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domingo, 31 de maio de 2009

O hábito de sentir

Hoje aconteceu-me uma coisa estranha. Reparei que tinha um vale que me tinha sido oferecido no natal para descontar em compras que estava a terminar o seu prazo de validade. Decidi gastá-lo no supermercado, considerando-o como um bónus, que iria aumentar o meu dinheiro disponível para efectuar as minhas compras.

Entrei no estabelecimento pensando que poderia comprar produtos de melhor qualidade e ainda algo extra. Comecei a percorrer as prateleiras e a colocar no cesto as coisas de que necessitava. Quando estava quase no fim, ao pegar numa lata de cerveja apercebi-me, espantada, que apesar de o meu dinheiro disponível ser superior ao normal, inconscientemente fui levada a escolher exactamente os mesmos produtos que comprava anteriormente: os mais baratos, embora de marcas diferentes. O meu cabaz era pobre e sobrava-me ainda muito dinheiro para gastar. Fiquei frustrada, porém em vez de ir trocar os produtos decidi guardá-lo para futuras ocasiões.

Podemos fazer uma analogia entre os produtos do supermercado e as nossas emoções. O que se passou comigo hoje passa-se com cada um de nós relativamente ao que sente. Na verdade, ainda que a nossa vida tenha mudado, que tenhamos todas as razões para sermos felizes, estamos habituados a "escolher" as mesmas emoções negativas que em tempos mais difíceis. Quantas vezes nos foi dado um aumento de ordenado que há muito ambicionávamos ou encontramos a pessoa amada e damos por nós a experimentar o mesmo medo, a mesma raiva, o mesmo ódio? Isto deve-se ao hábito. O nosso cérebro habituou-se a criar sempre as mesmas sinapses, abriu e alargou os caminhos para as essas emoções, enquanto os que levam á alegria estão cheios de ervas e pedras, muitas vezes é difícil perceber que ali existiu em tempos uma estrada. É difícil mudar, bem tentamos mas voltamos ao mesmo. Ficamos frustrados e no fim, sobra-nos ainda tempo que podíamos gastar na emoção "alegria", mas decidimos guardá-lo para quando os filhos crescerem, quando tirar a carta, quando fôr rica...

Muitas pessoas confundem emoções com sentimentos. No dicionário Petit Robert encontramos a seguinte definição de emoção: "Estado afectivo intenso, caracterizado por uma brusca perturbação física e mental onde são abolidas, na presença de certos estímulos ou representações muito vivas, as reacções apropriadas de adaptação ao acontecimento". O Petit Larousse acrescenta ainda: "Perturbação passageira provocada pela alegria, a surpresa, o medo, etc". Isabelle Filiozat define-a como "um movimento em direcção ao exterior, um impulso que nasce no interior de nós próprios e que fala ao que nos rodeia, uma sensação que nos diz quem somos e nos coloca em relação com o mundo". Esta psiquiatra e escritora francesa diz-nos ainda que todos os seres humanos, indempendentemente da sua raça, sexo ou idade as vivem da mesma maneira.

Cada emoção dura apenas alguns segundos. Se dura horas, não é emoção mas humor. Quando dura semanas já não é humor mas perturbação afectiva. Em contrapartida os sentimentos são duradouros.

Ao contrário dos sentimentos que podem ser inúmeros, existem apenas cinco emoções de base, embora alguns entendidos na matéria conseguem distinguir algumas mais. São elas a cólera, o medo, a tristeza, a alegria e o desgosto. Podem acrescer a estas a culpabilidade, o desespero, a raiva, a inveja, o ciúme, a surpresa, a excitação, a ternura, o amor. As emoções são biológicas, pulsionais, enquanto os sentimentos são elaborações secundárias porque são mentalizadas. Os sentimentos prolongam-se no tempo e geram ou são alimentados por emoções.

Ter consciência das nossas emoções, saber distingui-las dos sentimentos e conseguir identificá-las é uma forma de levar o nosso cérebro a deparar-se com mais hipóteses na altura de "escolher". É preciso persistência para mudar hábitos tão profundamente enraízados. Eu diria mesmo que é preciso coragem. A maior parte das pessoas acomoda-se, passa uma vida inteira infeliz à espera de um milagre que lhes limpe as estradas que levam a emoções positivas para então poderem desfrutar da alegria.

sábado, 9 de maio de 2009

Feel the fear and do it anyway!

