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Parece estranho o que acabei de escrever, mas vejamos: neste momento centenas de milhões de pessoas em todo o mundo estão confinadas às suas casas, sozinhas ou com um número reduzido de pessoas. A convivência permanenente com aqueles que só se viam de manhã e à noite ou em fins de semana e ferias controladas pela hora de voltar ao trabalho ou à escola e partilhadas com todo o tipo de distrações convidadas, só pode ter consequências. E não é por acaso que se convidam tantas distrações: fazemos-lo como forma de evitar o confronto com o outro e connosco. Temos medo de ficar sozinhos, temos medo de nos ouvir, de nos sentir, de nos conhecermos e de conhecer o outro ou deixar que ele nos conheça. Porquê? Porque não saberíamos lidar com isso.
A intimidade assusta. Não a intimidade no sentido romântico do termo, mas a intimidade da aproximação a nível sentimental, emocional. Andamos constantemente a fugir disso, encontramos todos os subrefúgios para nos escondermos. E agora ficamos expostos. Expostos, dentro da nossa própria casa. De repente os espelhos falam connosco, de repente descobrimos que não sabemos quem é o outro que tão bem conhecíamos. De repente a estrutura de uma vida construída em função desta fuga de nós próprios, desmorona-se, não temos mais onde nos esconder. Lá fora, está o virus, dentro o desconhecido.
Nada poderá continuar como dantes. Experienciar esta vivência tem que ter consequências. A ver vamos.
Este estado que vivemos em quase todo o mundo é um ponto de viragem para algo desconhecido. Mas não é só o vírus, que embora tenha criado uma situação inédita nos tempos modernos
2 comentários:
"Expostos, dentro da nossa própria casa". Essa frase é chocante Ivana e ainda assim não deixa de ser uma triste verdade. Estamos expostos a nós mesmos.
Você esta certissima minha querida.
Espero que consigamos nos superar nesse desafio que se apresentou.
Gostei bastante de te ler. Forte abraço e sucesso para você.
Como você tem lidado com o isolamento (assumindo que está o fazendo)? Está fácil ou difícil?
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