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sábado, 24 de março de 2012

Portugal nú e cru - a espada do desemprego em cima das nossas cabeças

Mais do que parece, Portugal está um caos, principalmente a nível social e psicológico. De dia para dia se agravam as condições económicas das famílias, a violência e a insegurança quanto ao futuro. É quase impossível estabelecer um plano de vida com base em objectivos definidos, pois não sabemos se teremos emprego amanhã, se teremos leis absurdas que nos obriguem a desviar desse plano ou mesmo se o país não entrará em bancarrota. 
Perante esta realidade, só se pode dar ao luxo de ficar alheio quem tem muito dinheiro em bancos estrangeiros ou em offshores. No espaço de menos de uma década, a "classe média" vive nas mesmas condições e com as mesmas dificuldades da "classe baixa", mesmo quando não é atingida pelo desemprego: a precariedade no trabalho e sobretudo a chantagem dos empregadores sobre os empregados (efectivos ou potenciais), obriga-os a aceitar salários miseráveis, horas extra sem conta nem registo, muito menos remuneração, atitudes prepotentes e arrogantes e retaliações sempre que o empregado exigir os seus direitos, ou simplesmente manifestar a sua discordância em não os usufruir. 
Esta realidade escondida, com a espada do desemprego sob a cabeça, faz com que muitas pessoas vivam constantemente ansiosas e, perante a injustiça e falta de condições de vida, entrem em depressão. No entanto, mesmo que necessitem de ajuda, não podem ir ao médico: não têm dinheiro para as consultas ou elevadas taxas moderadoras e não podem faltar ao trabalho. Faltar, mesmo por doença, é encarado como um abuso, como se o empregado adoecesse propositadamente para prejudicar o patrão, mesmo quando não há dúvidas quanto à veracidade dessa doença. 
Assim, as idas ao médico só se efectuam em último remédio. Outro aspecto que tenho que abordar aqui é a prevenção: há situações em que os empregados são impedidos (ou controlados) de ir à casa de banho quando têm vontade de urinar, o que origina problemas no trato urinário; muitas vezes têm que trabalhar à hora de almoço, comendo qualquer coisa rápida enquanto teclam no computador, não comendo assim nem em ambiente saudável e relaxado, nem o tipo de comida que seria desejável. 
Nas empresas com poucos empregados, a situação é muito pior do que nas outras: há um controlo directo e permanente que causa ansiedade e tensão só por si. Para além disso, o simples falar nos factos que mencionei no parágrafo anterior dão direito a não renovação de contratos ou, o que acontece mais frequentemente, retaliações (humilhando-o, baixando-o de categoria, obrigando-o a fazer tarefas que nada têm a ver com a função para a qual foram contratados), com o objectivo de obrigar o empregado a ser ele a rescindir o contrato de trabalho, evitando assim os custos que as empresas teriam no caso inverso.
Todos sabem disto, ou porque o sentem na pele ou porque conhecem alguém a quem já aconteceu algo semelhante. Existem meios de defesa para eles, como recorrerem ao ACT (antiga inspecção do trabalho) ou ao sindicato (muitas empresas não admitem pessoas sindicalizadas!). Contudo, se o empregado já sofre retaliações por muito menos, imagine-se como conseguirá aguentar psicologicamente as consequências de uma inspecção do ACT! 
Em empresas com muitos empregados por vezes passa-se o mesmo, contudo é impossível controlar directamente tantas pessoas ao mesmo tempo e a situação é um pouco atenuada. Já quem tem o estado como empregador, pode exigir os seus direitos sem medo, fazer greves ou tomar outras atitudes sem ser imediatamente atingido.
Este cenário coloca os portugueses debaixo de fogo. Por um lado têm de "aceitar" a injustiça da fonte do seu ganha-pão, por outro têm que lidar com o facto de não estarem presentes para a família e verem-se confrontados por exemplo com a questão de quem vai buscar os filhos à escola ou quem os vai levar ao médico. Para além de tudo isto, a baixa do poder de compra faz com que sejam obrigados a baixar a qualidade de vida, muitas vezes para níveis abaixo da dignidade.
É possível não estar deprimido com tudo isto? É possível não estar angustiado quanto ao futuro? É possível ir trabalhar com motivação? É possível não se estar indignado com a forma como a classe política governou e está a governar este país, conduzindo-nos para um precipício e convidando-nos a emigrar? 
Pessoas não são objectos! Revolta-me a passividade com que os portugueses reagem a tudo isto. 