Susan Jeffers no seu livro "Feel the fear and do it anyway" (em português "Sentir o medo e avançar à mesma"), sustenta a tese de que o medo de qualquer coisa não é mais do que o medo de não a conseguirmos suportar. Se soubessemos que conseguiríamos suportar tudo o que nos possa acontecer na vida, não sentiríamos medo.

A palavra suportar leva a pensar em pessoas fortes, que conseguem vencer tudo e todos. Não é verdade. Neste contexto parece ter mais a ver com a inteligência em lidar com as situações do que com força. Se pensarmos bem, todos os nossos medos e receios têm subjacente a ideia de incapaciade. Por exemplo, quando alguém diz "Tenho medo de conduzir!", provavelmente não é de pegar num volante e manobrar um carro que estas pessoas receiam, nem sequer de sofrer um acidente por mais desagradável que isso seja: do que elas realmente têm medo é de não conseguir suportar as consequências de um possível acidente e os danos físicos e psicológicos que daí possam advir. O objecto do nosso medo é normalmente algo a cujas consequências damos demasiada importância, sentimo-nos impotentes para ultrapassar e a imaginação demasiado fértil leva a prever um futuro após demasiado aterrador e irreversível. Para algo de tais dimensões, não há manual ou conselho que nos valha. Sentimos que não controlamos os acontecimentos, porque não sabemos ou não podemos, e como tal não conseguimos lidar com eles.


O maior de todos os medos é o medo de ter medo. Mas não se baseia o medo já no próprio medo? Ou seja, se temos medo de ratos, não devemos antes pensar que aquilo que nos assusta realmente é o medo de não conseguir lidar com a sensação desagradável que nos causa a presença desses animais? Os objectos, os acontecimentos, as pessoas, não são causa de medo. A causa do medo é outro medo, o medo de não sabermos ou conseguirmos lidar com os nossos sentimentos e emoções. Mesmo a morte, que assusta quase toda a gente, é uma máscara para aquilo que realmente receamos. A possibilidade do fim da nossa existência física - e para muitas pessoas mais do que isso - leva a pensar no que foi a nossa vida, se a vivemos bem, se estamos a seguir o caminho certo, e provavelmente naquilo que haverá depois. Por um lado há que lidar com as nossas emoções e sentimentos (a frustração, a culpa, deixar assuntos inacabados, etc), e por outro enfrentar o desconhecido. A verdade é que não sabemos como lidar com estes dois assuntos. O nosso verdadeiro medo é o medo de não conseguirmos lidar com estes factos e não a própria morte. A partir do momento em que acreditamos que conseguimos enfrentar tudo o que nos apareça pela frente e de lidar com os nossos próprios sentimentos, a maioria dos nossos medos desaparecerá.


A ideia de valentia e coragem que temos de quem não tem medo por vezes pode estar totalmente errada. Por vezes quem não tem medo é porque não pensa, enterra a cabeça na areia ou não tem consciência das consequências dos factos. Há que estar consciente das consequências, do que nos espera no futuro. Porém, há que acreditar que aconteça o que acontecer, haveremos de saber lidar com a situação e ter fé em que a conseguimos superar.


sábado, 21 de março de 2009

O gancho do céu ou o efeito placebo


Era uma vez um patinho de nome Peninha que nascera junto de um lago tranquilo e sereno, juntamente com mais cinco irmãos. A mãe pata cuidou deles em terra desde que saíram dos ovos até terem mais algumas penas, levando-lhes grãos para se alimentarem e tudo o que demais precisavam. Certo dia, chegou a altura de os patinhos irem para a água e começarem a nadar, como acontece com todos os patos. Todos seguiram de imediato a mãe, abeiraram-se do lago e viram a sua imensidão e profundeza. A mãe explicou como se fazia e cinco deles não tiveram o menor receio e deslizaram suavemente atrás da progenitora, nadando alegremente. Porém, Peninha olhou para baixo e conseguiu ver o quanto fundo o lago era. Uma dúvida de imediato surgiu no seu íntimo:

- E se eu não conseguir nadar e me afundar? Vou-me afogar...

O seu coração começou a bater mais depressa, uma onda de ansiedade percorreu todo o seu corpo e recuou. Viu a sua mãe e os seus irmãos a afastarem-se e ficou na margem, angustiado.

