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domingo, 7 de novembro de 2010

Medo: vale a pena pensar nisto....

Quem já viveu muito, quem venceu na vida ou a quem a vida ensinou muito, deve ser escutado com muita atenção. Buscamos em livros, em médicos, na internet, etc, respostas para as nossas angústias, quando muitas vezes bastava lembrar as frases de algumas dessas pessoas.

Retirado da Wikiquote:
  • "A única coisa da qual devemos ter medo é do próprio medo".
- only thing we have to fear is fear itself
- Franklin D. Roosevelt discurso de posse (4 de Março de 1933)
  • "Tenho mais medo da mediocridade que da morte".
Bob Fosse
  • "Evitar a felicidade com medo que ela acabe é o melhor meio de ser infeliz. Coragem é resistência ao medo, domínio do medo, e não ausência do medo".
Mark Twain
  • "Só erra quem produz. Mas, só produz quem não tem medo de errar. As massas humanas mais perigosas são aquelas em cujas veias foi injetado o veneno do medo. Do medo da mudança".
Octavio Paz
  • "Podemos facilmente perdoar uma criança que tem medo do escuro; a real tragédia da vida é quando os homens têm medo da luz".
Platão
  • " Não é que eu tenha medo da morte. Eu apenas não quero estar lá quando isso acontecer".
Woody Allen
  • "O medo tem alguma utilidade, mas a covardia não. O medo é a maior das doenças, porque paralisa o corpo e a mente. Minha força está na solidão. Não tenho medo nem de chuvas tempestivas, nem de grandes ventanias soltas, pois eu também sou o escuro da noite".
Clarice Lispector
  • "A vida é maravilhosa se não se tem medo dela".
Charles Chaplin
  • " ...mas eu desconfio que a única pessoa livre, realmente livre, é a que não tem medo do ridículo".
Luis Fernando Verissimo
  • "O medo me fascina".
Senna, piloto Fórmula 1, em 1991
  • "O medo faz parte da vida da gente. Algumas pessoas não sabem como enfrentá-lo, outras - acho que estou entre elas - aprendem a conviver com ele e o encaram não como uma coisa negativa, mas como um sentimento de autopreservação".
Senna, em junho 1991
  • "(Quando foi perguntado se tinha medo da morte) Da morte, nunca tive medo. O que não quero é ficar aleijado. Disso sim, tenho um medo que me pelo".
Nelson Piquet, piloto de Fórma 1
  • "À medida que nos libertamos de nossos medos, nossa presença automaticamente liberta outros".
Harriet Rubin, em A Princesa - Maquiavel para Mulheres
  • "Você ganha forças, coragem e confiança, a cada experiência em que você enfrenta o medo. Você tem que fazer exatamente aquilo que acha que não consegue".
Eleanor Roosevelt
  • "Não tenho medo das tempestades porque sei como guiar meu navio".
- I'm not afraid of storms, for I'm learning how to sail my ship.
- "Little women‎" - página 258, Louisa May Alcott - BompaCrazy.com, 1955 - 412 páginas
  • "Quando patinamos no gelo fino nossa segurança está na velocidade".
Ralph Waldo Emerson
  • "No fundo sabemos que o outro lado de todo o medo é a liberdade".
Marilyn Ferguson
  • "Guarde seus medos para você mesmo, mas partilhe sua inspiração com todos".
- Keep your fears to yourself but share your courag e with others.
- Robert Louis Stevenson citado em "The Pennsylvania medical journal‎" - Vol. 10, Página 438, de Medical Society of the State of Pennsylvania - 1907
  • "Não tenho medo do amanhã porque já vi o passado e amo o dia de hoje".
- I am not afraid of tomorrow, for I have seen yesterday and I love today.
- William Allen White citado em "Peabody Journal of Education‎" - Página 88, de George Peabody College for Teachers - Publicado por George Peabody College for Teachers, 1923
  • "De todas as paixões, o medo é aquela que mais debilita o bom senso".
Jean Retz
  • "O medo é o pai da crença".
Olavo Bilac
  • "O que se opõe à fé e à esperança não é tanto a descrença e o ateísmo. Mas o medo e a inquietação."
Leonardo Boff
  • "Ao fim de uma vida preenchida pelo medo, o medo que mais apavora é a ausência de medo".
Zygmunt Bauman
  • "Toda a doença que se manifesta em nós vem do medo, e tudo que é de bom vem do amor."
- All the ill that is in us comes from fear, and all the good from love
- Martin Pippin in the Apple Orchard‎ - Página 195, de Eleanor Farjeon - Publicado por BiblioBazaar, LLC, 2008, ISBN 0554217171, 9780554217178 - 300 páginas
  • "Podemos escolher recuar em direção à segurança ou avançar em direção ao crescimento. A opção pelo crescimento tem que ser feita repetidas vezes. E o medo tem que ser superado a cada momento."
- One can choose to go back toward safety or forward toward growth. Growth must be chosen again and again; fear must be overcome again and again
- The Psychology of Science: A Reconnaissance‎, de Abraham Harold Maslow - Publicado por ReinventingYourself.com, 2004, ISBN 0976040239, 9780976040231
- la lâcheté, c'est de la peur consentie; et le courage n'est souvent que de la peur vaincue
- Nos filles et nos fils: scènes et études de famille‎ - Página 66, de Ernest Legouvé, Gabriel Jean B. Ernest W. Legouvé, Paul Philippoteaux - Publicado por Hetzel, 1878 - 346 páginas
  • "Ser corajoso é estar morto de medo e, mesmo assim, sobrecarregar-se de qualquer forma".
- Courage is being scared to death — but saddling up anyway.
- John Wayne citado em Invasions‎, de Dave Gardner - iUniverse, 2002, ISBN 0595260608, 9780595260607 - 200 páginas
- Liberty means responsibility. That is why most men dread it.
- Man and superman: a comedy and a philosophy - página 273, Bernard Shaw - Brentano's, 1903 - 244 páginas

Se eu tivesse que escolher uma destas frases, escolheria sem dúvida a de Zygmunt Bauman: "Ao fim de uma vida preenchida pelo medo, o medo que mais apavora é a ausência de medo". Será por isto que tantas pessoas vivem uma vida inteira de pleno sofrimento, sabotando as próprias hipóteses de felicidade?


quarta-feira, 3 de novembro de 2010

O desespero

Já há perto de três anos que relato a vários médicos os meus sintomas (ver post "Tensão em Demasia causa Sono"), observando sempre a mesma reacção: um encolher de ombros, ainda que apenas imaginado, traduzindo a sua incapacidade de fazer um diagnóstico correcto. Pergunto a mim mesma se serei única no mundo a tê-los. Normalmente receitam-me qualquer coisa. Qualquer coisa que nem sabem se preciso, apenas receitam qualquer coisa, com a esperança que actue como placebo. Há ainda aqueles que aproveitam a oportunidade para aprender e como tal transformam-me numa cobaia involuntária e sem o saber.
A resposta aos medicamentos pode-nos colocar numa posição muito vulnerável: pelos seus efeitos directos e secundários, pelo facto de provocarem alterações que sugerem diagnósticos nada apetecíveis, pelo simples facto de não nos levarem a lado nenhum e de nos estarem a fazer perder tempo.
Apesar de ser ainda jovem, a maioria dos medicamentos sugeridos estão associados ao tratamento da doença de Parkinson. Isso deixa-me triste, principalmente quando na farmácia me perguntam com ar complacente: "É para si? Ainda é tão jovem..."... Bom, isso também eu digo, apesar de saber que o que me está a ser receitado é apenas uma tentativa de combater os sintomas de algo que ainda não tem nome.
Está a tornar-se muito difícil trabalhar como me encontro. Não consigo conter os bocejos, o espreguiçar constante, a vontade incessante de me movimentar. Entre a demora de solução por parte dos clínicos e o frustrado avançar da minha carreira profissional, o sofrimento faz-me ansiar por respostas. Respostas que ninguém tem, respostas que quem as procura se encontra de repente num labirinto do qual não encontra a saída. Perante tal, meto eu mãos à obra. É para isso que servem a Internet e os livros. Gostava ao menos de encontrar alguém com os mesmos sintomas com quem pudesse trocar ideias. Até lá entrego-me à minha busca solitária. Mesmo que não encontre o que procuro, congratulo-me por tudo o que tenho aprendido durante o percurso.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

