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sábado, 16 de fevereiro de 2013

Carregando o seu cavalo?

A peça mais conhecida de Gil Vicente é sem dúvida o Auto da Barca do Inferno, mas sempre que penso neste autor, vem-me sempre à memória, em primeiro lugar, o Auto de Inês Pereira. Apesar de ter sido escrita no século XVI, aquilo que pretende ilustrar continua a ser sempre actual.
Voltemos ao século XXI para vermos a Inês Pereira que habita em cada um de nós. Naturalmente a ambição leva-nos a progredir ao nível do bem-estar pessoal. Porém, a forma como corremos atrás dela, pode-nos levar não ao objectivo pretendido, mas sim ao seu oposto. Quantas vezes optamos por soluções erradas no intuito de atingir os objectivos a que nos propomos? Às vezes, e se o fazemos de boa fé, o futuro revela-se diferente e afasta-nos deles, outras porém, e podemos pôr a mão na nossa própria consciência, sabemos que o caminho que estamos a seguir não é o melhor, o mais ético, o mais legal, etc., sabemos que os riscos são elevados e pomos por vezes a vida em jogo em prol de uma causa sem garantias de sucesso. Quando corre mal, lançamos as culpas ao destino ou à má sorte, esquecendo-nos que tudo o que temos ou somos em determinado momento, decorre de decisões tomadas por nós mesmos. Mas, mesmo quando não nos corre mal, por vezes somos tramados pela nossa essência: ambicionamos ser um atleta olímpico, quando não temos capacidades físicas para tal, ser ricos quando não sabemos administrar o dinheiro, ter um casamento feliz quando o que queremos é ser felizes sozinhos... 
Quanto ao caminho que escolhemos, temos ou não capacidade para o seguir, percorrê-lo leva-nos ao destino pretendido, queremos realmente suportar o esforço sabendo que existem outros caminhos, mais fáceis, nos levariam a um destino diferente, o qual afastamos de início por nos parecer inferior, menos nobre, inadequado para nós? Não queiramos ser aquele corredor de maratona que, após todo o esforço que despendeu para se colocar à frente dos seus concorrentes, ao cortar a meta cai esgotado e nem sequer consegue pegar na medalha... 
Inês Pereira casou com um nobre, desprezando o filho do lavrador, achando que o que realmente a faria feliz seria ter um marido culto, bonito, astuto; porém, a vida mostra-lhe que esta não foi a sua melhor escolha, pois foi trancada em casa, vigiada e impedida de sair à rua. Numa segunda tentativa de refazer a sua vida, após a morte do primeiro marido, ela escolhe o filho do lavrador. Apesar de não corresponder às suas expectativas de se casar com "príncipe", a sua vida passou a ser melhor que a que tinha anteriormente, pois ganhou a liberdade de fazer o que bem lhe apetecesse e o marido ainda a ajudava nesse propósito (embora sem ter consciência do que estava a fazer).
O moral desta história é "Mais vale burro que me carregue, que cavalo que me derrube!", algo que tantas vezes esquecemos quando fazemos as nossas escolhas, e que por vezes só nos damos conta depois de termos desperdiçado tanto tempo das nossas vidas.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Proteína GATA1 vs. Desporto Cerebral

