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terça-feira, 12 de junho de 2012

Tratamento da depressão vs lucro


A depressão é uma das doenças mais estudadas dos últimos tempos e, apesar disso, parece estar a tornar-se endémica. Desde o início da aplicação das primeiras terapias têm havido avanços, mas muito lentos e diria mesmo muito modestos. Não se conseguiu uma forma de tratamento definitiva, com poucos efeitos colaterais, que  eliminasse as frequentes recaídas e que resgatasse dos hospitais uma boa parte dos internados. Decerto não é fácil inventar um medicamento ou uma terapia alternativa, mas às vezes parece que a intenção é mesmo avançar a um ritmo muito lento, de forma a que haja mercado para fazer crescer os lucros da indústria farmacêutica. De facto comprova-se pela percentagem de antidepressivos que é vendida por ano em função do total de medicamentos para todas as outras doenças. 
A depressão é uma doença que dá lucro. Não me lembro de terem sido tomadas quaisquer medidas por quem detém o poder no sentido de evitar que as pessoas entrem em depressão (excepto algumas tímidas campanhas publicitárias nos últimos anos). Será que é imaginação minha, ou falta aqui algum interesse em tentar diminuir o número e a gravidade das depressões?!...

segunda-feira, 4 de junho de 2012

O medo glogal

Mais uma vez trago-vos aqui algo que não é de minha autoria, mas concordo com tudo. Este foi o ponto a que chegamos, a sociedade que construímos mas que, sem maestro, toca cada um seu instrumento, num chinfrim de acordes desconcertados, onde o que devia ser música se transformou num ruído ensurdecedor. Já chegamos ao limite mas achamos que ainda estamos longe da meta. Trocamos a felicidade pelo medo, a ditadura do medo moldou as nossas mentes de forma a aceitarmos   ser manipulados em troca de promessas vãs. O hábito contínuo de sentir medo faz-nos sentir medo da própria felicidade com que tanto sonhamos: 
"(...)
Os que trabalham têm medo de perder o trabalho.
Os que não trabalham têm medo de nunca encontrar trabalho.
Quem não tem medo da fome, tem medo da comida.
Os automibilistas têm medo de caminhar e os peões têm medo de ser atropelados.
A democracia tem medo de recordar e a linguagem medo de dizer.
Os civis têm medo dos militares, os militares têm medo da falta de armas e as armas têm medo da falta de guerras.
É o tempo do medo.
Medo da mulher da violência do homem e medo do homem da mulher sem medo.
Medo dos ladrões, medo da polícia.
Medo da porta sem fechadura, do tempo sem relógios, da criança sem televisão, da noite sem comprimidos para dormir e medo do dia sem comprimidos para despertar.
Medo da multidão, medo da solidão, medo do que foi e do que pode ser, medo de morrer, medo de viver..."
 Eduardo Galeano, El miedo global (tradução livre).

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Procrastinar

Este palavrão, que provavelmente poucos conhecem o significado, é algo que, pelo menos de vez em quando, todos nós praticamos. Procrastinar é adiar para mais tarde o que sabemos que deve e tem que ser feito agora. Fazemo-lo porque o que temos pela frente é maçador, chato, emocionalmente ou fisicamente desagradável, embaraçoso, etc. Enfim, doloroso de alguma forma, em maior ou menor grau.
Faz parte do ser humano - e não só- o evitar da dor e do que é desagradável. Podemos então dizer que este verbo é legítimo. Porém, e como seres inteligentes que somos, sabemos que a chatice - dor - de agora vai evitar dores futuras ou trazer reais ou potenciais vantagens. É a pensar nisso que nos submetemos à cadeira do dentista, que vamos trabalhar todos os dias, que estudamos, que limpamos a casa.
Não fazemos nada de graça, nem a mais altruísta das pessoas. Trabalhamos para ganhar dinheiro para sustentar a família, estudamos para ter um futuro melhor, ajudamos os outros para preencher um vazio interior. Nestes casos visamos uma vantagem. Quando limpamos a casa evitamos a exposição à sujidade e por conseguinte às doenças associadas, quando vamos ao dentista evitamos futuros problemas dentários. Aqui, evitamos uma dor.
Por vezes damos por nós a evitar vantagens (ver post Medo do Sucesso aqui) ou a não evitar uma dor. A primeira das situações é explicada no post indicado mas a segunda, mais intrigante, é pouco compreendida e confundida com preguiça. Eu diria que a preguiça não existe, a única coisa que existe é falta de motivação. Num estado de preguiça, obtemos um certo prazer com ele. No caso da falta de motivação, não. Se não limpamos a casa sentimos-nos mal, quer pelo facto de estar suja, quer porque reconhecemos que se o fizéssemos nos faria sentir menos culpados, mais animados. De facto, procrastinamos porque não temos motivação suficientemente forte que nos impela à acção. Não temos razões suficientes para nos submeter a um processo doloroso para evitar uma dor futura. Exageramos a dor presente em prol da dor futura. Agora, é sempre mais difícil do que imaginamos ser mais tarde. Para quê já, para estragar o pouco prazer que nos resta, nem que seja na inércia, se podemos fazer mais tarde?
Na verdade, não sentimos assim tanto prazer, antes pelo contrário, sentimos falta de ânimo. Adiar torna-se num ciclo vicioso, uma bola de neve por vezes, e a culpa e mal estar começam a vir ao de cima. Mas continuamos a adiar, pois a partir de uma certa altura já não conseguimos associar o mal estar que sentimos à procrastinação.
Por vezes adiar as coisas repetidamente é um dos sinais da depressão, mas sem entrarmos no campo da patologia, é um forte indicador de que algo não está bem. Se dermos por nós a procrastinar muito, há que nos sentarmos e analisarmos o que se passa. A desmotivação tem sempre factores psicológicos associados, uma contradição entre o que queremos e o que devemos, e por vezes o que queremos está desajustado, desfocado, atrofiado por uma auto-culpa ou perca de fé e de auto-estima, ou então a desvalorização da recompensa obtida pela acção.
De repente, as coisas acumulam-se e tornam-se um monstro que nos assusta.  Nessa altura surge o desespero perante tão grande empresa que temos pela frente. Dos outros ouvimos: "Porque não fizeste isto há mais tempo?" Será que têm razão?
"Não julgues as minhas acções (ou ausência delas neste caso) se não conheces as minhas motivações".

