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terça-feira, 31 de março de 2020

Pandemia: o encontro com nós próprios

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Como é que um bichinho tão minúsculo que é invisível consegue dar a volta ao mundo? Nada jamais será como era. Escondido atrás das mudanças visíveis ou previsíveis, está algo completamente desconhecido e imprevisível, com um potencial de transformação muito superior ao do vírus: o encontro com nós próprios, isto é, com o nosso melhor amigo e o nosso pior inimigo.
Parece estranho o que acabei de escrever, mas vejamos: neste momento centenas de milhões de pessoas em todo o mundo estão confinadas às suas casas, sozinhas ou com um número reduzido de pessoas. A convivência permanenente com aqueles que só se viam de manhã e à noite ou em fins de semana e ferias controladas pela hora de voltar ao trabalho ou à escola e partilhadas com todo o tipo de distrações convidadas, só pode ter consequências. E não é por acaso que se convidam tantas distrações: fazemos-lo como forma de evitar o confronto com o outro e connosco. Temos medo de ficar sozinhos, temos medo de nos ouvir, de nos sentir, de nos conhecermos e de conhecer o outro ou deixar que ele nos conheça. Porquê? Porque não saberíamos lidar com isso.
A intimidade assusta. Não a intimidade no sentido romântico do termo, mas a intimidade da aproximação a nível sentimental, emocional. Andamos constantemente a fugir disso, encontramos todos os subrefúgios para nos escondermos. E agora ficamos expostos. Expostos, dentro da nossa própria casa. De repente os espelhos falam connosco, de repente descobrimos que não sabemos quem é o outro que tão bem conhecíamos. De repente a estrutura de uma vida construída em função desta fuga de nós próprios, desmorona-se, não temos mais onde nos esconder. Lá fora, está o virus, dentro o desconhecido.
Nada poderá continuar como dantes. Experienciar esta vivência tem que ter consequências. A ver vamos.

 Este estado que vivemos em quase todo o mundo é um ponto de viragem para algo desconhecido. Mas não é só o vírus, que embora tenha criado uma situação inédita nos tempos modernos

terça-feira, 1 de outubro de 2019

Somos bons e maus ao mesmo tempo

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Eu acho que não há pessoas boas nem pessoas más. Todos somos bons e maus ao mesmo tempo. Não tem a ver com as imperfeições em si, mas com as imperfeições que os outros percepcionam, ou com a nossa reacção à nossa percepção das imperfeições dos outros. Por isso eu já estou preparada para um dia todas as pessoas que eu conheço me magoarem, se afastarem, eu ter que me afastar. É como se fizesse parte da vida e eu já aceitei isso.

Quando conheço alguém, penso “esta pessoa vai embora algum dia, um dia vai ser má ou vai achar que eu fui má”. Isso não me afasta dela, convivo com ela como se achasse que ela irá ficar minha amiga para sempre. Se tiver que fazer bem, faço, muitas vezes aceito sacrificar-me para o bem dessa pessoa, mas de cada vez que o faço sei dentro de mim que essa pessoa um dia vai esquecer tudo isso e agir da mesma forma como se eu não tivesse feito nada. É a minha natureza ajudar, não posso fugir disso. O que eu fizer, mal ou bem, fica na minha conta, o que os outros fizerem fica na conta deles. Eu tenho que ser fiel a mim mesma, fiel à minha natureza e aos meus princípios, não os fazer depender dos outros.

Admito que eu sou exactamente igual a todo o mundo: tudo em mim só faz sentido para mim mesma. Tudo o que, de mim, os outros se apercebem é parcial. Falta-lhes estar “do lado de cá”, caso contrário só verão um cenário incompleto.

domingo, 18 de agosto de 2019

Cicatrizes do passado

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Muitas pessoas me apontam os meus defeitos, os meus erros, os meus falhanços. Baseiam-se em comparações com pessoas da minha idade e com a mesma formação académica. A maioria das pessoas compara, julga e tira conclusões sem saber o presente das pessoas, muito menos o passado.
O meu passado deixou cicatrizes. A parte visível, não é entendida, nem será entendida nunca, pois eu não faço questão de andar por aí a contar a minha história. As minhas cicatrizes fazem-me falhar constantemente em diversas áreas da minha vida. Limitam-me em muitos aspectos, com os quais tenho que lidar diariamente.
Mas pensam que me sinto incapaz, falhada? NÃO!! Nem um pouco! Porque eu sei que, para o que eu passei, sou uma heroína! Sobrevivi, física e mentalmente, quando eu sei que raras pessoas o teriam conseguido!
Julguem-me como quiserem. Não me importa minimamente. Importa apenas a ,minha versão. Afinal, só eu e Deus sabemos a história toda!