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Gritos de Silêncio

Por vezes é tão difícil expressar os nossos sentimentos! Principalmente quando somos obrigados a cala-los, quando as emoções se confundem e somos incapazes de as identificar, quando o silêncio e a solidão devoram as nossas vidas. Quando os lábios calam, a alma grita. Um grito ensurdecedor, de raiva, de tristeza, de vazio. A certeza de que ninguém se importa, a certeza de que eu não importo. Um blog que diz tanto do que eu sinto, é lido por anónimos: se algum meu conhecido na vida real ler estas palavras, que diga alguma coisa, que prove que estou errada.


Num país em decadência a nível económico e social, numa incerteza angustiante quanto ao futuro, vivendo com uma camisa de forças chamada estado, tentando contudo manter a cabeça erguida, alugando o meu cérebro dez horas por dia por um preço irrisório, pergunto: qual o objectivo? Para que raio me levanto todas as manhãs para ir trabalhar, para conseguir dinheiro que mal me chega para sobreviver, lutando contra um sistema virado do avesso que insiste em me mandar abaixo? Para que raio cumprir as leis que só visam tapar um buraco que não fui eu que abri, para as quais eu não passo de um mero instrumento? Para que raio tanto sacrifício para chegar ao fim do dia e enfrentar monstros ainda maiores como a solidão e a falta de amor? 


Todo o ser humano é uma península, mas alguns não passam de ilhas desertas.

sábado, 31 de dezembro de 2011

Desisti de jogar na lotaria

Esperar... Acreditar... Sonhar... Já apaguei há tempo estes verbos do meu dicionário. Aprendo depressa com o passado, crio anti-corpos suficientes para manter à distância todas as coisas pelas quais um dia esperei, acreditei, sonhei. A verdade é que criavam uma ilusão de felicidade, funcionavam como uma droga, iludindo a dureza do presente, proporcionando um bem-estar artificial. Não sou a favor das drogas. Então, para quê continuar a teimar no mesmo, dia após dia, frustração atrás de frustração? Dei comigo a chamar-me estúpida por estar a sustentar aquilo que me fazia sofrer.
Não tomei a decisão de o fazer. Aos poucos, as experiências da vida fizeram-no por mim. Não quero voltar a sofrer decepções, aliás, neste momento já estou decepcionada o bastante para notar algum incremento; não quero voltar a cair desamparada por ter sonhado alto, embora alto para mim seja pouco mais que o nível de sobrevivência; não quero viver continuamente na ansiedade de aguardar as mudanças, as pessoas, os momentos, que nunca chegam.
É claro que o que faz avançar a vida, o que lhe dá sentido é mesmo acreditar, esperar, sonhar... mas eu não consigo jogar todas as semanas na lotaria e ao fim de quarenta anos sem ganhar um prémio acreditar que irei algum dia ganhá-la. Por isso parei de jogar. Assim é com a vida: há um dia em que simplesmente deixamos de jogar...