terça-feira, 8 de maio de 2012

A Ditadura do Social


Queria escrever sobre este tema, mas encontrei quem o fez, quase por telepatia antecipada no tempo. Admiro o trabalho deste artista, mais ainda a originalidade acutilante e perturbadora, mas por fim congruente após alguns segundos de contemplação. Aqui fica o retrato da "Ditadura do Social" por Carlos Dala Stella:


"Só são levados em consideração, hoje, os conteúdos socialmente constituídos, ou seja, formulados de prévio acordo com a sociedade. O indivíduo mesmo, por mais emancipado que seja, só se torna visível a partir do momento em que passa a fazer parte da imensa rede social, formatada mais e mais pela internet. Não contribuir com a exploração pública de sua identidade pela rede significa descender ao submundo da invisibilidade, vala comum também ela prevista, ainda que a contragosto, por esse novo complexo social. Mas se antes a invisibilidade afetava o sujeito, cuja imagem de alguma forma tinha sido constituída e negada pelo círculo social, por mais estreito que este fosse, agora ela afeta a sombra futura desse sujeito. Mas paradoxalmente afeta também aquele que provavelmente nunca chegará a sê-lo, embora poste todos os dias no facebook, no twitter, no blog... O socorro da margem não existe mais, assim como a condenação ao reino escuro das idiossincrasias, relegadas ao jurássico século XX. Tudo pretende estar previsto no quadro formatado pelos gestores das redes, não só o que é, mas especialmente aquilo que está por vir. Pobre de nós, condenados às miríades do presente, herdeiros de um passado de que sentimos falta, nós que temos pudor, que zelamos pela individualidade, mesmo que nos digam que ela não vale grande coisa, que não sabemos o que fazer dela a maior parte do tempo, e que estamos bem assim, mesmo que estejamos mal. Pobre de nós que não queremos fazer parte de nenhum conglomerao, de nenhuma associação, aqueles que não se conformam às redes, às cercas, às grades. Aqueles para quem a economia nunca é criativa e o intagível existe desde sempre, como o ar que respiramos. Pobre de nós que preferimos os amigos mortos aos amigos virtuais, que vivemos de encontros e desencontros presenciais, nós para quem o vento no rosto é o paraíso, ou um temporal se armando."


Quadro da autoria de Dala Stella

sábado, 28 de abril de 2012

Depressão - Biologia e Medicamentos


Num quadro de depressão, há que distinguir várias vertentes que contribuem em conjunto para a instalação da mesma: a social, a genética, a biológica, a psicológica, etc. Neste post, irei analisar apenas a biológica. 
Vários estudos referem a importância dos neurotransmissores, mais propriamente as monoaminas cerebrais (dopamina, norepinephrine, a serotonina e a acelticolina). Foi investigada a disponibilidade destas substâncias no cérebro de pessoas com diferentes patologias psíquicas e confrontada com a encontrada no cérebro de pessoas saudáveis. As quantidades destes neurotransmissores encontrava-se mais elevada no caso das pessoas saudáveis, o que leva à conclusão da sua importância nestes quadros.
Tratando-se de agentes que permitem a optimização das transmissões neurológicas, terá que se avaliar as condições dos respectivos receptores. Aparentemente os primeiros não estavam presentes não por não terem sido segregados, mas sim porque foram muito rapidamente absorvidos (recaptados). Os estudos que mais evidenciam esta hipótese foram baseados na aplicação de medicamentos, mais propriamente dos  ISRS - Inibidores selectivos da recaptação da serotonina, entre outros. Do seu efeito biológico sobre os receptores, inibindo a sua desadequada actividade, chegou-se à conclusão, pelos efeitos positivos manifestados pelos pacientes, que na verdade a disponibilidade destes neurotransmissores no cérebro faz com que este "trabalhe" correctamente.
Como em muitas áreas da saúde, a resposta às causas biológicas ainda se encontram por apurar definitivamente, encontrando-se abertas outras hipóteses em investigação. Porém, os ISRS já estão a ser administrados há algumas décadas. É claro que estão a funcionar como "Aspirinas" e não como tratamento eficaz e definitivo. Das duas uma: ou o cérebro reaprende pela prática (enquanto estão a ser administrados estes medicamentos) a voltar às suas funções normais, reencontrando o equilíbrio antes perdido, na sua secreta organização celular e sináptica, ou voltará ao mesmo após o término do efeito medicamentoso. Se existir esta "reaprendizagem", com a forte contribuição na grande maioria das vezes de factores sociais, psicológicos ou ambientais, os especialistas consideram que houve tratamento, embora seja difícil ou mesmo impossível atribuir o sucesso aos medicamentos só por si. Isto significa que as provas existentes quanto aos ISRS no processo de cura estão longe de serem conclusivas, pelo que por enquanto e efectivamente apenas exercem uma função paleativa.

