
Devido aos efeitos severos da interrupção abrupta do Cymbalta - quem já tomou sabe que basta nos esquecermos um dia para começarmos a ter tonturas, enjoos, etc - , terei que fazer um desmame suave enquanto inicio o Elontril.
Uma vez deixei de tomar os comprimidos, porque simplesmente andava farta. Comecei a sentir-me muito mal, todos os dias e durante mais de um mês. Fiquei próximo do abismo e então resolvi retomar. Melhorei logo. Desta vez, tenho medo que aconteça algo semelhante, pelo que estou receosa quanto ao desmame. Decidi então postar aqui como me vou sentindo e quais os efeitos que a sua falta me causa.
Desde o início da semana que estou a fazer um dia sim dia não. Tentei fazer uma tabela com várias variantes tais como pulsação, nível de ansiedade, frequência dos enjoos e tonturas, mas desisti ao fim de dois dias, pois ou esqueço-me ou não tenho tempo ou não tenho paciência.
O Cymbalta funciona como uma espécie de "aconchego" para o cérebro. Dá-nos uma sensação de segurança e auto-confiança, ao mesmo tempo que que nos sentimos "protegidos" por uma espécie de véu que nos separa das coisas menos agradáveis; notei um afastamento emocional em relação a tudo, não quero dizer com isto que ficasse fria, sem emoções, mas sim que as conseguia controlar, ser mais objectiva e racional. Com o tumulto emocional apaziguado tudo se tornava mais fácil, passei a viver mais no aqui e agora e a não temer o futuro; tornei-me muito mais espontânea e elástica em relação à forma como lidava com as outras pessoas em diferentes situações.
Porém, estou farta de medicamentos. Estou farta dos seus efeitos secundários - não conheço nenhum que não os tenha - e de me sentir dependente. Não sou diferente dos drogados que necessitam de uma dose de droga para se sentirem melhor, embora o seu desejo seja poderem sentir-se bem sem ela. A diferença é que esta é um droga legal e prescrita por especialistas, aceite pela sociedade (não a cem por cento, como já escrevi noutro post, mas isso é outra história...). Por tudo isto, eis-me aqui a tentar deixar a minha droga actual para entrar noutra cujo comportamento ainda não conheço. Ouvi dizer que é mais fraca, e isso já me deixa satisfeita.
Ao fim da primeira semana, depois de passar os últimos dias com náuseas, sono e fome como se não comesse nem dormisse à três meses. A realidade parece mais crua e fria, o que assusta. A luz do meu quarto, que é a mesma de sempre, parece devolver em 4D o interior da divisão, obrigando-me a tomar atenção a detalhes antes ignorados ou sem relevância; os sons estão mais estridentes, o ruído incomoda mais.
Vou dando notícias, o que significa ao mesmo tempo consciencializar-me do que se está a passar, verbalizar algo ajuda a lembrar e convém não esquecer estas experiências. Ajuda a conhecermo-nos a nós mesmos...