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Raiva

Para a maioria das pessoas o dia tem 24 horas; para mim tem 1440 minutos. Por que raio tenho que me sentir tão mal? Chega uma altura em que o que sinto é raiva. Raiva, porque a fase da auto-piedade já passou. Essa fase é dura, mas tem um certo romantismo. A raiva chega quando ele desaparece, quando se desce à terra, ao presente e nos confrontamos com a nudez e frieza dos factos; antecede uma organização qualquer, é uma fase de transição. Porém, não significa que esta "organização" seja sinónimo de harmonia. Nesta fase a paciência é coisa que não tem lugar, atribuímos as culpas a tudo o que nos rodeia, principalmente àqueles que nada fizeram para evitar que chegássemos a este ponto. 
Estou sozinha, mas disso eu sempre soube. O que dói aqui é assumir essa solidão, perceber que só posso contar comigo e nada mais. Por vezes a esperança não passa de uma tortura e chega de ser masoquista. Acreditar é um verbo que só a esperança sabe conjugar, não a razão. 
Hoje, no final de um dia de trabalho insuportável, onde a profissão "escrava" mais se enquadraria, eu só pedia: por favor, alguém me dê uma boa notícia!... Preciso de algo bom onde adormecer o pensamento e enfim ter um pouco de descanso.Mas não. Só uma fila interminável de trânsito por causa de obras de emergência que não foram feitas na devida altura, contornando caixotes do lixo a transbordar por causa das contenções nas despesas camarárias... a somar a isto tudo, a não resposta de todos os emails de pedido de ajuda que enviei nas duas semanas anteriores e o egoísmo da sociedade em que cada um apenas cuida do seu quintal - ou nem isso. Por todo o lado só vejo muros, erguidos sob pretextos como a falta de tempo ou dinheiro. Existe uma irritante padronização dos valores, uma incontornável regulação das vidas e uma estúpida e incontestada aderência das pessoas; vejo todos acorrentados a leis, a futilidades, à manipulação e poder dos líderes e os pés ao próprio nariz. Possível estar feliz? Só quem diz amém ao sistema, quem desvia as suas atenções para causas onde não seja requisito raciocinar. Os outros, sentem raiva.
Mas a minha é mais íntima, empolgada claro por todo o cenário que me rodeia. Não quero mais ser uma cobaia voluntária e pagante nas mãos de médicos, não posso sequer ser cobaia de mim própria, pois no dia seguinte tenho que conseguir levantar-me e ir trabalhar e fingir que está tudo bem, pois estar bem é uma condição exigida para manter o emprego. Que raio fazer? Continuar a sentir tonturas, náuseas, depressão? Pois, que remédio! As opções que se me oferecem não são muitas...
Só posso encontrar escape na raiva, esta raiva que é uma fase transitória, porém construtora de um caminho que não sei onde irá dar e, muito sinceramente tenho medo de saber.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Ansiedade é uma doença moderna?

Primeiro, não podemos dizer que a ansiedade é uma doença, é antes uma reacção instintiva natural. Contudo, transforma-se em doença se for exagerada quer na adequação à causa quer na sua duração.
O ser humano tem o seu timing para tudo: para dormir, comer, relaxar, fazer exercício, etc.. E é o corpo quem decide! Mas hoje em dia relegamos o corpo para segundo plano, exigimos que seja ele a adaptar-se ao que racionalmente decidimos. As responsabilidades, o emprego, os horários dos transportes e o omnipresente relógio impõem um ritmo artificial à nossa biologia. O que acontece é que o corpo não gosta! Ou melhor, não teve - nem terá, na sua breve existência - tempo para adaptar aos tempos modernos aquilo que a natureza levou milhares de anos a consolidar. Esta imposição é encarada de certa forma como uma ameaça, desencadeando naturalmente ansiedade; porém, o seu prolongamento transforma-a em patologia, a menos que consigamos dar ouvidos ao nosso corpo. 
Por esta razão, e atendendo ao acelerado ritmo dos tempos de agora em oposição aos de antigamente, muitas pessoas consideram a ansiedade uma doença dos tempos modernos. É claro que a ansiedade patológica sempre existiu, mas o número de casos não se compara e parecem continuar a aumentar exponencialmente.
Não somos super-pessoas, somos apenas pessoas. Convém não nos esquecermos disso.



quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Quem nos ouve?