A superficialidade da vida quotidiana


Nunca a nossa vida se baseou tanto no princípio “Chiclet”. Assente no consumismo, toda a estrutura social está, como é óbvio, regulada pelo dinheiro. Por muito que os valores da família, amizade, liberdade, estejam no top das sondagens, a verdade é que os trocamos cada vez mais por dinheiro. Precisamos de tão pouco para viver. Contudo, temos uma casa com vários quartos, recheada de móveis e bibelots que nem sequer usamos, peças de roupa que não conseguimos rodar numa estação, etc. A posse tornou-se o mais estimado de todos os valores.

Aquilo que a maioria das pessoas não sabe e as restantes sabem mas não querem saber, é que a propriedade. Tudo aquilo que possuímos exige cuidado e dedicação, protecção, aos quais dedicamos a maioria do nosso tempo. Resta pouco para os amigos, para a família, enfim, para cultivar outros valores. Trata-se de uma prisão sem grades, onde somos simultaneamente presos e carcereiros. Adaptamo-nos a um estilo de vida superficial, virado para as aparências e iludimo-nos com elas; somos o que esperam que sejamos e não nós próprios; alimentamo-nos mais da imagem do que de comida; ajudamos a construir um mundo cada vez mais complexo, convencidos que isso nos facilita a vida. Mas não é bem assim. Estamos a erguer grades, a construir a nossa infelicidade. A nossa liberdade começa quando tomamos consciência que somos capazes de prescindir de tudo o que temos para abraçar outra vida, mais simples e menos dependente. Quando não sentirmos mais a necessidade de “ter”, “possuir”, encontramos verdadeiramente a felicidade. Que bom é poder partir, poder experimentar sensações, poder ser nós próprios! Mas para isso é preciso renunciar a tudo o que nos prende.


Um dia um velho estava numa cela, preso por vagabundagem. Frente a ele, um homem jovem lamentava-se pela falta de liberdade. O velho respondeu com um ar sereno e feliz:


- Quando um homem é verdadeiramente livre, não importa o lugar onde esteja: ele sentir-se-à sempre livre…

terça-feira, 20 de julho de 2010

Ansiedade Generalizada e Medo



No post anterior referi que a ansiedade é um fenómento normal que ocorre com todos nós e que tem como finalidade preparar-nos para enfrentar um perigo ou dificuldade que se avizinha. Mas quando as respostas de ansiedade se manifestam de forma causando sofrimento, deixam de exercer a sua função, passando a ser perturbadoras do funcionamento normal. A ansiedade patológica é elevada, faz o indivíduo ficar inibido e bloquear perante sitauções onde antes agia de forma natural. É característica da ansiedade uma apreensão sobre o futuro, que pode permanecer no tempo quando perigo real desaparece.

O medo e a ansiedade andam de mãos dadas. O medo é uma emoção que tem quase o mesmo propósito da ansiedade: preparar-nos para fugir ou agir de forma defensiva perante uma ameaça ,activando mecanismos no nosso corpo, como o acelerar do batimento cardíaco e a vigilância, por exemplo. Trata-se de uma reacção de alarme, quase imediata; a ansiedadeé dirigida ao futuro. Sabemos que o medo causa ansiedade. E será que a ansiedade causa medo?

A asniedade patológica pode descrever-se como um funcionamento incorrecto do nosso sistema do medo. O transtorno da ansiedade generalizada (TAG) diferencia-se das fobias (medo patológico relativamente a um objecto ou situação específica) dado que não está associada a nada em concreto. Apesar disso, toda a ansiedade tem como pano de fundo o medo.

A Ansiedade pode se manifestar em três níveis: neuroendócrino, visceral e de consciência. O nível neuroendócrino diz respeito aos efeitos da adrenalina, noradrenalina, glucagon, hormônio anti-diurético e cortisol. No plano visceral a Ansiedade corre por conta doSistema Nervoso Autônomo (SNA), o qual reage se excitando o organismo na reação de alarme (sistema simpáticoto) ou relaxando (sistema vagal) nas fase de esgotamento.

Cognitivamente a Ansiedade se manifesta por dois sentimentos desagradáveis:

1- através da consciência das sensações fisiológicas de sudorese, palpitação, inquietação e outros sintomas autossômicos (do sistema nervoso autônomo);

2- através da consciência de estar nervoso ou amedrontado.”

in http://virtualpsy.locaweb.com.br

Quando os factores que desencadeiam a ansiedade se mantêm por muito tempo (avaliação subjectiva), e o esforço adatativo é muito intenso, pode-se entrar na fase de esgotamento, como ilustrado no gráfico acima: trata-se da fakência dos recursos emocionais e fisiológicos, o que leva ao aparecimento de transtornos diversos, orgânicos, psíquicos ou emocionais.

No TAG o objecto do medo é muito vago e difuso. A sensação é intensa, mas não dirigida. Por essa razão, o individuo “procura” um objecto, acumula-os, muda de um para outro com facilidade. O medo vago passa a medo de tudo, a decadência no sentido do esgotamento antevê um cenário horrível e portanto gera ainda mais medo. O indivíduo perde o controlo, rompe com os seus mais íntimos valores, apenas pede ajuda sem conseguir estabelecer um plano, as suas ideias tornam-se obsessivas e desorganizadas… Bom, o melhor é evitar, inverter o sentido da curva do gráfico até que atinja novamente o estado “Óptimo”….

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Ansiedade Generalizada

Definição, caracteríscticas e diagnóstico

A ansiedade consiste na sensação decorrente de intensa excitação do sistema nervoso central face à identificação ou antecipação de algum perigo ou obstáculo potencial.

O Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG) consiste numa preocupação e ansiedade excessiva, tendo por base motivos injustificáveis ou desproporcionais ao grau de ansiedade observado, tendo em conta a frequência, a intensidade e a duração dos sintomas. Estes manifestam-se quase diáriamente, são contínuos e a sua duração é superior a seis meses. Distinguem-se da ansiedade normal e são tão extremos que se tornam difíceis de controlar e afectam a qualidade de vida do sujeito. De notar que a ansiedade só se torna

patogénica quando atinge estes níveis. Até aí ela é uma reacção normal e necessária, com fins adaptativos do indivíduo ao meio ambiente e à sociedade, restringe-se a uma determinada situação e, ainda que a gravidade e duração da situação seja extensa, há uma tendência do indivíduo de se adaptar a ela, diminuindo assim naturalmente o seu grau de desconforto.

Normalmente o tipo de preocupações são bastante normais e vulgares, que vão desde a situação financeira, profissional ou familiar. O foco mais comum destas preocupações costuma estar relacionado com a possibilidade de se adoecer com algo grave ou sofrer algum acidente. A constante atenção e vigilância face a esta possibilidade está também relacionada com o facto de se sentirem impotentes e incapazes de lidar com a situação perante a ocorrencia de tal facto. É frequente o indivíduo sentir inquietação, cansaço fácil, dificuldades de concentração, irritabilidade, tensão muscular e alterações do sono.