sábado, 24 de março de 2012

Portugal nú e cru - a espada do desemprego em cima das nossas cabeças

Mais do que parece, Portugal está um caos, principalmente a nível social e psicológico. De dia para dia se agravam as condições económicas das famílias, a violência e a insegurança quanto ao futuro. É quase impossível estabelecer um plano de vida com base em objectivos definidos, pois não sabemos se teremos emprego amanhã, se teremos leis absurdas que nos obriguem a desviar desse plano ou mesmo se o país não entrará em bancarrota. 
Perante esta realidade, só se pode dar ao luxo de ficar alheio quem tem muito dinheiro em bancos estrangeiros ou em offshores. No espaço de menos de uma década, a "classe média" vive nas mesmas condições e com as mesmas dificuldades da "classe baixa", mesmo quando não é atingida pelo desemprego: a precariedade no trabalho e sobretudo a chantagem dos empregadores sobre os empregados (efectivos ou potenciais), obriga-os a aceitar salários miseráveis, horas extra sem conta nem registo, muito menos remuneração, atitudes prepotentes e arrogantes e retaliações sempre que o empregado exigir os seus direitos, ou simplesmente manifestar a sua discordância em não os usufruir. 
Esta realidade escondida, com a espada do desemprego sob a cabeça, faz com que muitas pessoas vivam constantemente ansiosas e, perante a injustiça e falta de condições de vida, entrem em depressão. No entanto, mesmo que necessitem de ajuda, não podem ir ao médico: não têm dinheiro para as consultas ou elevadas taxas moderadoras e não podem faltar ao trabalho. Faltar, mesmo por doença, é encarado como um abuso, como se o empregado adoecesse propositadamente para prejudicar o patrão, mesmo quando não há dúvidas quanto à veracidade dessa doença. 
Assim, as idas ao médico só se efectuam em último remédio. Outro aspecto que tenho que abordar aqui é a prevenção: há situações em que os empregados são impedidos (ou controlados) de ir à casa de banho quando têm vontade de urinar, o que origina problemas no trato urinário; muitas vezes têm que trabalhar à hora de almoço, comendo qualquer coisa rápida enquanto teclam no computador, não comendo assim nem em ambiente saudável e relaxado, nem o tipo de comida que seria desejável. 
Nas empresas com poucos empregados, a situação é muito pior do que nas outras: há um controlo directo e permanente que causa ansiedade e tensão só por si. Para além disso, o simples falar nos factos que mencionei no parágrafo anterior dão direito a não renovação de contratos ou, o que acontece mais frequentemente, retaliações (humilhando-o, baixando-o de categoria, obrigando-o a fazer tarefas que nada têm a ver com a função para a qual foram contratados), com o objectivo de obrigar o empregado a ser ele a rescindir o contrato de trabalho, evitando assim os custos que as empresas teriam no caso inverso.
Todos sabem disto, ou porque o sentem na pele ou porque conhecem alguém a quem já aconteceu algo semelhante. Existem meios de defesa para eles, como recorrerem ao ACT (antiga inspecção do trabalho) ou ao sindicato (muitas empresas não admitem pessoas sindicalizadas!). Contudo, se o empregado já sofre retaliações por muito menos, imagine-se como conseguirá aguentar psicologicamente as consequências de uma inspecção do ACT! 
Em empresas com muitos empregados por vezes passa-se o mesmo, contudo é impossível controlar directamente tantas pessoas ao mesmo tempo e a situação é um pouco atenuada. Já quem tem o estado como empregador, pode exigir os seus direitos sem medo, fazer greves ou tomar outras atitudes sem ser imediatamente atingido.
Este cenário coloca os portugueses debaixo de fogo. Por um lado têm de "aceitar" a injustiça da fonte do seu ganha-pão, por outro têm que lidar com o facto de não estarem presentes para a família e verem-se confrontados por exemplo com a questão de quem vai buscar os filhos à escola ou quem os vai levar ao médico. Para além de tudo isto, a baixa do poder de compra faz com que sejam obrigados a baixar a qualidade de vida, muitas vezes para níveis abaixo da dignidade.
É possível não estar deprimido com tudo isto? É possível não estar angustiado quanto ao futuro? É possível ir trabalhar com motivação? É possível não se estar indignado com a forma como a classe política governou e está a governar este país, conduzindo-nos para um precipício e convidando-nos a emigrar? 
Pessoas não são objectos! Revolta-me a passividade com que os portugueses reagem a tudo isto. 