Nos dias seguintes aconteceu o mesmo, e por mais que a mãe se esforçasse por lhe explicar todas as técnicas, ele pensava sempre na possibilidade de alguma delas falhar e ir parar ao fundo do lago. Até que a mãe, desolada, desistiu.

Um dia, ao passar pela margem, um velho pato viu Peninha muito triste a olhar para os seus irmãos que se afastavam nadando alegremente e perguntou qual a razão da sua tristeza.

- Tenho medo - respondeu - que me afunde e me afogue.

O velho começou a rir de tão grande disparate que acabara de ouvir. Depois parou de repente, ao lembrar-se dos vários medos que lhe tinham surgido ao longo da vida, alguns deles infundados, e calmamente disse a Peninha:

- Já sei como resolver o teu problema: o que tu precisas é de um gancho.

- Um gancho? - Perguntou, incrédulo Peninha.

- Sim, um gancho que te prenda ao céu enquanto nadas. Assim, terás sempre a certeza de que não te afundarás, pois o gancho impedir-te-há, pois está preso ao céu. - Pegou num galho que se encontrava próximo, virou-o ao contrário, fingiu que o enganchava no céu e entregou a ponta a Peninha. - Agora lança-te à água! Vai confiante, pois o gancho não te deixará afundar!

E assim fez o jovem pato. E ao contrário daquilo que imaginava, flutuou lindamente, aplicando as técnicas que a mãe lhe tinha ensinado, e segurando no ar o galho que o velho lhe tinha dado. É claro que todos acharam estranho, mas o pequeno pato estava tão confiante que nadava ainda melhor que todos os outros.

Certo dia enquanto nadava agarrado ao seu gancho do céu, passou uma cegonha e achou aquele pedaço de madeira ideal para construir o seu ninho. Assim, rasando as águas, tirou-o da mão de Peninha, mesmo no meio do lago. Este ficou tão surpreendido com a atitude da cegonha, que ficou alguns minutos a olhar para ela enquanto voava em direcção ao seu ninho. Quando regressou a si, apercebeu-se que estava a nadar sem suporte, ou seja, mesmo sem estar preso ao céu, conseguia nadar perfeitamente.

O velho, que observava tudo da margem apenas comentou:

- Ora não fosse eu o médico dos patos! O efeito placebo é mesmo muito poderoso!!

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

De que temos realmente medo?


Um dos testes que é feito a um recém-nascido para avaliar se se trata de uma criança normal é pegar nela e simular a queda. Se ele se assustar, é porque o é, se não mostrar reacção é porque tem algum problema. Isto quer dizer que o medo é biológico e já nasce connosco. Fomos programados para reagir perante o perigo, como qualquer animal de forma a preservarmos a nossa integridade física. Porém, enquanto seres humanos, vemos os perigos de uma forma muito mais abrangente, ou seja, não nos limitamos a ter medo daquilo que realmente nos ameaça no momento, mas conseguimos prever aquilo que contribui para a concretização desse perigo ou antever o momento em que determinado acontecimento tem probabilidades de ocorrer. Por vezes o nosso medo nada tem a ver com algo de real mas com meras probabilidades. Por exemplo, porque não tememos um assalto apenas quando alguém nos aponta uma arma e nos pede para lhe entregarmos a carteira, mas sim sempre que saímos à noite para zonas escuras e perigosas? Porque sabemos que é provável que aconteçam assaltos nessas horas nesses locais. Se não sairmos de casa não seremos assaltados nessas zonas. Mas então, e se ocorrer um sismo e a casa desabar? Deveremos ter medo de estar em casa também? O nosso medo está proporcionalmente relacionado com a probabilidade da ocorrência de determinado factor que fará perigar a nossa existência ou bem estar físico ou emocional. Isto, é o que geralmente acontece com a maioria das pessoas e pode considerar-se um medo saudável.