Para que estejamos perante o TAG é necessário que sejam afastados o diagnóstico de outros transtornos da ansiedade tais como a fobia social ou o pânico, entre outros, uso de substâncias ou doença física. O autodiagnóstico não é muito fiável, por mais informação que o se tenha sobre o tema, dado que os estados ansiosos alteram a percepção que o indivíduo tem de si mesmo ou do que lhe está a acontecer, comprometendo assim a sua imparcialidade, pelo que o indicado será a avaliação por um profissional de saúde especializado.

As características são (não exaustivas e variáveis de pessoa para pessoa em intensidade e frequência):

- Dificuldade para relaxar ou a sensação de que se está no limite do nervosismo;

- Cansaço fácil;

- Dificuldade de concentração e esquecimentos frequentes;

- Irritabilidade;

- Tensão muscular;

- Taquicardia;

- Espasmos e tremores;

- Hiperpneia (hiperventilação);

- Transtornos no sono (dificuldade para adormecer ou sono insatisfatório);

- Boca seca, pés húmidos, diarréia, náuseas, micção frequente, suor excessivo, sensação de bolo na garganta, etc.

- Desenvolvimento de fobias;

- Humor bastante instável;

- Marcado sofrimento e prejuízo no funcionamento pessoal do indivíduo.

Apesar da presença das características citadas, o diagnóstico é feito também por eliminação de outras causas que geram sintomas semelhantes (de nível físico ou mental), recorrendo por vezes, se necessário, a exames de laboratório.

Estatísticas

O TAG é mais frequente do que se imagina, atingindo cerca de 3 a 5% dos adultos em algum momento durante um ano. É ainda o tipo de transtorno da ansiedade mais comum. A prevalência nas mulheres é quase o dobro do que nos homens. Em termos de faixa etária, ele manifesta-se em qualquer idade, iniciando-se normalmente na infância ou adolescência,

atingindo um pico por volta dos 20, ou pelo contrário em idades mais avançadas embora a o avançar da idade tenda a diminuir as probabilidades de surgirem transtornos deste tipo. Há tendência para os sintomas piorarem após períodos naturais de stress.

O TAG costuma ser crónico, duradouro com pequenos períodos de remissão dos sintomas mas geralmente leva o paciente a sofrer com o estado de ansiedade elevado durante anos.

Tratamento

O primeiro passo para o tratamento do TAG é o indivíduo consciencializar-se de que tem um problema e manifestar interesse em tratar-se.

Os fármacos são o tratamento preferido para o TAG, nomeadamente os ansiolíticos ou tranquilizantes, tais como as benzodiazepinas e a buspirona. O uso de benzodiazepinas a longo prazo pode criar dependências ao contrário da buspirona, contudo as primeiras aliviam os sintomas quase imediatamente enquanto a segunda leva perto de duas semanas a surtir efeito.

Muitas vezes a ansiedade generalizada está associada a conflitos psicológicos subjacentes tais como insegurança ou auto-crítica nestes casos será útil coadjuvar a administração de fármacos com psicoterapia ou terapias cognitivo-comportamentais.

Tendo em conta a natureza dos fármacos citados acima, eles dirigem-se ao alívio específico dos sintomas. As benzodiazepinas promovem a relaxação física e mental, reduzindo assim a actividade nervosa do cérebro. Exemplos de benzodiazepinas: alprazolam, clordiazepóxido, diazepam, flurazepam, lorazepam, oxazepam, temazepam e triazolam, etc. A buspirona não pertence a essa classe de medicamentos. Não se sabe ao certo como actua,mas não provoca sedação nem interage com o álcool. Tem a desvantagem de levar cerca de duas semanas a actuar, sendo por isso recomendado em casos de perturbações da ansiedade de longa duração. Por vezes também são prescritos medicamentos antidepressivos tais como inibidores selectivos da recaptação de serotonina (exemplo: fluoxetina, fluvoxamina, paroxetina, sertralina), inibidores da monoaminooxidase (exemplo: fenelzina, tranilcipromina) e antidepressivos tricíclicos (exemplo: amitriptilina, amoxapina, clomipramina, imipramina, nortriptilina, protriptilina)

Para além do tratamento prescrito pelo especialista, ajuda praticar exercícios como yoga, caminhadas, meditação, enfim, tudo o que relaxe física e mentalmente o indivíduo.

Fontes:

http://www.gigamundo.com/2008/12/19/transtorno-da-ansiedade-generalizada/

http://www.psicosite.com.br/tra/ans/ansgeneralizada.htm

http://www.manualmerck.net/?id=109&cn=956

domingo, 31 de janeiro de 2010

Tensão em demasia causa sono


Desperto para um dia normal. O meu pulso está dentro dos limites que me são próprios. Nada de novo se avizinha. Apenas mais um dia de trabalho sentada à secretária, tentando descortinar em folhas de excel onde se encontra o erro que não se sabe se existe. É monótona a tarefa, é frio o ambiente. As salas individuais estão divididas ao longo de um enorme corredor que desemboca numa outra pouco utilizada, ao lado das casas de banho. A minha é a segunda. Todos são muito educados, todos nos cumprimentamos mutuamente e sempre que nos cruzamos sorrimos. Mas eu não pertenço ali. Apesar das aparências, não deixa de ser uma empresa onde cada um pensa apenas em si, onde cada um tenta fazer o seu trabalho o melhor possível e nem lhe passa pela cabeça perder tempo a ajudar o próximo.
A minha respiração começa a ser demasiado curta e torácica, a tensão acumula-se na nuca, atrás das orelhas e vai-se apoderando de todo o corpo. Mantenho-me quieta, tentando trabalhar. Mas o sono toma conta de mim. Deixo de ver o ecran e depois perco o raciocínio. Adormeço por meio segundo, tempo suficiente para a minha mente ir para outras paragens. Quando regressa, tem que se esforçar por encontrar o raciocínio anterior, para tentar concluir a pesquisa do erro. Mas mal o faz, volto a adormecer. Deixo de estar ali, por meio segundo, depois volto. Mantenho a cabeça erguida, apenas meus olhos denunciam o que está a acontecer: estão parados e baços, não reagem a estímulos. Pestanejo numa tentativa de recuperar a consciência. Mas de cada vez que isto acontece, mais me afasto da minha performance. A produtividade baixa, aumenta a sensação de mal estar. Os meus músculos parecem embebidos de electricidade. Querem movimentar-se, seja de que forma for. Relaxar é palavra que não conhecem. Faço força nas pernas e nos braços, espreguiço-me, bocejo, mas nada é suficiente. Todo o meu corpo, desde a planta dos pés até ao cimo da cabeça sofre do mesmo problema. Mesmo quieta, noto que os meus olhos estão esbugalhados. Os olhos também têm músculos, até esses se querem esticar. Não consigo ter paz.

Chego a casa e tento jantar. Demoro uma eternidade para o preparar. Não consigo raciocinar, a minha cabeça parece inchada, tenho um som estranho a ecoar nela, como se tivesse estado todo o dia exposta a um ruído intenso. Mas o único ruído que ouvi foi o silêncio. Tomo medicamentos, os que me apetecer no momento, pois a minha psiquiatra, como não entende, diz que só consegue ir lá por tentativas. Tentativas, experiências, também eu faço, e não tenho que pagar consultas e ouvir a frustrante e estúpida frase "O que é que quer que eu lhe faça?". Mas os medicamentos não ajudam. 9 mg de bromazepam deixam-me tão desperta como se bebesse um copo de água. Entretanto os meus músculos continuam na mesma, numa contínua excitação ultrapassa a da mente, que parece amorfa, e não me deixam dormir. Passo a noite num estado entre o sono e a vigília, algo que não é nada reparador para enfrentar o dia seguinte.