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Gritos de Silêncio

Por vezes é tão difícil expressar os nossos sentimentos! Principalmente quando somos obrigados a cala-los, quando as emoções se confundem e somos incapazes de as identificar, quando o silêncio e a solidão devoram as nossas vidas. Quando os lábios calam, a alma grita. Um grito ensurdecedor, de raiva, de tristeza, de vazio. A certeza de que ninguém se importa, a certeza de que eu não importo. Um blog que diz tanto do que eu sinto, é lido por anónimos: se algum meu conhecido na vida real ler estas palavras, que diga alguma coisa, que prove que estou errada.


Num país em decadência a nível económico e social, numa incerteza angustiante quanto ao futuro, vivendo com uma camisa de forças chamada estado, tentando contudo manter a cabeça erguida, alugando o meu cérebro dez horas por dia por um preço irrisório, pergunto: qual o objectivo? Para que raio me levanto todas as manhãs para ir trabalhar, para conseguir dinheiro que mal me chega para sobreviver, lutando contra um sistema virado do avesso que insiste em me mandar abaixo? Para que raio cumprir as leis que só visam tapar um buraco que não fui eu que abri, para as quais eu não passo de um mero instrumento? Para que raio tanto sacrifício para chegar ao fim do dia e enfrentar monstros ainda maiores como a solidão e a falta de amor? 


Todo o ser humano é uma península, mas alguns não passam de ilhas desertas.

sábado, 31 de dezembro de 2011

Desisti de jogar na lotaria

Esperar... Acreditar... Sonhar... Já apaguei há tempo estes verbos do meu dicionário. Aprendo depressa com o passado, crio anti-corpos suficientes para manter à distância todas as coisas pelas quais um dia esperei, acreditei, sonhei. A verdade é que criavam uma ilusão de felicidade, funcionavam como uma droga, iludindo a dureza do presente, proporcionando um bem-estar artificial. Não sou a favor das drogas. Então, para quê continuar a teimar no mesmo, dia após dia, frustração atrás de frustração? Dei comigo a chamar-me estúpida por estar a sustentar aquilo que me fazia sofrer.
Não tomei a decisão de o fazer. Aos poucos, as experiências da vida fizeram-no por mim. Não quero voltar a sofrer decepções, aliás, neste momento já estou decepcionada o bastante para notar algum incremento; não quero voltar a cair desamparada por ter sonhado alto, embora alto para mim seja pouco mais que o nível de sobrevivência; não quero viver continuamente na ansiedade de aguardar as mudanças, as pessoas, os momentos, que nunca chegam.
É claro que o que faz avançar a vida, o que lhe dá sentido é mesmo acreditar, esperar, sonhar... mas eu não consigo jogar todas as semanas na lotaria e ao fim de quarenta anos sem ganhar um prémio acreditar que irei algum dia ganhá-la. Por isso parei de jogar. Assim é com a vida: há um dia em que simplesmente deixamos de jogar...

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Raiva

Para a maioria das pessoas o dia tem 24 horas; para mim tem 1440 minutos. Por que raio tenho que me sentir tão mal? Chega uma altura em que o que sinto é raiva. Raiva, porque a fase da auto-piedade já passou. Essa fase é dura, mas tem um certo romantismo. A raiva chega quando ele desaparece, quando se desce à terra, ao presente e nos confrontamos com a nudez e frieza dos factos; antecede uma organização qualquer, é uma fase de transição. Porém, não significa que esta "organização" seja sinónimo de harmonia. Nesta fase a paciência é coisa que não tem lugar, atribuímos as culpas a tudo o que nos rodeia, principalmente àqueles que nada fizeram para evitar que chegássemos a este ponto. 
Estou sozinha, mas disso eu sempre soube. O que dói aqui é assumir essa solidão, perceber que só posso contar comigo e nada mais. Por vezes a esperança não passa de uma tortura e chega de ser masoquista. Acreditar é um verbo que só a esperança sabe conjugar, não a razão. 
Hoje, no final de um dia de trabalho insuportável, onde a profissão "escrava" mais se enquadraria, eu só pedia: por favor, alguém me dê uma boa notícia!... Preciso de algo bom onde adormecer o pensamento e enfim ter um pouco de descanso.Mas não. Só uma fila interminável de trânsito por causa de obras de emergência que não foram feitas na devida altura, contornando caixotes do lixo a transbordar por causa das contenções nas despesas camarárias... a somar a isto tudo, a não resposta de todos os emails de pedido de ajuda que enviei nas duas semanas anteriores e o egoísmo da sociedade em que cada um apenas cuida do seu quintal - ou nem isso. Por todo o lado só vejo muros, erguidos sob pretextos como a falta de tempo ou dinheiro. Existe uma irritante padronização dos valores, uma incontornável regulação das vidas e uma estúpida e incontestada aderência das pessoas; vejo todos acorrentados a leis, a futilidades, à manipulação e poder dos líderes e os pés ao próprio nariz. Possível estar feliz? Só quem diz amém ao sistema, quem desvia as suas atenções para causas onde não seja requisito raciocinar. Os outros, sentem raiva.
Mas a minha é mais íntima, empolgada claro por todo o cenário que me rodeia. Não quero mais ser uma cobaia voluntária e pagante nas mãos de médicos, não posso sequer ser cobaia de mim própria, pois no dia seguinte tenho que conseguir levantar-me e ir trabalhar e fingir que está tudo bem, pois estar bem é uma condição exigida para manter o emprego. Que raio fazer? Continuar a sentir tonturas, náuseas, depressão? Pois, que remédio! As opções que se me oferecem não são muitas...
Só posso encontrar escape na raiva, esta raiva que é uma fase transitória, porém construtora de um caminho que não sei onde irá dar e, muito sinceramente tenho medo de saber.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Ansiedade é uma doença moderna?