Não é preciso chegar a notícia da jovem que se suicidou após ter enviado 144 pedidos de ajuda numa rede social para nos darmos conta de que vivemos numa bolha, intocáveis, escondidos por detrás das tecnologias, disfarçados com um nickname, num mundo virtual demais para ser compatível com a biologia de que somos feitos. Fomos nós que quisemos. Fomos nós, cada um de nós que pediu, porque é mais fácil, mais rápido, mais cómodo. Principalmente mais cómodo. 
Enquanto vemos os outros como simples nicknames, sem rosto, sem corpo, sem alma, não podemos sentir empatia, a intensidade das emoções é moderada por toda a tecnologia que permeia entre os intervenientes. O mundo virtual afasta-nos da realidade, até porque a maioria das pessoas não se dá a conhecer. Então temos quinhentos amigos no facebook, no twitter, no msn, etc, mas ninguém nos ouve. Porque ninguém nos vê como seres humanos mas sim como avatares. Como se a vida fosse um filme que se desenrola perante a nossa inactividade, os problemas são argumentos do mesmo e a vida, tal como ela é, é mera representação. 
Será que alguém acreditou naquela rapariga? Será que realmente lhe deram importância? Os amigos que ela julgava que tinha, não passavam de números.
Dá vontade de mandar um pontapé a toda esta tecnologia virtual e voltar ao básico, àquilo que é compatível com a nossa humanidade. Somos parte da natureza, tal como as plantas, os animais, as pedras, a espuma do mar... mas insistimos em nos afastar do que é constituído da mesma matéria-prima que nós, quer o façamos fisicamente, quer virtualizando as nossas vidas.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Desmame - 3ª Semana

Esta semana tem sido muito difícil. Estou a deixar vários dias entre cada toma e já me apercebi que são dias a mais. O Elontril parece não estar a contrabalançar a falta do Cymbalta. Tenho tido náusias, mal estar, tonturas e uma sensação constante de fraqueza, como se estivesse prestes a desmaiar de fome. Claro que fome não é de certeza, como como habitualmente. 
O pior tem sido ter que trabalhar neste estado e fingir que está tudo bem. Para os colegas mais perspicazes, "devo ter comido qualquer coisa estragada!". Nestas alturas todas as pessoas me parecem feitas de gelo, não que ache que deviam ter pena de mim, nem pensar, mas porque penso "por que raio se hão-de importar comigo? Sou apenas uma em sete mil milhões!". Quando relativizo assim compreendo que não sou o centro do universo. O meu mundo interior é só meu, está limitado pela pele do meu corpo; então e que tal limitar também o meu comportamento em conformidade?
Vivemos numa sociedade de aparências, onde se valoriza a saúde física, mental e emocional. São estas as características-modelo que ambicionamos possuir, logo, quando não estamos bem fazemos os possíveis para não o deixar transparecer. Aprendemos a representar e com o tempo tornamos-nos excelentes actores.
Tenho consciência de que sou uma péssima actriz, talvez porque durante demasiado tempo julguei que o correcto seria demonstrarmos abertamente o que sentíamos. Percebi mais tarde que quanto mais o fazia mais cultivava a auto-piedade e mais me expunha perante terceiros que, verdade seja dita, se estavam a lixar para as "pieguices" dos colegas de trabalho.
Assim, em dias como estes últimos, levanto a cabeça, caminho em frente, forço um sorriso que os músculos dos olhos não conseguem acompanhar e finjo que está tudo bem, até para mim mesma.
Mas não está. A cada passo que dou parece que vou cair, mexer os olhos provoca-me náuseas e falar e sorrir parece tirado a ferros. Malditos medicamentos, que até para me livrar deles tenho que sofrer...

Lágrimas secas

Ver fonte da imagem   So me apetece chorar, mas as lágrimas não caem.... É um alívio quando elas escorrem pelo rosto, pois é uma forma de ex...

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