O sono diurno não é sono normal, é originado pela tensão. A psiquiatra não entende como tal é possível e propõe-me estimulantes. "Beba café!", diz ela. Café já eu bebo, se calhar mais do que devia. A ideia dela não é inédita, eu própria fiz a experiência. Não resultou. "Então dou-lhe calmantes, mas bromazepam 6 nunca, é muito elevado. Que tal alprazolan 0,25?". Esta tipa ou é surda ou parva. Será que não consegue perceber que se 9 mg de bromazepam não me fazem efeito, 0,25 de alprazolam seria placebo? Bom, decididamente tenho que fazer eu as minhas próprias experiências. Não sei mais o quê, estou a atingir os limites da minha paciência.

Bom, por agora vou tentar jantar. Que existe mais para eu tentar? Se alguém tiver alguma ideia, por favor diga, pois eu só sei que tenho que tenho que ficar bem.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Hipocondria

""Comecei com tonturas e com a sensação de desmaio. Primeiro julguei que fosse pela má alimentação, depois talvez um problema de ouvidos devido ao desequilíbrio. Passado pouco tempo comecei a pensar que tinha alguma doença terminal. Fui a uma médica que me disse que não tinha nada, que era tudo do sistema nervoso e stress. Claro que não acreditei", recorda Catarina, 26 anos, livreira. Os primeiros sinais de hipocondria surgiram depois de ter descoberto um gânglio inflamado na zona do maxilar, "fiz o que não se deve fazer - procurar justificações na Internet para algo que encontrei de diferente no meu corpo. Depois da minha pesquisa e de ter encontrado um monte de cancros e doenças terminais para justificar um simples gânglio inflamado, o meu pesadelo começou. Fiz uma ecografia que não acusou nada. No momento fiquei muito aliviada, "curada". Mas no dia seguinte voltou tudo e com mais força ainda. "E se o médico não viu bem e tenho qualquer coisa escondida?", lembra. Catarina não dormia, não aguentava nada no estômago nem nos intestinos. Sentia suores frios, o coração a querer sair do sítio e falta de ar nos pulmões. "É um descontrolo total dos membros e órgãos. É um desespero e um sofrimento inacreditável", sustenta. Recorreu a quase todas as especialidades, fez ecografias e dezassete raios X. "Corri tudo à procura da doença que eu tinha que ter. Sente-se tudo, e nada ao mesmo tempo, sente-se o corpo a desintegrar, palpitações onde não deviam, estalidos que não são normais, é uma atenção pormenorizada a tudo o que acontece e mexe no nosso corpo", afirma. E acabou por atingir o limite quando deixou de sair da cama e de conseguir andar, "cansava-me muito, o coração disparava e era naquele momento que eu ia morrer. É aterrador viver com a permanente queixa, traduzida em dores, do nosso corpo de como já não aguenta mais. Dava dois passos e tinha que descansar ou encostar-me para não cair", explica.
"Imagine que vai a um médico e lhe dizem que tem aproximadamente dois segundos de vida. É isso que se sente, a cada segundo que passa é no próximo que vou morrer, porque sinto uma dor aqui, outra ali, e se não tenho cancro, tenho outra coisa qualquer que ainda ninguém descobriu. Alguém consegue viver assim? Não se consegue pensar em mais nada, nem há interesse para tal. É um desinteresse total, um morrer e continuar a respirar", pormenoriza Catarina."
Este texto é uma transcrição de parte de um artigo publicado na revista "Happy" de Novembro de 2009, pª 250 e 252, sobre casos de hipocondria.
Nada do que encontrei consegue melhor exprimir o sente um hipocondríaco. Apesar de gozados e incompreendidos pelos outros, o seu sofrimento é bem real. Trata-se de um dos casos de fobia mais complicados, quer para o paciente quer para o terapeuta. Primeiro, porque o paciente não supõe que os sintomas que sente se devam a causas psicológicas, logo procura médicos de especializados em tratar o corpo físico. Só muitas vezes devido à exaustão até dos próprios, o paciente é encaminhado para consultas de psicologia ou psiquiatria.
O caso de Catarina atingiu proporções extremas, mas milhares de pessoas vivem no dia a dia a mesma angústia que ela. A vida muda, embora se esforcem por não deixar que os outros se apercebam disso. Primeiro, o medo constante, depois a fuga. Não há lugar para onde fugir, a fuga de que falo é outra. Começa-se por deixar de sair, não querer estar os amigos, deixar de fazer as actividades que antes lhe davam prazer. Porquê? Porque não há disponibilidade para mais nada. Para além da pessoa não se sentir bem, não consegue pensar em mais nada, a sua constante vigia às sensações corporais e procura de uma explicação para elas, além da antecipação de graves enfermidades, não deixam espaço para pensar em mais nada. Nem sentir mais nada. O sofrimento é incrível, Catarina relatou-o bem. Vivem constantemente com medo é insuportável, e às tantas já têm medo de ter medo.
O acontecimento ou acontecimentos que despoletaram a hipocondria ficam marcados no cérebro como uma fotografia que não se consegue apagar, sobretudo sob a forma de emoção. Ainda que o médico diga que está tudo bem, a sensação continua. O que atormenta, o que vem à tona e não deixa viver a vida é a sensação por vezes mais inconsciente que consciente, do medo, da eminência da morte.
Mesmo quando o paciente toma consciência de que se trata de uma fobia, não consegue eliminar a "fotografia". O facto de ter um corpo que, como toda a gente, está sujeito a doenças e a inevitabilidade e impossibilidade de determinação temporal da morte, não dão paz, tanto mais que ninguém nem nada pode garantir que o que se teme não possa acontecer.
Muitos tratamentos são tentados, desde administração de medicamentos, psicoterapia, acumpunctura, EMDR, etc. Penso que o passo decisivo no tratamento não consiste em eliminar os sintomas mas deixar de temer a morte. Por mais absurdo que isto possa parecer, tal como em todas as outras fobias o que se pretende atingir é pôr fim ao medo do objecto das mesmas, porque não pensar nos mesmos termos em relação à hipocondria?

sábado, 21 de novembro de 2009

Stress e Distress


Hans Selye (1936) definia o stress como “Qualquer adaptação requerida à pessoa, isto é, reacção não específica a qualquer exigência de adaptação”.

O stress é fundamental para a nossa sobrevivência. Em pequenas quantidades é positivo, pois permite-nos mantermo-nos interessados pela vida e enfrentarmos desafios. Contudo em quantidades elevadas diminui as capacidades normais do indivíduo e tensão associada

apresenta-se a níveis demasiado desconfortáveis. Quase toda a gente já ouviu falar de stress. Ele faz parte do nosso dia-a-dia e quem não o sentiu já de vez em quando?

A forma como se fala do stress nas sociedades modernas ocidentais, faz pressupor que se trata de algo recente, mas é algo com o qual convivemos desde o tempo em que vivíamos nas árvores. O psiquiatra João Vasconcelos Vilas-Boas afirma que “o stress é sempre uma resposta emocional a uma situação de risco, resposta essa que pode ser adequada ou desadequada”. O mesmo psiquiatra refere ainda que o stress “não é uma doença mas um sintoma ou conjunto de sintomas”.

O que se está a passar hoje em dia na nossa sociedade é que estamos rodeados de “indutores” de stress, estamos a acelerar as nossas vidas de forma a responder às exigências externas, mas também internas, pois muitas vezes impomos metas e objectivos a nós próprios demasiado severos.