Primeiro, não podemos dizer que a ansiedade é uma doença, é antes uma reacção instintiva natural. Contudo, transforma-se em doença se for exagerada quer na adequação à causa quer na sua duração.
O ser humano tem o seu timing para tudo: para dormir, comer, relaxar, fazer exercício, etc.. E é o corpo quem decide! Mas hoje em dia relegamos o corpo para segundo plano, exigimos que seja ele a adaptar-se ao que racionalmente decidimos. As responsabilidades, o emprego, os horários dos transportes e o omnipresente relógio impõem um ritmo artificial à nossa biologia. O que acontece é que o corpo não gosta! Ou melhor, não teve - nem terá, na sua breve existência - tempo para adaptar aos tempos modernos aquilo que a natureza levou milhares de anos a consolidar. Esta imposição é encarada de certa forma como uma ameaça, desencadeando naturalmente ansiedade; porém, o seu prolongamento transforma-a em patologia, a menos que consigamos dar ouvidos ao nosso corpo. 
Por esta razão, e atendendo ao acelerado ritmo dos tempos de agora em oposição aos de antigamente, muitas pessoas consideram a ansiedade uma doença dos tempos modernos. É claro que a ansiedade patológica sempre existiu, mas o número de casos não se compara e parecem continuar a aumentar exponencialmente.
Não somos super-pessoas, somos apenas pessoas. Convém não nos esquecermos disso.



quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Quem nos ouve?

Não é preciso chegar a notícia da jovem que se suicidou após ter enviado 144 pedidos de ajuda numa rede social para nos darmos conta de que vivemos numa bolha, intocáveis, escondidos por detrás das tecnologias, disfarçados com um nickname, num mundo virtual demais para ser compatível com a biologia de que somos feitos. Fomos nós que quisemos. Fomos nós, cada um de nós que pediu, porque é mais fácil, mais rápido, mais cómodo. Principalmente mais cómodo. 
Enquanto vemos os outros como simples nicknames, sem rosto, sem corpo, sem alma, não podemos sentir empatia, a intensidade das emoções é moderada por toda a tecnologia que permeia entre os intervenientes. O mundo virtual afasta-nos da realidade, até porque a maioria das pessoas não se dá a conhecer. Então temos quinhentos amigos no facebook, no twitter, no msn, etc, mas ninguém nos ouve. Porque ninguém nos vê como seres humanos mas sim como avatares. Como se a vida fosse um filme que se desenrola perante a nossa inactividade, os problemas são argumentos do mesmo e a vida, tal como ela é, é mera representação. 
Será que alguém acreditou naquela rapariga? Será que realmente lhe deram importância? Os amigos que ela julgava que tinha, não passavam de números.
Dá vontade de mandar um pontapé a toda esta tecnologia virtual e voltar ao básico, àquilo que é compatível com a nossa humanidade. Somos parte da natureza, tal como as plantas, os animais, as pedras, a espuma do mar... mas insistimos em nos afastar do que é constituído da mesma matéria-prima que nós, quer o façamos fisicamente, quer virtualizando as nossas vidas.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Desmame - 3ª Semana

Esta semana tem sido muito difícil. Estou a deixar vários dias entre cada toma e já me apercebi que são dias a mais. O Elontril parece não estar a contrabalançar a falta do Cymbalta. Tenho tido náusias, mal estar, tonturas e uma sensação constante de fraqueza, como se estivesse prestes a desmaiar de fome. Claro que fome não é de certeza, como como habitualmente. 
O pior tem sido ter que trabalhar neste estado e fingir que está tudo bem. Para os colegas mais perspicazes, "devo ter comido qualquer coisa estragada!". Nestas alturas todas as pessoas me parecem feitas de gelo, não que ache que deviam ter pena de mim, nem pensar, mas porque penso "por que raio se hão-de importar comigo? Sou apenas uma em sete mil milhões!". Quando relativizo assim compreendo que não sou o centro do universo. O meu mundo interior é só meu, está limitado pela pele do meu corpo; então e que tal limitar também o meu comportamento em conformidade?
Vivemos numa sociedade de aparências, onde se valoriza a saúde física, mental e emocional. São estas as características-modelo que ambicionamos possuir, logo, quando não estamos bem fazemos os possíveis para não o deixar transparecer. Aprendemos a representar e com o tempo tornamos-nos excelentes actores.
Tenho consciência de que sou uma péssima actriz, talvez porque durante demasiado tempo julguei que o correcto seria demonstrarmos abertamente o que sentíamos. Percebi mais tarde que quanto mais o fazia mais cultivava a auto-piedade e mais me expunha perante terceiros que, verdade seja dita, se estavam a lixar para as "pieguices" dos colegas de trabalho.
Assim, em dias como estes últimos, levanto a cabeça, caminho em frente, forço um sorriso que os músculos dos olhos não conseguem acompanhar e finjo que está tudo bem, até para mim mesma.
Mas não está. A cada passo que dou parece que vou cair, mexer os olhos provoca-me náuseas e falar e sorrir parece tirado a ferros. Malditos medicamentos, que até para me livrar deles tenho que sofrer...

