante um episódio de extrema ansiedade e pânico, a actividade do cérebro move.se do córtex pré-frontal para o periaquedutal, ou seja, da parte da frente para a parte do cérebro intermediário. Há um fluxo maior de sangue no sector do cérebro que está mais activo. A parte da frente do cérebro abriga a sua capacidade de raciocínio e tomada de decisão. Já o cérebro intermediário é onde se localizam os mecanismos de sobrevivência, como a luta ou fuga" (in http://www.sempanico.com/).
No auge da ansiedade ficam  bloqueadas as funções ligadas ao raciocínio, o que limita ainda mais a compreensão do que está acontecendo. Há uma desadequação de emoções em relação ao perigo real ou potencial, pois que este ainda não se verificou, trata-se de uma antecipação mental de um (possível) momento futuro. Parece contudo indissociável do ser humano o viver em função do futuro ou do passado e não do presente (atenção que daqui a um segundo é futuro, embora muito próximo, nunca é presente). A imaginação é o segundo factor que permite gerar ansiedade: ela não se verificaria se não "visualizassemos" em nossa mente o que achamos que seguramente irá acontecer, acrescentando-lhe a carga emocional correspondente.

Imaginar é sentir, antecipar é sofrer antes do tempo. Viver o presente com as emoções adequadas aos acontecimentos presentes pode ser um remédio para nos livrarmos dos ataques de pânico e ansiedade extrema.




segunda-feira, 4 de julho de 2011

Medo extremo - Breve estudo do pânico

SINTOMAS DE UM ATAQUE DE PÂNICO
- Vertigens ou sensação de desmaio
- Tonturas, náuseas ou desconforto abdominal
- Calafrios ou ondas de calor
- Medo de morrer
- Medo de perder o controlo e enlouquecer
- Palpitações ou ritmo cardíaco acelerado
- Dor ou desconforto no peito
- Sensações de falta de ar ou afrontamentos
- Boca seca e sede
- Sentimento de confusão associado a pensamentos rápidos
- Contracções, tensões e espasmos musculares
- Dor de cabeça
- Sensação de irrealidade ou ideia de estar distante de si mesmo
- Terror, traduzido na sensação de que algo horrível está prestes a acontecer
(Retirado do site http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/nacional/actualidade/medo-levado-ao-extremo)

Na verdade, em qualquer definição de pânico, os sintomas associados são mais ou menos os mesmos. Porém, lê-los ou até associa-los a algo que já sentimos está longe de perceber o que realmente se está a passar.

Sabemos (ou imaginamos) que a morte é uma sequência de disfuncionamentos físicos do corpo, culminando com a impossibilidade do espírito, qualquer que seja o seu entendimento, viver dentro dele. Um período de terror atroz separa o corpo do espírito para sempre e o impele para o desconhecido, numa forma de matéria desconhecida.

Por vezes o medo de algo é tão grande, que leva ao pânico. O corpo e a mente descontrolam-se, a aflição toma o lugar da reacção própria do medo normal. O espírito, preso a um corpo físico e falível, susceptível a todas as dores, em vez de parar, alimenta o medo. O terror é permanente.

Num ataque de pânico experimentam-se alguns destes sentimentos, apesar de não haver perigo que justifique tal. Entra-se numa espiral de medo, pois imediatamente estes sintomas são associados à morte. O pânico gera um sofrimento esmagador, é bem real para quem o vive.

Numa  ataque de pânico, a confusão é tal que as ideias negativas se colam como um iman  ao próprio processo de medo. A incapacidade de racionalizar, de relativizar acontece porque algo debilitou o sistema "avaliador" da dimensão e eminência do perigo tornando-o demasiado "embriagado" para vir em nosso auxílio.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

País deprimido

O cidadão comum está apreensivo. Não sabe o que o espera, apenas sabe que terá que sofrer um bom bocado em nome das promessas dos governantes de que as medidas de austeridade vão inverter o sentido da crise. Mas, farto de apertar o cinto, de acreditar em mentiras e de assistir a cada dia que passa à degradação da economia e da sociedade, ele passou a desconfiar de tudo e de todos. Principalmente do futuro.

No imediato aumenta o desemprego, diminui o poder de compra, diminui a qualidade no ensino, na saúde, na justiça; não admira que a depressão bata à porta e atire para os consultórios de psiquiatras e psicólogos novos clientes mas mais pobres. Não há dinheiro nem para as consultas! A primeira, ainda vá que não vá, mas as seguintes.... E os medicamentos? A escolha entre pôr comida na boca dos filhos ou pagar a prestação da casa leva a que a uma dada altura eles fiquem na farmácia, depois de irem ao balcão, as caixas serem inspeccionadas e serem rejeitados com qualquer desculpa esfarrapada.
E assim o cidadão comum começa a andar irritado, aborrecido, melancólico. Por vezes enverga por caminhos um tanto ou quanto obscuros na tentativa de fazer atalhos para o seu objectivo final, outras procura esvaziar a cabeça virando a atenção para a folia e o futebol, outras ainda fica em casa indeciso entre o atirar-se da janela ou o emigrar para outra nação.
Pergunto se este cidadão é capaz de aumentar a sua produção, de forma a superar o défice. Espera-se dele o levantar Portugal do chão. Mas, como pode alguém levantar alguma coisa, se está a ser constantemente obrigado a se baixar?
Um país deprimido não vai a lado nenhum. A continuar assim, é melhor o estado tomar como prioridade a encomenda de altas quantidades de Prozac, não vá toda a gente começar andar de cabeça tão baixa que nem se aperceba que mudamos de governo...

domingo, 5 de junho de 2011

Despertar para a realidade

"Não me lembro quem foi
mas me convenceu
O mundo afinal é de todos,
não é só meu.
Foi um grito da alma,
foi um peso no olhar
Foi orgulho ferido
duro soluçar.
Deitei no chão frio
pra esfriar o coração,
mudei de nome e de morada
estava sem solução.
Me olhei no espelho e vi pedaços
feito vidro que eu quebrei
mas eram correntes, eram barreiras
que à minha volta eu criei
Foi duro, foi desespero,
acordar, ver meu espaço
ver que o mundo é de todos
e só nos cabe um pedaço
e agora não reclamo,
por fazer parte de um todo.
Pois por viver na realidade
sou feliz de qualquer modo..."
Anónimo

Lágrimas secas

Ver fonte da imagem   So me apetece chorar, mas as lágrimas não caem.... É um alívio quando elas escorrem pelo rosto, pois é uma forma de ex...

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