O stress afecta a percepção, o sistema nervoso, o equilíbrio hormonal, o sistema cardiovascular, o

sistema digestivo e o respiratório, o trato urogenital e o sistema imunológico. Aquele normalmente designado como "mau" é o chamado "distress" que aparece quando o organismo não sabe adaptar-se a uma nova situação e responde de forma desmesurada ao estímulo que essa situação provoca. Neste caso o indivíduo fica incapaz de pensar e de se concentrar e mesmo quando o estímulo acaba o corpo não sabe como voltar ao estado normal. (Departamento de Engenharia Informática Universidade de Coimbra, Stress Comunicação Técnica Profissional, Luis Fernando Lopes).

O stress não surge de um momento para o outro. Existem três fases:

- Fase se alarme, em que, perante uma nova situação que se impõe ao indivíduo O cerebro recebe e analisa os estimulos que lhe chegam dos sentidos e compara com a informação que já

tem armazenada. Se julga não ter os recursos suficientes para lhe fazer face, envia um sinal de alarme que vai libertar hormonas como a adrenalina e o cortisol, que faz aumentar o batimento cardíaco, dilatam as pupilas, os músculos ficam tensos, etc, tentando preparar o corpo para o perigo eminente;

- Fase de resistência, em que o organismo tenta a recuperação do organismo após o dequilíbrio inicial, consumindo desta forma mais energia, o que pode originar cansaço excessivo;

- Fase de esgotamento, ou seja, quando a resistência do corpo se esgota, quando o cansaço nos derrota. Aqui o stress passa a distress, ou seja, mau stress, que tem consequências nefastas para o organismo.

O distress provoca problemas a nível físico e psíquico. Pode provocar palpitações, desiquilíbrios hormonais, tensão muscular, tensão arterial alta, inquietação, dificuldades em pensar e tomar decisões, insónias, perda de concentração entre outras. Uma situação de stress mantida por muito tempo pode levar à morte e, segundo uma investigação da Faculdade de Medicina da Universidade de Washington pode provocar perda de neurónios. Contudo, relativamente a esta última questão o médico português Nuno Sousa provou no seu doutoramento que o stress crónico não conduz à morte dos neurónios, mas que o hipocampo apenas fica atofiado porque diminuem as sinapses (a comunicação entre os neurónios), conduzindo à reversibilidade da situação.

Sntomas de distress são vários, desde a tensão muscular, à pulsação elevada, a diarreias e indigestões, falta de desejo sexual, dificuldades em conciliar o sono. Variam de pessoa para pessoa.

Existem formas de aliviar o stress: fazer exercício físico, planear o dia-a-dia, ingerir comida mais saudável, tirar um tempo para si próprio, tentar dormir pelo menos oito horas, etc. Já agora uma boa notícia para os amantes de chocolate: comer perto de 30 gr de chocolate preto por dia reduz o nível de hormonas de stress!

O sress crónico, além do mal estar que provoca, pode evoluir para quadros trasntorno de ansiedade generalizada, depressão, ataques de pânico e levar a um aumento do risco de contrair infecções devido à quebra no sistema imunitario. Convém consultar um terapeuta nos casos mais graves.

Vale a pena ler o artigo pulbicado em http://www.fchampalimaud.org/images/uploads/Publico_July31_2009.pdf sobre stress e rotina.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

O Gato-Cão


Existe na localidade onde vive um gato-cão. Como mostra a fotografia, cinquenta por cento do pelo deste animal parece-se com o de um gato, enquanto os outros cinquenta parecem pertencer a um canídeo.

Ao vê-lo pela primeira vez, fiquei espantada, parecia-me uma aberração. Estava a cinco metros de mim e pude fotografá-lo. Achei que tinha encontrado um "tesouro" da natureza e até enviei por mail para alguns amigos.

Na altura pensei tratar-se de um gato vadio que passou por ali e seguiu o seu caminho, pois nunca mais lhe pûs a vista em cima. Passados cerca de dois meses, ao fazer jogging, passei por aquele local e vi-o. Estava à porta de uma das casas térreas de onde saiu uma senhora de muita idade, pegou no animal e levou-o para o interior do seu quintal, lançando-me um olhar reprovante pela minha atitude de curiosidade em relação ao bicho. É que eu aproximei-me dele e comecei a examinar o seu estranho pêlo.

Senti-me muito mal, pois de repente percebi o porquê daquele olhar. Reparei que o gato estava doente e o que quer que lhe tinha provocado aquela anomalia no pêlo não era certamente motivo de orgulho. É claro que ao animal não importava a minha curiosidade ou indiferença, mas a dona percebeu. Percebeu que o seu amado animal de estimação, só porque era diferente, era visto como uma aberração, provocava exclamações aos transuentes e era até objecto de registo fotográfico. Pensei que a situação não seria diferente se se tratasse de uma pessoa. De repente imaginei-me no lugar do gato. Será que a situação seria idêntica? Será que as pessoas parariam para ver as minhas anormalidades físicas? Fiquei com imensa pena dele.

O ser humano tem tendência para fazer isto em relação ao seus iguais também. Seria eu capaz de o fazer? Não, não seria. Mas qual é a diferença então? Realmente não sei responder a esta pergunta, ou melhor, sei, era porque ainda não tinha parado para pensar. Aquele gato fêz-me acordar para uma realidade que ainda estava adormecida em mim: não julgues os outros pela aparência, nem mesmo um animal, pois não gostarias que te julgassem a ti. Se hoje coloco aqui a fotografia é apenas para que tenham a ideia do que estou a falar.

Naquele dia, voltei atrás e pedi desculpa à dona.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Em busca da felicidade


Aprendi mais neste último ano que nos anteriores trinta. É claro que não me refiro a ensinamentos académicos, nem tão pouco a cultura geral. Refiro-me a uma aprendizagem íntima e emocional que parece estar a ser incrementada uma velocidade exponencial, que gostava de partilhar convosco.

Aprender só se consegue quando estamos interessados em tal, quando a nossa mente está aberta o suficiente para abarcar novos conhecimentos e experiências, quando achamos que não sabemos quase nada do que existe para saber e principalmente quando temos a humildade suficiente para aceitar que todos têm alguma coisa para nos ensinar e que tudo o que nos acontece na vida tem uma lição subjacente. A mim, nunca me faltou a humildade, devo confessar que o que me faltou foi a abertura da mente e o interesse em aprender. Considero que fui uma boa aluna, aprendi na perfeição tudo o que os professores me ensinaram nas aulas, assisti a inúmeras formações e aprendi muito a nível profissional. Contudo, isso era o que menos interessava. Não foi isso que contribuiu para a minha felicidade. Não me considerei mais feliz com o nível de cultura que atingi do que antes de me sentar numa sala de aulas. Não nos ensinam na escola o essencial, todas as reformas feitas no ensino até agora visam apenas capacitar o indivíduo para o seu futuro profissional e ensinar-lhe ferramentas com vista à sua insersão na sociedade, de um ponto de vista material. É de todo ignorado o indivíduo enquanto ele próprio, os alunos são vistos como um todo e o tempo e o dinheiro são poucos para lhes oferecer ferramentas para alcançar a sua felicidade. Parece irónico que um estado e sociedade que se preocupam tanto com o futuro não tenha a mesma preocupação com a forma como esse futuro é vivido.