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Ser Humano

A humanidade, milhões de universos individuais a partilhar um universo em conjunto; somos almas, espíritos, ou apenas carne, depende das religiões, das experiências, das crenças... A verdade é que o ser humano é o mais desconcertante de todos os seres que a natureza criou.
Os meios de comunicação mostraram hoje uma criança chinesa a ser atropelada perante a indiferença e inércia dos observavam. Não foi apenas um, foram vários. O individualismo puro e simples, a mais egoísta essência; noutro canal, via-se Kadaffi a ser agredido e notícias da sua execução sumária sem prévio julgamento; noutro ainda, sobreviventes da guerra colonial a relatar os seus tempos de cativeiro enquanto prisioneiros de guerra. 
Que raio de ser humano é este que não tem compaixão pelo próximo, que não sente um mínimo de empatia pelo seu semelhante, que não consegue - ou não quer - domar o animal cheio de raiva que em si existe? 
Já não sei no que acreditar. Eu própria, não sei se a minha natureza não violenta terá sido aprendida ou se será inata. Afinal qual a verdadeira essência do ser humano?
Enquanto fazia zapping, vi um documentário sobre a  vida da Madre Teresa de Calcutá e uma entrevista a voluntários em Africa que ajudavam a combater a SIDA, ao mesmo tempo que alguém me relatava o extraordinário feito de um bombeiro que perdeu a vida ao tentar salvar um desconhecido de um fogo.

Bem, agora é que estou mesmo confusa. Quem é este ser que se sacrifica pelos outros, que perdoa e abraça, que ama incondicionalmente outro ser humano? Haverá várias categorias de humanidade?
No dia seguinte, assente nesta última hipótese, não conseguindo enquadrar-me a cem por cento em nenhuma categoria, mas apostando que pelo menos noventa por cento caberiam na dos "bondosos" (é assim que se calhar todos pensamos!...) me preparei para ir para o trabalho. A meio do caminho encontro um ex-presidiário, condenado por assassinar a mulher, depois de alguns anos a infligir-lhe maus tratos. Ao que parece não tinha mudado muito pois comentava-se que espancava a actual esposa.
No largo em frente havia largada de touros, onde alguns aventureiros os desafiavam perante os olhares divertidos dos que junto às grades observavam. Do meio de uma grupo que se apertava para conseguir ver melhor, uma mulher é empurrada para a frente e exposta ao touro, sem hipótese de fuga. Todos focaram os olhos nela, adivinhando-lhe um destino cruel. Mas nisto, enquanto o touro se aproximava, um homem saltou para a frente dela, sendo violentamente atacado pelo animal, salvando desta forma a senhora.
O curioso desta história é que este homem era o tal ex-presidiário que espancava a mulher. 
Que raio é o ser humano, tão complexo, tão perfeito, tão animal, tão mau, tão bom, tão indiferente? Não nos tentemos escapar, pois estamos todos entre estes extremos. Somos todos da mesma raça.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Desmame - 2ª Semana

Esta semana tem sido estranha. Agora estou a fazer Cymbalta dia sim dois dias não. Não quero ser "rápida" demais, para não demorar ainda mais tempo.
A ansiedade subiu, bem como a taquicardia. A ansiedade anda de mãos dadas com um medo difuso, inexprimível... O véu que me mantinha numa zona de segurança em relação à realidade está a desaparecer. É tão mais evidente a falibilidade do corpo, a inevitabilidade do seu perecimento e a sua exposição ao sofrimento... 
Agora estou cada vez mais acordada. Acordar é doloroso, principalmente para quem não age, apenas deseja. Dentro do meu cérebro a confusão instala-se aos poucos. Não me consigo apoiar nem nas religião, nem na filosofia, nem na psicologia. Preciso de  uma tese minha que satisfaça os meus critérios de solidez. Começo a acreditar que o ser humano não é um ser nobre por natureza, antes de uma bondade volátil e uma tendência nativa para destruir e complicar, em nome do progresso e da sabedoria, da fé ou simplesmente da vontade. Qual é a natureza do ser humano? Qual é ao certo a minha própria natureza? Nós não temos um anjinho e um diabinho sentados em cada ombro, nós somos esse anjinho e esse diabinho: somos o melhor e simultâneamente o pior que a natureza concebeu.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Desmame - 1ª Semana