Temos medo porque somos perecíveis, porque sentimos dor. Por mais fundo que escavemos na causa última do porquê dos nossos medos, encontramos sempre a nossa existência terrena e a sua ameaça como pano de fundo. O medo é como o travão de um carro, ao lado do acelerador enquanto conduzimos a vida. Seria disparatado - impossível até - imaginar (pelo menos para já) um carro sem travão ou algo que o substitua, da mesma forma que uma viagem numa vida sem medo levaria a despistes ou acidentes graves em que se poderia sair muito magoado.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Dependências afectivas e emocionais


Viver uma vida inteira dentro de uma nuvem negra, além de nos impedir de desenvolver a nossa inteligência emocional, leva-nos a criar dependências. Não me refiro apenas a químicos, como o caso de medicamentos antidepressivos e outros ou estupefacientes, mas sim dependências emocionais e afectivas. Estas últimas surgem como forma de compensar o enorme sofrimento causado pelo imenso desgaste que é o confronto diário com a vida. Procura-se carinho, compreensão, alguém que cuide de nós. Não importa o preço que paguemos por isso. Por vezes o que recebemos são apenas migalhas, mas achamos que isso é melhor que nada e temos medo de arriscar algo melhor. O medo de perdermos o que temos supera a humilhação, o desespero supera o desejo. Outras vezes temos sorte e encontramos nas pessoas que nos estão próximas tudo o que necessitamos. Tudo, ou melhor, tudo o que é possível, porque é imenso o que necessitamos e ninguém consegue realmente satisfazer na íntegra essa necessidade. Em ambos os casos não deixamos de estar dependentes. Não saímos de casa dos pais, não terminamos uma relação que não está a dar certo, não nos afastamos daquele amigo que apenas nos vê como financiador dos seus projectos, etc. Ou não. Ou nem sequer somos capazes de ver que vivemos uma farsa e que o nosso estado de felicidade é arquitectado pela nossa mente e não é real. Porque manipulamos os nossos próprios valores em função da nossa dependência de forma a que o seu objecto nunca nos falte.

Mas o que acontece quando esse objecto nos falta um dia? Ninguém é eterno e muito menos está sempre disponível. A dependência passou a ser uma componente das nossas vidas como outra coisa qualquer. Quando o seu objecto desaparece fica um buraco, um vazio apto a capturar tudo o que está solto para se preencher. A ausência de algo em que concentrar a procura de apoio afectivo e emocional deixa-nos desesperados e, perante tal cenário cometem-se erros. Cai-se nas teias de curandeiros, seitas, de pessoas que oferecem milagres a troco de dinheiro ou favores; criam-se relações das quais saímos abusados, tentamos soluções fáceis para a angústia momentânea (droga, cutting, bulimia, etc). Ou tapamos esse buraco com outras dependências ou enfrentamos o vazio: o medo, a ansiedade, o desespero. É neste contexto que por vezes surgem as fobias, os ataques de pânico e outros transtornos.

Temos escolha? Será que todas as pessoas que viveram muito tempo na nuvem negra criaram dependências e se vêm confrontadas com estas situações em alguma altura das suas vidas? Algumas pessoas têm personalidades mais fortes que outras. Mas no fundo essas também não se deixam estar muito tempo dentro da nuvem.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Nuvem negra que não vai embora...

Por vezes a depressão não é apenas um episódio das nossas vidas para passar a ser a nossa vida. Todo o nosso quotidiano gira à volta dela, quer vivendo mergulhados nela, quer tentando evita-la. Ela passa a ser a nuvem negra que nos envolve ou que paira sobre nós a todo o instante e sentimo-nos incapazes de fugir porque ela nos persegue, pois nos pertence, é como um cão fiel que segue as pisadas do dono e mesmo que este o enxote volta a acompanha-lo na sua caminhada e aninha-se a seu lado na cama.


Ver o mundo através de uma densa nuvem cinzenta é perder a capacidade de ver a cores, é viver permanentemente na sombra. O Sol brilha algures lá no alto, ilumina tudo ao nosso redor, mas a nós não. E, habituados que estamos a viver na penumbra, se um raio de sol penetra na nossa nuvem, fere os nossos olhos, cega-nos de tal maneira que somos da mesma forma incapazes de ver as cores. Como dissipar então esta nuvem e deixar entrar o sol sem que os nossos olhos sejam afectados, de forma a conseguirmos ver o mundo da mesma forma que os outros o vêm? Ou seja, a cores?