É do senso comum que o stress e a depressão afectam o sistema que garante o bom funcionamento mental.  Um estudo americano (fonte: Daily Mail) veio concluir que a depressão grave e o stress crónico bloqueiam a formação de novas conexões nervosas. Estas conexões não são estáticas, formam-se e extinguem-se consoante a "necessidade" do seu uso. Segundo este estudo, em indivíduos deprimidos alguns dos genes envolvidos na construção das sinapses (pontos de conexão entre células cerebrais) apresentam-se suprimidos, condicionando a capacidade de concentração e memória, bem como o comportamento emocional. A supressão destes genes levaria a uma retracção do córtex pré-frontal, bloqueando a formação de novas conexões sinápticas entre os neurónios. O "suspeito" é uma proteína que se liga ao ADN denominada GATA1, uma espécie de interruptor genético. A activação desta proteína levaria à interrupção dos circuitos envolvidos na cognição (Ronald Duman in Natural Medicine), ao reprimir a expressão de alguns genes necessários para tal processo. Estudos em animais mostraram que a sua activação induziria a depressão. Para já a aposta está em assegurar e reforçar as conexões entre as células cerebrais.
Pode ser esta proteína a responsável, mas não podemos esquecer os efeitos da neuroplasticidade, ou seja, a capacidade das conexões neuronais se alterarem durante a vida. Esta plasticidade manifesta-se de três formas: morfológica ou anatómica, funcional (alterações de fisiologia neuronal) e comportamental (aprendizagem e memória).
Para melhor exemplificar a neuroplasticidade, imaginemos uma árvore. Do seu tronco nascem ramos, desses ramos outros ramos e assim por diante; se uns ramos se partirem, outros poderão nascer em seu lugar e normalmente crescem mais ramos onde as condições ambientais são mais favoráveis. Tal como uma árvore, o sistema nervoso regenera-se e desenvolve-se onde houver mais oferta de alimento, ou seja, onde houver mais actividade. Por esta lógica, uma pessoa com um estilo de vida feliz e bem disposta, desenvolverá sinapses em áreas do cérebro ligadas a essas emoções, enquanto pessoas depressivas e tristes as desenvolverão em áreas do cérebro a elas ligadas. Também é caso para dizer que a persistência em determinados estados emocionais leva a que as áreas do cérebro a eles ligadas se desenvolvam mais em detrimento de outras, criando assim um efeito "bola de neve", que só pode ser revertido na ocorrência e persistência de outros estados emocionais, de forma a contrabalançar o desenvolvimento de sinapses. No cérebro, como na vida, o que não é utilizado tende a desaparecer ou enfraquecer.


sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Dezembro e os amigos

Detesto o mês de Dezembro. Eu sei, é o mês do Natal, da passagem de ano... mas por vezes sobrepõem-se as memórias ao que de bonito tem esta época. É um mês de reflexão, talvez por ser o último mês do ano. E tudo passa diante dos meus olhos como se fosse um filme, onde eu sou a única espectadora. E nesse filme eu estou sempre sozinha. Como as estações dos comboios, que ficam sempre no mesmo lugar vendo os comboios que chegam mas que sabem que partem. 
As pessoas não são boas na sua essência. Querem ser, procuram formas de se comportar como tal, argumentos para quando o não são. Eu, como pessoa, admito-o. Mas sempre o fiz. Mas outros há que apenas procuram exorcisar a culpa, como se não fosse isso o resultado da luta entre a sua consciência e a forma como se comportam; outros há que tratam as pessoas como se fossem objectos, como se se tratassem de um carro, por exemplo. Quando o adquirimos, usamo-lo, cuidamos dele, até nos preocupamos com ele. Mas depois de o vendermos, quem é que se preocupa se o novo dono o trata bem, se está numa garagem ou foi transformado em sucata? Só que as pessoas não são carros. Não podem passar pelas vidas de outras e simplesmente serem tratadas como tal. Porque a ser assim, essas pessoas só mostram que nunca sentiram ao menos amizade pelas outras, pois a amizade não desvanece com o tempo nem com a distância, sempre nos preocupamos com os amigos.
Se calhar é por isso que não gosto deste mês. É aquele em que as pessoas desejam boas festas, bom ano, ligam quando nunca ligaram o resto do ano... é um mês estranho. Respostas aprendidas! Por um mês, parece que se é o que se quer ser, não o que se é na verdade.

domingo, 2 de dezembro de 2012

A importância dos Animais de Estimação

 Eu tenho um gato; a vizinha da frente tem um caniche; a de cima tem um papagaio (que não se cala!); o meu melhor amigo tem um lagarto... Porquê esta tendência do ser humano para ter animais de estimação? Podem haver várias respostas:
- para não se sentirem sozinhos;
- para sentir o poder de dominar;
- para terem com que se ocupar (e preocupar);
- para sentirem que são realmente seres humanos.

Não somos todos iguais. Muitos daqueles que têm animais de estimação dizem tê-los por uma questão de companhia. Esta realidade, embora exista de facto, mascara muitas vezes a verdadeira razão pela qual adoptamos aqueles bichos que nos cativam, com os quais criamos uma certa empatia. 