Após dois anos a tomar Cymbalta e depois de tanto chatear a minha terapeuta por causa do sono durante o dia, ela resolveu alterar a medicação, substituindo aquele medicamento pelo Elontril.
Devido aos efeitos severos da interrupção abrupta do Cymbalta - quem já tomou sabe que basta nos esquecermos um dia para começarmos a ter tonturas, enjoos, etc - , terei que fazer um desmame suave enquanto inicio o Elontril.
Uma vez deixei de tomar os comprimidos, porque simplesmente andava farta. Comecei a sentir-me muito mal, todos  os dias e durante mais de um mês. Fiquei próximo do abismo e então resolvi retomar. Melhorei logo. Desta vez, tenho medo que aconteça algo semelhante, pelo que estou receosa quanto ao desmame. Decidi então postar aqui como me vou sentindo e quais os efeitos que a sua falta me causa.
Desde o início da semana que estou a fazer um dia sim dia não. Tentei fazer uma tabela com várias variantes tais como pulsação, nível de ansiedade, frequência dos enjoos e tonturas, mas desisti ao fim de dois dias, pois ou esqueço-me ou não tenho tempo ou não tenho paciência.
O Cymbalta funciona como uma espécie de "aconchego" para o cérebro. Dá-nos uma sensação de segurança e auto-confiança, ao mesmo tempo que que nos sentimos "protegidos" por uma espécie de véu que nos separa das coisas menos agradáveis; notei um afastamento emocional em relação a tudo, não quero dizer com isto que ficasse fria, sem emoções, mas sim que as conseguia controlar, ser mais objectiva e racional. Com o tumulto emocional apaziguado tudo se tornava mais fácil, passei a viver mais no aqui e agora e a não temer o futuro; tornei-me muito mais espontânea e elástica em relação à forma como lidava com as outras pessoas em diferentes situações.
Porém, estou farta de medicamentos. Estou farta dos seus efeitos secundários - não conheço nenhum que não os tenha - e de me sentir dependente. Não sou diferente dos drogados que necessitam de uma dose de droga para se sentirem melhor, embora o seu desejo seja poderem sentir-se bem sem ela. A diferença é que esta é um droga legal e prescrita por especialistas, aceite pela sociedade (não a cem por cento, como já escrevi noutro post, mas isso é outra história...). Por tudo isto, eis-me aqui a tentar deixar a minha droga actual para entrar noutra cujo comportamento ainda não conheço. Ouvi dizer que é mais fraca, e isso já me deixa satisfeita.
Ao fim da primeira semana, depois de passar os últimos dias com náuseas, sono e fome como se não comesse nem dormisse à três meses. A realidade parece mais crua e fria, o que assusta. A luz do meu quarto, que é a mesma de sempre, parece devolver em 4D o interior da divisão, obrigando-me a tomar atenção a detalhes antes ignorados ou sem relevância; os sons estão mais estridentes, o ruído incomoda mais.
Vou dando notícias, o que significa ao mesmo tempo consciencializar-me do que se está a passar, verbalizar algo ajuda a lembrar e convém não esquecer estas experiências. Ajuda a conhecermo-nos a nós mesmos...

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Medo e ansiedade - principais diferenças

Se bem que correlacionados, e produzindo basicamente os mesmos sintomas perante um perigo real ou potencial, a ansiedade e o medo não são bem a mesma coisa. A principal diferença está na caracterização do perigo. Enquanto no medo ele é bem definido, já o não é no caso da ansiedade. A ameaça é algo difuso, sem contornos definidos, é mais "um sentimento de ameaça"; o medo por sua vez é uma emoção básica, uma resposta. Para se estar perante a ansiedade é necessário estar presente a imaginação. Sem ela este sentimento não existiria, pelo menos nunca atingiria os graus que se verificam no ser humano. 
É importante conhecer a distinção para melhor diagnosticar e tratar. Pensamento positivo, aumentar auto-confiança, poderão ajudar a diminuir a ansiedade; aprender a lutar contra o perigo que se anuncia pode ajudar a lidar com o medo. Diferentes abordagens, diferentes estratégias de acção.

domingo, 10 de julho de 2011

Ansiedade extrema - vivendo o futuro

A crise de ansiedade é uma experiência de terror extremo. O seu desencadeamento está ligado ao medo, desenvolvendo-se até ao seu máximo numa questão de pouquíssimos minutos, mas também se pode manifestar de forma espontânea (ataques de pânico). Os sintomas principais foram já referidos no post anterior.
Um aspecto extremamente importante a saber sobre o medo é que ele se refere sempre ao futuro. Não há medo no presente, ele é sempre antecipatório de algo ruim que poderá acontecer. Trata-se de representações mentais de potenciais acontecimentos aos quais se associam de imediato emoções intensas, muitas vezes até desajustadas. Estes pensamentos desencadeiam reacções físicas proporcionais, como se estivesse a acontecer naquele momento.
O pânico é o nível mais alto da ansiedade. Um artigo da Universidade de Londres publicado na revista "Science" revela que "durante um episódio de extrema ansiedade e pânico, a actividade do cérebro move.se do córtex pré-frontal para o periaquedutal, ou seja, da parte da frente para a parte do cérebro intermediário. Há um fluxo maior de sangue no sector do cérebro que está mais activo. A parte da frente do cérebro abriga a sua capacidade de raciocínio e tomada de decisão. Já o cérebro intermediário é onde se localizam os mecanismos de sobrevivência, como a luta ou fuga" (in http://www.sempanico.com/).
No auge da ansiedade ficam  bloqueadas as funções ligadas ao raciocínio, o que limita ainda mais a compreensão do que está acontecendo. Há uma desadequação de emoções em relação ao perigo real ou potencial, pois que este ainda não se verificou, trata-se de uma antecipação mental de um (possível) momento futuro. Parece contudo indissociável do ser humano o viver em função do futuro ou do passado e não do presente (atenção que daqui a um segundo é futuro, embora muito próximo, nunca é presente). A imaginação é o segundo factor que permite gerar ansiedade: ela não se verificaria se não "visualizassemos" em nossa mente o que achamos que seguramente irá acontecer, acrescentando-lhe a carga emocional correspondente.