A resposta a esta questão nada tem a ver com oftalmologia. O indivíduo dentro da nuvem sofre, vive mal, quase a chegar ao fim dos seus proprios limites. Mas de alguma forma aprendeu a criar mecanismos de sobrevivência. Dia após dia enfrenta guerras desmedidas com a própria vida, viver dói e é uma dor insuportável, respirar dói mas a biologia obriga à inalação de ar. A adaptação não foi fácil, levou meses, por vezes anos. Mas a maioria das pessoas que vive nestas condições está habituada a sofrer de muitas formas, provavelmente desde a infância. Nunca tiveram uma vida fácil. Sempre foram vítimas, nunca tiveram força psicológica suficiente para superar as enfermidades de que foram alvo. O único terreno que conhecem é o que pisam, o único ar que os seus pulmões respiraram é o que respiram. Por mais que lhes digam que o Paraíso é muito agradável, como podem acreditar? Alguns deles já experimentaram mil paraísos e voltaram à nuvem ao fim de tão pouco tempo, outros foram ao paraíso e não se adaptaram, enlouqueceram por lá. O paraíso para eles não passa de um conto de fadas que não deve passar disso mesmo. De um conto de fadas que se conta às crianças antes de adormecer.


"Eu quero tirar a Joana da nuvem e integra-la na vida normal. Quero que ela tenha um emprego normal, um namorado, um grupo de amigos, uma casa". Ouvi esta expressão de um psiquiatra uma vez. A Joana vivia em quartos alugados, não tinha mais que uma mala de roupa que não tinha qualquer prazer em renovar, vivia de biscates pois não conseguia manter um emprego por mais de um mês e não conseguia manter uma relação de amizade quanto mais um namorado. Parecia uma missão impossível. Este médico interveio com Joana da seguinte forma: procurou uma voluntária entre as suas ex-pacientes e encontrou uma (Simone) que se dispôs a oferecer a Joana a sua amizade. O facto de se tratar de uma pessoa extrovertida e com muitos amigos poderia auxiliar a jovem a encontrar um namorado e além do mais os conhecimentos que tinha a nível profissional poderiam possibilitar uma integração a esse nível. Com um aumento do montante do salário poderia depois encontrar um apartamento e deixar assim de viver em quartos alugados.


Este encontro entre as duas chegou a realizar-se, e Simone convidou Joana para ir a sua casa sempre que quisesse, apresentou-lhe os seus amigos e falou com um conhecido que lhe arranjou um estágio profissional. Porém, aquilo que parecia ser um dissipar da nuvem negra em que Joana estava imersa não deu qualquer resultado. O apoio de Simone foi excelente, mas cada passo no sentido da luz era para a outra tão difícil e tremido que a sociedade não estava preparada para tal. O patrão dispensou-a porque ela era insegura, os seus novos amigos nunca lhe telefonaram pois não foram cativados por alguém que, comentaram mais tarde, "não sabia sorrir" e um simpático e atraente rapaz que ficou cativado pela sua beleza, não conseguia ela ver nele nada de especial. Não importava que tudo mudasse ao redor de Joana, porque ela não conseguia sair de dentro da sua nuvem. Não sabia lidar com cores, nem sequer o nome delas. Há pois um longo processo de transformação/aprendizagem que tem que ocorrer ainda dentro da nuvem antes que a pessoa esteja apta a saltar cá para fora, caso contrário será fracasso atrás de fracasso e isso só contribui para que ela deseje voltar lá para dentro e não sair jamais. Se a pessoa sair sem estar preparada, cá fora não vai ter tolerância nem ajuda de ninguém. Dar os primeiros passos é tão difícil como pôr um bebé a caminhar lado a lado com uma multidão apressada. Ou é espezinhado ou fica para trás.


É por isso que quem está na nuvem permanece por vezes lá por muito tempo. A par disso, também conta um outro factor muito importante: o medo. Ter medo do desconhecido, medo da mudança. Por vezes temos medo de sentir novas emoções, mesmo que se trate das positivas. Somos cobardes demais para dar saltos no escuro, nem que sejam apenas saltos no ar. Isto acontece com todos nós, mas quando se vive em determinada situação por muito tempo, é mais difícil sair dela. Só o simples falto de pensar nisso gera ansiedade de tal forma intensa que para a apaziguar simplesmente eliminamos essa hipótese.


Lágrimas secas

Ver fonte da imagem   So me apetece chorar, mas as lágrimas não caem.... É um alívio quando elas escorrem pelo rosto, pois é uma forma de ex...

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