Qualquer que seja o animal que escolhemos, este passa a ser nossa propriedade. Há à partida um sentimento de posse, algo nos pertence. Depois, esse animal passará a estar dependente de nós, a todos os níveis, desde o fornecimento de alimentação até aos cuidados de higiene e saúde. Temos algo com que nos ocupar, que preenche uma lacuna existente na nossa vida. Todos temos amor para dar. Quando não o conseguimos dar a um outro ser humano, resta-nos pelo menos a alternativa de o poder dar aos animais. Mas existe outra faceta menos nobre nesta questão: consideramo-nos superiores aos animais, somos os inteligentes, os bichinhos que estão debaixo da nossa alçada não passam de instrumentos para nos sentirmos também poderosos: afinal de contas, dependem exclusivamente de nós, muitas vezes somos os únicos que sabemos da sua existência, podemos, se quizermos, matá-los, trancá-los num quarto escuro, dar-lhes comida fora de validade... Não vamos fazer isso, claro, mas sabemos que temos esse poder. Isto pode ser válido apenas para algumas pessoas, mas é de facto uma realidade. Quantos de nós não fomos já incomodar o gato para lhe fazer umas festinhas quando

o que ele mais quer é dormir, ou obrigamos o cão a tomar banho quando ele nem sequer molhar as patas lhe apetece? Depois há o facto de nos sentirmos mais humanos perto de um animal. Na medida em que continuamente nos comparamos com os outros, comparar-nos (fazemo-lo de forma inconsciente) com os nossos bichos faz-nos parecer maiores, superiores, inteligentes... Por vezes uma forma de nos sentirmos seres humanos não é caminhar entre os nossos iguais mas sim entre os animais.

É por todas estas razões, ainda que inconscientemente assim ajamos, que temos, precisamos, de um animal de estimação. Para as crianças é uma espécie de amigo com o qual evoluem no seu crescimento; para os adultos, a questão é outra: por vezes são a única companhia que têm ao longo dos dias que são sempre iguais, sempre cinzentos. São de extrema importância e devemos agradecer-lhes por tudo o que têm feito pela humanidade.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Solidão, a quanto obrigas!....

Este é um tema transversal a todas as classes, gerações e estados de saúde mental. É um fantasma tão assustador, que importa pensar em todas as pessoas que se sentem sós, na realidade por detrás do sentimento e perceber que as suas atitudes, embora à primeira vista desconcertantes aos nossos olhos, podem não passar de um acto de desespero. A solidão dói, pesa, e nem sempre existem formas disponíveis para nos livrarmos deste mal.
Que fazemos então, para atenuar este sofrimento?

Um americano de 20 anos de Nova Yorque, Jeff Ragsdale encontrou uma forma original para pôr fim à sua solidão, após o fim de um relacionamento em 2011: colocou o seu numero de telefone em panfletos de rua, com a mensagem: "liguem-me". Com esta forma inusitada angariou milhares de ligações de todo o mundo, acabando por transformar o seu conteúdo num livro intitulado "Jeff, One Lonely Guy". Jeff encontrou no telefone um canal de comunicação com um universo anónimo e o conselho que dá a quem se sente só é "ir atrás das pessoas". (fonte: http://www.saomiguelpoint.com.br/news/?noticia=12818)
Esta forma parece ser assustadora e apenas possível para alguém com uma dose de coragem excepcional. penso contudo que Jeff a utilizou como último recurso.           
    Senhora 60A Educada, boa apresentação, s/ família, c/ grandes dificuldades financeiras , angustiada pela solidão.Procura cav. livre que dê apoio, ajuda e companhia .Assunto de extrema sensibilidade. Sintra - 962404434. "
Este anúncio foi encontrado num jornal comum, e é exemplo de muitos outros que normalmente surgem neste e noutros meios de comunicação. A angústia, como a mesma senhora indica, move-a no sentido do encontro com outro ser humano, não importa que seja um desconhecido. A aposição do número de telefone ilustra bem esta ânsia.

Melinda Schmidt, uma norte-americana passa o dia a dar abraços na rua a quem não conhece, depois de se ter mudado para uma nova cidade na Carolina do Norte, sozinha. Foi esta a forma que encontrou para combater a solidão. Chamou-lhe "365 Days of Hugs". Em cada dia do ano esta mulher escolhe uma pessoa ao acaso e abraça-a, mantendo ainda na internet um blog sobre o tema, que já é considerado um sucesso.(fonte.http://www.ptjornal.com/201207189705/geral/insolito/norte-americana-passa-o-dia-a-dar-abracos-a-quem-nao-conhece.html  Pode ver o vídeo aqui: http://www.hooplaha.com/365-days-of-hugs/)

E você, cidadão comum, o que já fez para preencher esse vazio tão angustiante, que é a solidão? Conte-nos algumas coisas, verá que não será o único, por mais estranhas que lhe pareçam!