Durante quase toda a minha vida estive presa a crenças sobre mim própria e sobre como deveria ser a minha relação com o mundo, decerto idênticas às de muita gente:
- O teu destino está traçado;
- Os outros são melhores e sabem mais que tu;
- Quanto mais velha uma pessoa é mais sabe da vida e quando se atinge a velhice sabe-se quase tudo;
- Há que duvidar sempre do que os outros dizem porque a vida é uma competição;
- Há que esconder os nossos sentimentos para não nos considerarem fracos;
- Deves ser submisso porque não vais conseguir nada remando contra a maré;
- Deves seguir os outros para que não te julguem diferente;
- O mundo está cheio de desgraças e como tal temos que ver as coisas pela negativa;
- O sucesso está reservado a meia dúzia de felizardos e tu não és um deles;
- Não é o que tu queres que importa mas sim o que está disponível para tu obteres;
- Quanto mais trabalhares, mais dinheiro vais conseguir;
- Etc..

A quantos de vós estas palavras não soam a familiares? Estas crenças moldaram-nos desde que nascemos. A mim, não deixaram que a minha mente estivesse disponível para pensar por mim própria. Impediram-me de acreditar em mim mesma. Mantiveram-me colada a uma triste realidade causada pelas minhas atitudes e pensamentos destrutivos, que eu não tinha forças nem motivação para mudar. É que só se pode mudar quando se começam a pôr em causa todas as crenças em que estivemos a basear a nossa vida. E isso é muito mais difícil do que pensamos, pois uma das funções das crenças é dar-nos respostas para qualquer que seja a pergunta, dispensando assim a nossa análise crítica. Ao longo de toda a nossa vida não estivemos sequer habituados a pensar nelas, sempre foram um dado adquirido, uma verdade imutável. Como poderíamos pô-las em causa?

Quando comecei a ler livros sobre inteligência emocional, cedo percebi que nem sequer sabia identificar as minhas emoções; quando questionei outras pessoas sobre isso, descobri que elas também não sabiam. Reparei que aprendendo a conhecê-las iria alcançar um maior controlo da minha vida. Pela primeira vez questionei se aqueles que nem sequer as sabiam identificar estariam certos acerca de tudo o que me haviam ensinado até então. Pouco a pouco fui pondo todas as outras crenças também em causa. Seria verdade tudo aquilo que me tinham enfiado na cabeça desde que nascera?

Li muito sobre auto-estima, inteligência emocional, atitudes positivas e desenvolvimento pessoal. Comecei a estar atenta às pessoas que eram felizes porque só estas tinham alguma coisa para me ensinar. Aprendi que:

- O destino somos nós que o fazemos, através de cada decisão que tomamos, independentemente da importância desta;
- Eu tenho capacidades e se os outros são capazes eu também sou; posso não saber mais que os outros, mas tenho vontade e procuro a cada passo aprender ainda mais que eles;
- O conhecimento é ilimitado e é arrogância pensar que se sabe quase tudo. O conhecimento é independente da idade e existem vários tipos, não um só.
- A vida não tem que ser uma competição, apenas temos que dar o nosso melhor e desde que o façamos, não temos nada a temer. Se desconfiarmos constantemente dos outros, será que somos de confiança?
- Os nossos sentimentos podem ser escondidos dos outros, mas nunca de nós mesmos. Mesmo assim, partilhá-los leva a criar laços entre as pessoas que de outra forma nunca surgiriam;
- Devemos ser sempre fiéis aos nossos valores, ainda que isso implique lutar contra meio mundo;
- Devemos seguir o nosso caminho, por nós traçado e não o caminho que os outros escolheram, para eles ou para nós;
- O mundo também tem coisas boas a acontecer: temos é que olhar para elas, pois elas estão por todo o lado: se olharmos para o mundo de uma forma positiva vamos estar sempre a deparar-nos com elas;
- O sucesso depende de acreditar. Se acreditarmos o suficiente, vamos ter sucesso;
- O que nós queremos importa. Só assim podemos estabelecer tal como um objectivo a atingir e lutar por ele;
- Não é trabalhando mais que vais conseguir enriquecer: por vezes é parando, levantando a cabeça que se conseguem ver as melhores oportunidades. Não é de dinheiro que falo neste post, mas este princípio aplica-se a todos os aspectos da nossa vida.

Vou continuar a "estudar". Sei que vai valer a pena.

sábado, 8 de agosto de 2009

Hipnoterapia


Considerada uma prática alternativa à terapia tradicional, a hipnoterapia (ou hipnose clínica) tem vindo a ganhar cada vez mais adeptos entre os que sofrem de problemas psíquicos. O estado hipnótico é um estado alterado de consciência que pode ter vários graus, semelhante aos vários estados que experimentamos durante o nosso dia. É um estado de concentração profunda, no qual a nossa mente está voltada para a sua vida interior. Experimentamos um total relaxamento físico e emocional, em que o cérebro entra em frequência alfa, um estado intermediário entre o sono e a vigília. O paciente está sempre consciente (30 a 40%) e tem poder de decisão. Quer isto dizer que o paciente não fará nem dirá nada que não queira e ao sair do estado hipnótico lembrar-se-à de tudo o que aconteceu. Contudo encontra-se mais sugestionável, daí que este método seja eficaz no tratamento de diversos problemas como adicções, fobias, depressão, insónia, stress e até obesidade ou asma.

Quando a pessoa está hipnotizada, os hemisférios cerebrais atingem uma excelente capacidade de comunicação entre si, facilitando a troca de material psíquico e simbólico entre o consciente, o pré-consciente e o inconsciente. A acessibilidade ao inconsciente torna-se desta forma mais fácil.

Os nossos sintomas têm a ver com programação. Estamos programados para agir ou pensar de determinada forma. A hipnose actua no sentido de ajudar os indivíduos a desprogramar aquilo que conduz a estados de sofrimento, a eliminar traumas e bloqueios.

É importante que o paciente sinta confiança no terapeuta, pois terá que seguir as suas sugestões. Antes de uma sessão, convém averiguar as suas credenciais. Existe um código de ética e deontológico para estes profissionais (pode consultar em www.bsch.org.uk/code_of_conduct.htm), pelo que os bons profissionais se guiarão por ele, estando sempre o paciente salvaguardado. Contudo, há quem entenda que a hipnoterapia tem perigos. Deixo aqui um site que resume os mais comuns: http://cadernoalfa.blogspot.com/2008/06/o-perigo-da-hipnose.html. Devo contudo salientar que na busca que efectuei através da internet e de outros meios de comunicação a ausência de perigos nesta prática vence com esmagadora maioria.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Calar o sofrimento


Quem sofre depressão ou de outro tipo de patologia do foro psíquico sofre de duas formas: por um lado os sintomas próprios do mal de que padece e por outro do que lhe é causado pela sociedade. Porque a sociedade ainda não aprendeu a aceitar que nem todas as pessoas que sofrem de problemas que não são de origem física, são loucas.

Quem nunca passou por uma situação semelhante quase nunca consegue entender porque é que quem está deprimido não consegue simplesmente deixar de o estar, como se bastasse estalar os dedos para isso acontecer. Por vezes essas pessoas podem ser nossos familiares, amigos, colegas de trabalho, vizinhos. Há uma tendência natural em pormos de lado aquilo que não entendemos. É o que acontece com eles. Mas, como se não bastasse, há determinadas pessoas para quem pura e simplesmente não podemos dizer que não nos sentimos bem. Então se esse mal estar for do foro psicológico, ainda menos. É-se rotulado de louco, de instável, de incapaz. O simples facto de entregar um justificativo de falta num emprego, quando se vai a uma consulta, assinado por um psiquiatra, pode levar a questionar se aquele empregado é competente para o cargo que desempenha, se se disser aos amigos que se tem uma obsessão ouve-se logo um borburinho, e por aí fora. A reacção das outras pessoas não é a mesma se se disser que se tem uma broncopneumonia ou se tem uma depressão.

