
Como habitual, as consultas tem a duração de uma hora, a primeira, um pouquinho mais. Comecei por lhe contar resumidamente a minha história e depois foquei-me naquilo que sentia. Depressa, o final da primeira consulta chegou. Em uma hora, tive que resumir quarenta anos de vida e mais de vinte de terapias. É claro que é impossível o terapeuta inteirar-se de tudo o que se passa com o indivíduo e aperceber-se da solução mais adequada. Eles acham, contudo, que o que o paciente espera deles é que lhes receite medicamentos para aliviar o seu sofrimento. E felizmente para os médicos, existem medicamentos que servem para quase tudo, basta que nos consigam enquadrar em uma qualquer patologia generalista.
Eu costumo guardar uma cópia das prescrições medicamentosas que me têm sido feitas ao longo do tempo. Se procurar entre elas, decerto encontrarei uma igual à que me foi dada por este terapeuta. Isto quer dizer que, no que respeita à medicação, quase me basta ir ao meu "arquivo" e procurar uma receita que me tivesse sido prescrita para os mesmos sintomas em momentos anteriores. Então, que raio vou eu gastar o meu dinheiro num psiquiatra?!
Na segunda consulta, que aconteceu um mês depois da primeira, por indicação do terapeuta, as suas principais preocupações foram saber que efeitos secundários tinha tido com a terapia receitada. Como a minha resposta foi negativa, mandou-me continua-la e repetir a consulta daí a quatro meses.
Na minha condição de paciente e de ser humano minimamente inteirado do mundo da psicologia e psiquiatria, aquilo que sinto é que as duas disciplinas andam cada vez mais separadas, enquanto a mente humana continua a ser apenas uma. Uma terapia puramente medicamentosa, quando sabemos que os medicamentos não curam, apenas aliviam, revela a ineficácia a longo prazo dest
a abordagem. Aquilo de que realmente precisamos é saber o que nos causou ou está a agravar a patologia de que padecemos e saber como lidar com ela. Quanto mais não seja, precisamos de seres humanos, de ver naquele terapeuta que está à nossa frente, uma pessoa, não um computador pré-programado para nos receitar determinado medicamento perante determinado sintoma. É claro que sem medicamentos, muitas pessoas não conseguirão resolver os seus problemas. Mas o que realmente necessitam é aprender a controlar, a dominar a situação, de forma a aumentar a sua auto-estima, a resolver os seus conflitos internos, a perceber onde estão a errar, e erradicar o seu sentimento de culpa infundado, a integrar-se ou a reconciliar-se com a sociedade onde vivem, etc. Sou só eu a ver isto?!!!
4 comentários:
Ola.
Esperanto que esteja bem.
Descobrir seu blog por acaso quando pesquisava desmame de Cymbalta, li as crónicas que lhe dedicou, mas depois não concluiu.
Conseguiu viver sem o Cymbalta? Voltou? Ou trocou de medicamentos?
Agradecia a sua resposta, já que foi das únicas pessoas que encontrei que falou abertamente sobre isso e que parece ter um entendimento mais vasto que lhe permite contextualizar e perceber que o nosso entorno condiciona muito o sucesso do desmame.
Matilde
Olá Matilde,
Consegui deixar o Cymbalta, mas com muito custo. Não continuei a postar como prometido por falta de tempo. Quando parei o Cymbalta, não fiquei sem medicamento nenhum, pois estava a tomar Elontril, o qual continuei. Nos posts subsequentes, conseguirá entender o que se passou depois. Contudo, convido-a a visitar o forum associado a este blog, https://groups.google.com/forum/#!forum/viver-com-depressao
e colocar aí todas as questões que entender, pois poderá partilhar com mais pessoas.
Felicidades!
Olá.
Obrigada pela resposta, já visitei o grupo e postei, mas os post não ficam visíveis.
Gostaria de lhe desejar felicidades e que a caminhada, ainda que longa, seja feita sempre com pequenas melhorias.
Mat.
Olá,
Todos os comentários postados no grupo já se encontram visíveis!
Obrigado!
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