sexta-feira, 12 de outubro de 2012

As respostas aprendidas

É durante a nossa primeira infância que se forma a nossa personalidade, se define quem somos. Perante as situações que nos surgem no meio ambiente em que vivemos, normalmente a família, encontramos respostas para elas. Muitas delas são-nos ensinadas, outras aprendemos de modo inconsciente. Um acontecimento provoca sempre uma resposta. Por exemplo, se alguém nos oferece algo, agradecemos, se vamos a um funeral, mostramos tristeza, se nos pisam gritamos. Nem sempre  estas respostas são genuínas, podem ser representações, formas de agir socialmente aceitáveis e como membros que somos dessa mesma sociedade,  comportamos-nos como "devemos". Mas as respostas não são sempre verbais ou representadas, genuinamente ou não. 
Ensinam-nos a amar, a ser felizes, a ser obedientes, a ser criativos: maneiras de ser e sentimentos. Mas nós aprendemos muito mais do que aquilo que nos ensinam, aprendemos por nós próprios. Aprendemos que quando em crianças que quando estamos doentes os nossos pais nos dão a atenção que gostaríamos que nos dessem todos os dias. A resposta para esta necessidade de atenção é adoecer, não conscientemente, não representando, mas de verdade; tememos a separação dos pais, aprendemos a viver ansiosos e apreensivos, agindo de forma passiva, passando a dar mais importância aos desejos dos outros que aos nossos próprios. São inúmeras as situações para as quais criamos respostas inconscientes e que não esquecemos pela vida fora. São estas lições de vida auto-aprendidas que nos tornam as pessoas que somos, autónomos ou dependentes, tendencialmente tristes ou alegres, activos ou passivos, seguros ou inseguros.
Quem se preocupa com o que está a ensinar às crianças? Haverá muitos pais hoje em dia mais sensibilizados para esta questão, mas nem sempre assim é ou foi. Criam-se adultos com determinados comportamentos que não são mais do que respostas aprendidas. Nem sempre os entendemos, culpamos-os pela forma como reagem, chamamos-lhe cobardes, violentos, mosca-morta, etc. Pergunto muitas vezes se se voltasse atrás e os colocássemos, enquanto crianças, noutro ambiente, se eles seriam como são.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

10 de Outubro - Dia Mundial da Saúde Mental


 São cerca de  450 milhões de pessoas que em todo o mundo sofre de algum tipo de perturbação mental ou de conduta. Entre elas,  a depressão é a que maior percentagem ocupa, e é já considerada a maior causa de incapacidade, temporária ou permanente. Verificou-se ao longo das últimas décadas, principalmente no mundo ocidental, mudança de paradigma demasiado rápida para a qual não houve tempo para as pessoas se adaptarem. Quem apanhou o comboio, tudo bem, quem não o apanhou foi atropelado por ele. Estas mudanças ocorreram no sentido de aumentar as exigências e as preocupações: já não basta trabalhar, têm que se ser o melhor, mais produtivo, novos métodos de ensino preparam as crianças e os jovens para um mundo agressivo, onde o que têm que fazer é competir para sobreviver, ter saúde tornou-se quase uma moda. Portugal tem um Plano Nacional para a Saúde Mental. Mas só funciona quando as doenças já estão adquiridas. É um bom começo, mas o foco está no aspecto terapêutico, quando devia estar também no preventivo. Prevenir, parece se coisa com que ninguém está preocupado.

O Dia Mundial da Saúde Mental, que se comemora a 10 de Outubro, foi instituído justamente para que as pessoas tomem mais consciência da dimensão deste flagelo. O tema para este ano é "Depressão: uma crise global". Nesta altura em que tanto se fala de crise a todos os níveis, vinha mesmo a calhar. Por todo o país irão ser tomadas iniciativas como seminários, colóquios, entre outros de expressão mais lúdica.

Portugal tem um Plano Nacional para a Saúde Mental. Mas só funciona quando as doenças já estão adquiridas. É um bom começo, mas o foco está no aspecto terapêutico, quando devia estar também no preventivo. Prevenir, parece se coisa com que ninguém está preocupado.

Esperamos que não seja só neste dia que se reflicta sobre este tema. Ele está de tal forma presente na nossa sociedade que se calhar justificaria que se fizesse o mesmo nos outros 364



Lágrimas secas

Ver fonte da imagem   So me apetece chorar, mas as lágrimas não caem.... É um alívio quando elas escorrem pelo rosto, pois é uma forma de ex...

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