Como fazer então para evitar estas situações? Conheço quem escolha médicos que passam justificativos em nome das clínicas em que trabalham de forma a que a sua especialidade não seja identificável, quem coloque os comprimidos em frascos vazios de outros para a dor de cabeça por exemplo e ainda quem simplesmente finja que anda bem para não ter que consultar um médico ou tomar qualquer tipo de medicamentos. Por vezes temos que contornar os obstáculos que se nos deparam, enquanto a sociedade não "cresce". Contudo, deixar de procurar ajuda não é de todo solução.

A década que corre tem desmistificado muito estas questões. O aumento do número de pessoas com problemas é cada vez maior e o número daquelas que recorre a tratamento. Penso que as pessoas estão a consciencializar-se de que não acontece apenas aos outros e além disso a internet, a imprensa escrita e os media em geral estão a confrontar o seu público com cada vez mais informação acerca destes temas. A informação é a chave para um correcto julgamento, em qualquer situação. Contudo ainda há um longo caminho a percorrer.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Amigos Eternos e Efémeros


Hoje estive na festa de aniversário de um amigo recente onde me encontrei com alguns outros que conheci na mesma data e outras tantas pessoas que não conhecia.

Às tantas, dei comigo a conversar com uma desconhecida que era amiga do anfitrião à quase cinquenta anos. Apontou algumas outras pessoas presentes que estavam na mesma situação dela. Meio século! É uma vida. Lembrei-me dos meus amigos de infância e dos poucos que ainda mantenho. Lembrei-me também dos recentes e de todos aqueles que encontrei ao longo da vida e com os quais já não mantenho contacto. Fez-me pensar no que é que nos leva a manter alguns amigos durante toda a vida, enquanto nos afastamos de outros ou eles de nós.

Não é a distância geográfica, o nível de formação, a profissão que se exerce ou a situação familiar de cada um que define se uma relação de amizade se vai ou não prolongar. Existem amizades duradouras entre pessoas tão diferentes ou mesmo que moram em países distantes enquanto pessoas que vivem quase juntas e têm uma situação de vida muito semelhante não conseguem ser amigas durante muito tempo. Existem até pessoas que quando se conhecem parecem ter tanto em comum, que quase juram que a sua amizade será eterna e no entanto passados poucos anos deixam de se contactar. Não existe nenhum padrão, nenhuma referência que nos ajude a determinar a durabilidade das relações de amizade. O facto é que, a menos que vivamos sempre no mesmo lugar e estejamos em contacto apenas com o mesmo grupo de pessoas, todos nós passamos a vida a fazer amigos, dos quais apenas alguns mantemos.

A definição de amigo varia consoante a personalidade, a cultura, a maturidade e a experiência de cada um. Algumas pessoas vêm um amigo como um prolongamento de si próprio, enquanto outros como um apêndice, outros ainda como um complemento; talvez o que faça falhar algumas relações será a não aceitação pelo outro do papel que descobriu que desempenha perante o amigo. Uma relação para durar, qualquer que ela seja, exige a aceitação da mesma condição pelo outro, é claro que isto também se aplica à amizade. Não é provável que eu seja amigo de alguém que me vê como um prolongamento de si próprio, quando eu apenas o vejo como um apêndice ou complemento. A diferença de visões ou conceitos da amizade pode estar na origem do afastamento das pessoas.

A imaturidade pode também determinar a falência das relações: ser amigo é aceitar as diferenças, saber ouvir, perdoar, estar presente, dar liberdade, ensinar, partilhar. Não podemos pretender que o nosso amigo seja igual a nós, pense como nós ou tenha a mesma opinião. Ele tem o direito de ser diferente, tal como nós. O importante é que apesar disso esteja do nosso lado para nos apoiar, mesmo que pense de forma contrária à nossa, nos ajude a levantar quando, persistindo nos nossos erros, caímos. Temos que ter capacidade de perdoar pois todos nós erramos e temos o direito a uma segunda oportunidade. É importante também que ninguém se sinta aprisionado. Quando sentimos que alguém nos está a prender o nosso instinto é o de procurar liberdade. Por outro lado, transmitir os nossos conhecimentos e partilhar os nossos recursos de forma a ajudar o outro a ultrapassar os seus próprios obstáculos contribui para o seu crescimento e como tal intensifica a amizade. Tudo isto tem a ver com a maturidade do próprio indivíduo, que quanto maior é, mais salutares são as relações que estabelece. A relação pode não durar se um dos intervenientes trair os pressupostos que enunciei no início deste parágrafo.

Aquela máxima de "A friend in need is a friend indeed (um amigo necessitado é um amigo de verdade)" parece apenas referir-se a amigos por interesse. Um amigo de verdade é aquele que o é mesmo que o não possamos ajudar em nada, que o continuará a ser quando já não precise. Porém assiste-se muito a "amigos de ocasião", ou seja, determinadas pessoas que apenas são amigas enquanto se mantém determinada circunstância. Será que podemos chamar a essas pessoas amigas? Será que os amigos que o deixam de ser um dias são todos "amigos de ocasião"? Nem sempre. Muitas vezes a vida torna-nos tão diferentes que os nossos universos se tornam impossíveis de cruzar. O importante é que enquanto são amigos aproveitem ao máximo esse previlégio. Porque a amizade é uma das coisas mais importantes de que algum dia podemos usufruir. Se não se prolongar por algum motivo, que se prolongue ao menos na nossa memória. E vivam as amizades eternas, porque ambos os amigos descobriram o verdadeiro sentido da palavra "amizade".

sábado, 11 de julho de 2009

O "KISS"


Não, não é um beijo. KISS é o acrónimo de "Keep It Simple, Stupid" e "é um princípio geral que valoriza a simplicidade de projecto e defende que toda a complexidade desnecessária seja evitada. Serve como fórmula útil em diversas áreas como o desenvolvimento de software, a animação, a engenharia no geral e no planejamento estratégico e táctico. Também é aplicado na Literatura, na Música e nas Artes em geral. Este princípio teve a sua inspiração diretamente do princípio da Navalha de Occam e das máximas de Albert Einstein ("tudo deve ser feito da forma mais simples possível, mas não mais simples que isso") e de Antoine de Saint-Exupéry ("A perfeição é alcançada não quando não há mais nada para adicionar, mas quando não há mais nada que se possa retirar") (Wikipédia).

Simplificar pode ser a solução para muitos dos nossos problemas. Quantos de nós nos fartamos de queixar pela falta de tempo, pelo cansaço, pela falta de dinheiro, pela falta de amigos...?! E quantas vezes já olhamos bem a fundo para a nossa vida, analisando imparcialmente onde estamos a errar? Se calhar nunca, ou então sempre que o fazemos chegamos à conclusão de que não poderíamos ter feito melhor.

Vivemos na era do consumismo, do comodismo, do egoísmo; vivemos em função da maximização da qualidade de vida sem entendermos muito bem o que isso significa; não entendemos que muitas das coisas que temos são supérfluas, aprisionam-nos e exigem de nós muito mais do que o prazer ou benefício que nos dão em contrapartida.

Vou analisar aqui uma situção concreta: Paula e Mário, ambos advogados, pais de um filho adolescente, viviam numa casa de cinco assoalhadas, ar condicionado e música ambiente, uma televisão em cada assoalhada, com mais de cem canais, três casas de banho, janelas automáticas entre outras comodidades. Tinham a casa dos seus sonhos, num condomínio fechado, com piscina, três elevadores. Para pagar o empréstimo do banco e para manter a casa necessitavam de uma avultada quantia de dinheiro todos os meses. Para o efeito, começaram ambos a aceitar mais casos. O tempo era pouco e como tal tiveram que contratar uma empregada. Contudo isso ainda acresceu mais as despesas e tiveram que trabalhar durante o Sábado. Como prometeram ao filho umas férias em Bora Bora, começaram a trabalhar também ao Domingo.