Imaginar é sentir, antecipar é sofrer antes do tempo. Viver o presente com as emoções adequadas aos acontecimentos presentes pode ser um remédio para nos livrarmos dos ataques de pânico e ansiedade extrema.




segunda-feira, 4 de julho de 2011

Medo extremo - Breve estudo do pânico

SINTOMAS DE UM ATAQUE DE PÂNICO
- Vertigens ou sensação de desmaio
- Tonturas, náuseas ou desconforto abdominal
- Calafrios ou ondas de calor
- Medo de morrer
- Medo de perder o controlo e enlouquecer
- Palpitações ou ritmo cardíaco acelerado
- Dor ou desconforto no peito
- Sensações de falta de ar ou afrontamentos
- Boca seca e sede
- Sentimento de confusão associado a pensamentos rápidos
- Contracções, tensões e espasmos musculares
- Dor de cabeça
- Sensação de irrealidade ou ideia de estar distante de si mesmo
- Terror, traduzido na sensação de que algo horrível está prestes a acontecer
(Retirado do site http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/nacional/actualidade/medo-levado-ao-extremo)

Na verdade, em qualquer definição de pânico, os sintomas associados são mais ou menos os mesmos. Porém, lê-los ou até associa-los a algo que já sentimos está longe de perceber o que realmente se está a passar.

Sabemos (ou imaginamos) que a morte é uma sequência de disfuncionamentos físicos do corpo, culminando com a impossibilidade do espírito, qualquer que seja o seu entendimento, viver dentro dele. Um período de terror atroz separa o corpo do espírito para sempre e o impele para o desconhecido, numa forma de matéria desconhecida.

Por vezes o medo de algo é tão grande, que leva ao pânico. O corpo e a mente descontrolam-se, a aflição toma o lugar da reacção própria do medo normal. O espírito, preso a um corpo físico e falível, susceptível a todas as dores, em vez de parar, alimenta o medo. O terror é permanente.

Num ataque de pânico experimentam-se alguns destes sentimentos, apesar de não haver perigo que justifique tal. Entra-se numa espiral de medo, pois imediatamente estes sintomas são associados à morte. O pânico gera um sofrimento esmagador, é bem real para quem o vive.

Numa  ataque de pânico, a confusão é tal que as ideias negativas se colam como um iman  ao próprio processo de medo. A incapacidade de racionalizar, de relativizar acontece porque algo debilitou o sistema "avaliador" da dimensão e eminência do perigo tornando-o demasiado "embriagado" para vir em nosso auxílio.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

País deprimido

O cidadão comum está apreensivo. Não sabe o que o espera, apenas sabe que terá que sofrer um bom bocado em nome das promessas dos governantes de que as medidas de austeridade vão inverter o sentido da crise. Mas, farto de apertar o cinto, de acreditar em mentiras e de assistir a cada dia que passa à degradação da economia e da sociedade, ele passou a desconfiar de tudo e de todos. Principalmente do futuro.

No imediato aumenta o desemprego, diminui o poder de compra, diminui a qualidade no ensino, na saúde, na justiça; não admira que a depressão bata à porta e atire para os consultórios de psiquiatras e psicólogos novos clientes mas mais pobres. Não há dinheiro nem para as consultas! A primeira, ainda vá que não vá, mas as seguintes.... E os medicamentos? A escolha entre pôr comida na boca dos filhos ou pagar a prestação da casa leva a que a uma dada altura eles fiquem na farmácia, depois de irem ao balcão, as caixas serem inspeccionadas e serem rejeitados com qualquer desculpa esfarrapada.
E assim o cidadão comum começa a andar irritado, aborrecido, melancólico. Por vezes enverga por caminhos um tanto ou quanto obscuros na tentativa de fazer atalhos para o seu objectivo final, outras procura esvaziar a cabeça virando a atenção para a folia e o futebol, outras ainda fica em casa indeciso entre o atirar-se da janela ou o emigrar para outra nação.
Pergunto se este cidadão é capaz de aumentar a sua produção, de forma a superar o défice. Espera-se dele o levantar Portugal do chão. Mas, como pode alguém levantar alguma coisa, se está a ser constantemente obrigado a se baixar?
Um país deprimido não vai a lado nenhum. A continuar assim, é melhor o estado tomar como prioridade a encomenda de altas quantidades de Prozac, não vá toda a gente começar andar de cabeça tão baixa que nem se aperceba que mudamos de governo...

domingo, 5 de junho de 2011

Despertar para a realidade

"Não me lembro quem foi
mas me convenceu
O mundo afinal é de todos,
não é só meu.
Foi um grito da alma,
foi um peso no olhar
Foi orgulho ferido
duro soluçar.
Deitei no chão frio
pra esfriar o coração,
mudei de nome e de morada
estava sem solução.
Me olhei no espelho e vi pedaços
feito vidro que eu quebrei
mas eram correntes, eram barreiras
que à minha volta eu criei
Foi duro, foi desespero,
acordar, ver meu espaço
ver que o mundo é de todos
e só nos cabe um pedaço
e agora não reclamo,
por fazer parte de um todo.
Pois por viver na realidade
sou feliz de qualquer modo..."
Anónimo

Lágrimas secas

Ver fonte da imagem   So me apetece chorar, mas as lágrimas não caem.... É um alívio quando elas escorrem pelo rosto, pois é uma forma de ex...

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