Não passavam tempo quase nenhum em casa; estavam constantemente cansados e Mário começou a sofrer de hipertensão; o filho passava o dia ao computador e não estudava, estando em vias de reprovar nos exames. Paula tinha tudo o que sempre ambicionou, no entanto não se sentia feliz.

Certo dia chegou a casa, sentou-se no sofá, pegou no comando, ligou a televisão da sala e pela primeira vez num mês preparou-se para assistir a um filme. Apercebeu-se de que tinha tantas televisões, tantos canais, mas não tinha tempo de ver nenhum deles, o mesmo acontecendo com o marido e o filho, que preferia a internet. Levantou-se e deu um passeio pela casa. Há meses que não entrava ninguém no quarto de hóspedes, não tinham tempo para receber ninguém em casa. Olhou pela janela e viu a piscina onde já não punha os pés há meses. Havia sempre tantas contas a pagar, tanto trabalho a fazer... Uma casa assim dá muitas despesas. Então Paula deu-se conta de que estava a trabalhar para o boneco. Estava a trabalhar para financiar algo de que não podia usufruir; deu-se conta de que apesar de ter tudo o que sempre quis ter, não tinha o que verdadeiramente lhe interessava: passar tempo em família, estar com os amigos, divertir-se.

Foi então que, em conjunto com o marido e o filho tomaram uma decisão: mudar para uma casa mais pequena, na periferia. Não tinha nem metade das comodidades que aquela tinha, mas de que interessava tê-las se não podiam gozar delas? Dispensaram a empregada e Paula passou a assumir as tarefas da casa. Três assoalhadas mais pequenas eram suficientes para todos. Uma televisão na sala com um pacote mínimo e um sofá-cama que servia perfeitamente para transformar a sala em quarto de hóspedes caso houvesse algum. Não tinham música ambiente nem janelas automáticas, nem piscina, mas no final todos sentiram que valeu a pena a mudança.

A renda diminuiu, bem como os custos de electricidade, condomínio, entre outros. Isto fez com que tivessem que trabalhar muito menos e poder assim passar mais tempo uns com os outros; apenas uma televisão na sala contribuiu para aproximar a família; começou a haver tempo para conviver com os amigos, o que os alegrou imenso; no final ainda sobrou dinheiro para fazerem aquela viagem a Bora Bora que andavam à tempo a prometer ao filho.

Simplificar mudou a vida desta família. A adaptação foi difícil, ao princípio acharam que apenas iam ganhar desconforto, mas a verdade é que o nível de felicidade aumentou.

Complexidade gera complexidade e às tantas esta complexidade atrofia, aprisiona. Esquematizar a vida de forma simples torna os objectivos mais possíveis. Estabelecer como prioridade objectivos imateriais em vez dos materiais faz com que seja necessário muito menos esforço, faz com que os últimos percam importância face aos primeiros, o que contribui para o reforço de valores como a amizade, a família, o altruísmo, pois procurar a felicidade nas coisas simples é muito mais satisfatório e fácil de atingir do que nas mais complexas; ter muito é apenas satisfazer caprichos, quando nos basta tão pouco para termos o que realmente importa. Por isso, aproveite e KISS....

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Identidades Falsas

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A maioria de nós nasce e morre transitando por esta vida como se de um palco se tratasse. Porque somos todos actores, não só porque representamos papéis, mas porque usamos máscaras que nos transformam naquilo que queremos ou aprendemos a ser.
Desde o momento em que nascemos que estamos sujeitos ao processo de socialização, que muitas vezes se inicia no acto de cortar o cordão umbilical. A partir daí são-nos ensinados valores, códigos de conduta e aplicados castigos a comportamentos considerados desviantes pela sociedade. Quando nascemos, a nossa mente está vazia. Começamos a enchê-la com o que temos ao nosso redor, aprendemos e apreendemos aquilo que nos facultam, que será o que vigora na sociedade e na época em que vivemos. Mais tarde, quando começamos a ter capacidades para agir por conta própria, fazêmo-lo nos limites daquilo que nos é permitido, que aprendemos como sendo certo ou errado e enraizamos fortemente na nossa consciência.
Aquilo que somos hoje, não é mais que massa moldada na mesma forma onde o foram todos os membros da sociedade em que vivemos: a língua que falamos, o vestuário que vestimos, as leis a que obedecemos, etc.. Consoante o lugar e o tempo assim esta moldagem é mais ou menos rígida, mas o facto é que nos tormamos não naquilo que verdadeiramente somos, mas naquilo que a sociedade espera que sejamos, sob pena de sermos considerados marginais e de nos serem aplicadas medidas de coacção que variam desde a simples reprovação a penas de prisão.
Representamos diariamente papéis: somos pais, filhos, professores, alunos, jardineiros, economistas, compradores, vendedores, velhos, jovens... Todos estes papéis têm características comuns e únicas que os tornam perfeitamente definidos: todos os pais se comportam de determinada forma que não se coaduna com o comportamento dos seus filhos, ou mesmo deles próprios enquanto filhos, o mesmo acontecendo com os alunos e professores, com os velhos e com os jovens. É esperado que se actue de acordo com o papel que se detem e normalmente sabemo-lo de cor, pois levamos a vida a aprender como o representar. Mas mais do que aprender comportamentos, aprendemos o conceito do certo e do errado, do bonito e do feio, do bom e do mau, do rude e do elegante, etc.. Moldamos a nossa consciência de forma a tornar-se parte de uma muito maior, a da sociedade como um todo. Deixamos de poder ser apenas um indivíduo para passar a ser uma célula de um corpo único, do qual fazem parte outros seres humanos. O que seríamos se fossemos nós próprios? Ou melhor, o que é ser nós próprios? Será que em alguma circunstância estivemos livres da influência do que aprendemos?
Porém, todo o ser humano existe individualmente. Existe algo que ainda se mantém intacto dentro dele: a sua identidade. O que acontece é que na maioria das vezes está adormecida, foi chutada para o fundo do nosso ser e é tão constantemente empurrada para dentro pelo nosso consciente que nos esquecemos de qual ela é. Pensamos até que somos aquilo que aparentamos ser, enganamo-nos a nós mesmos. Muitas vezes a nossa verdadeira identidade é tão diferente daquela que ostentamos que se gera um conflito com consequências nefastas como depressões, doenças somáticas, desiquilíbrios emocionais e comportamentos considerados desadequados pelas normas sociais em vigor. É que geralmente o inconsciente tem mais força que o consciente e aquilo que empurramos para o dentro é repelido para fora com maior intensidade. Mas na medida em que não aprendemos a lidar com isso, nem sequer sabemos interpretar o que nos está a acontecer. Então recorremos a terapêutas, tomamos medicamentos, procuramos conselhos de amigos, etc, sempre na tentativa de repôr a normalidade, quando por vezes a normalidade que ambicionamos é construída com base numa identidade falsa. Recusamo-nos a deixar a máscara que vestimos, pois não sabemos viver sem ela. Por isso somos toda a vida actores, mesmo sem termos consciência disso. E dizem algumas pessoas que não têm veia artística!!

Lágrimas secas

Ver fonte da imagem   So me apetece chorar, mas as lágrimas não caem.... É um alívio quando elas escorrem pelo rosto, pois é uma forma de ex...

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