quarta-feira, 14 de novembro de 2018

O peso da esperança

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A esperança pesa. Custa a carregar. Porque se é esperança não é realidade ainda, é apenas a fé na realização de um desejo. Isso quer dizer que o presente não é perfeito, que a situação que se quer que mude está a causar algum tipo de sofrimento. E enquanto a esperança nessa mudança persistir, nada será alterado, caso contrário não seria esperança mas sim realidade.
É confuso, não é? Eu explico com uma situação concreta.
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Uma mulher vive momentos difíceis no seu casamento. O seu marido está constantemente a magoá-la. Ela vê o futuro muito incerto na relação. Como está, dói. Mas ela espera que a situação mude. Não conscientemente, porque o cérebro já percebeu que isso não vai acontecer. O cérebro sim, mas o coração não. Esse não consegue parar de acreditar que um dia tudo será como o seu desejo. Então tenta. TENTA. Esta é a palavra que pesa. Pesa porque implica sacrifício. Pesa porque é em vão. Pesa porque é trabalho a dobrar, dá muito trabalho o coração fazer o cérebro acreditar que a fé que tem, tem algum fundamento. Trava uma batalha contínua para que isso aconteça, consome toda a energia. Não resta mais para aquilo que é mais importante: ser feliz. Adia-se a felicidade por acreditar que a mesma só será possível quando tudo estiver bem na relação.
No dia que o coração, exausto, desistir da luta, será possível então canalizar a energia gasta para viver de verdade. Ninguém vive de verdade carregando o peso de uma relação, sabendo que a mesma só existe porque um deles está a tentar. Então e o outro? É como carregar um pedregulho. Conseguiria correr com um pedregulho atado ao tornozelo? Nem andar, não é mesmo?
Esperança é fé. Fé que não tem fundamento é ilusão. Ilusão é o engano dos sentidos e da mente.
Vale a pena pensar nisto.

sexta-feira, 27 de julho de 2018

Efeitos das benzodiazepinas a longo prazo

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Um dos medicamentos mais  úteis para quem sofre com transtornos mentais é sem dúvida as benzodiazepinas (BZD). 

Cientificamente falando, estes pertencem à  classe de fármacos psicotrópicos e à classe farmacêutica dos ansiolíticos. A sua estrutura química é a fusão de um anel de benzeno com um anel de diazepina. Estão aqui incluídos medicamentos como Valium, Lorazepan, Lexotan, etc. Os seus efeitos a curto prazo no controlo da ansiedade são bem conhecidos de todos. Contudo os efeitos a longo prazo, são controversos. 

Um dos riscos do uso prolongado é a dependência física e psicológica,associado à diminuição gradual da sua eficácia. Mas há outros. Por exemplo, os BZD reduzem significativamente a nossa capacidade de memorizar novas informações, daí que o seu uso prolongado interfere nos nossos processos cognitivos, dificultando a concentração, a capacidade de resolver problemas, relacionar ideias e deduzir informação (fonte). Muitas vezes o uso prolongado faz aparecer sintomas opostos ao desejado (efeitos paradoxais), como aumento da ansiedade, depressão, irritabilidade, despersonalização, psicoses, pesadelos entre outros. Ou seja, aquilo que é suposto combater, e que resulta bem a curto prazo.

Ultimamente têm sido feitos muitos estudos que revelam algo ainda mais assustador: A longo prazo, pessoas de idade mais avançada, podem desenvolver precocemente algumas formas de demência. Foi publicada em  2014 no British Medical Journal" uma pesquisa que relaciona o uso frequente e prolongado destas substâncias em idosos com um risco até 51% maior de desenvolver a doença de Alzheimer, uma das principais formas de demência e que afecta cerca de 36 milhões de pessoas. Apesar de não estar comprovado que existe causa directa, o estudo vem reforçar a suspeita que existia anteriormente da associação entre o remédio e a doença.

Apesar das suspeitas que existem à muito tempo, a verdade é que os terapeutas receitam benzodiazepinas por tudo e por nada. E o pior, é que isto é assim desde à décadas, estando agora os efeitos a fazer-se sentir em alguns indivíduos, sem forma de voltar atrás. Na esmagadora maioria das vezes, o paciente não é informado das consequências dos medicamentos que toma, muitas vezes até desconhece o quê exactamente é que está a tomar. Quem é que ouviu dizer do seu médico "não tome BDZ por muito tempo porque isso tem implicações a longo prazo na memória"?
Muito cuidado com estas "drogas legais", e converse com o seu médico sobre isto, quando tomar um medicamento, tome-o esclarecido!




domingo, 11 de fevereiro de 2018

Quando os antidepressivos causam depressão

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Se é verdade que quando temos uma depressão devemos tomar medicamentos, quer sejam antidepressivos ou ansiolíticos ou outros indicados para controlar os sintomas, a verdade é que por vezes os efeitos secundários podem levar a quadros depressivos, principalmente se estivermos a falar de períodos de tempo muito extensos.

Uma infância conturbada e uma adolescência complicada levaram-me a começar a tomar antidepressivos antes da maioridade.  Iniciei com Anafranil (antidepressivo tricíclico) e doses muito elevadas de ansiolíticos e tive acompanhamento psicológico concomitantemente. Consequências?  Letargia, sono excessivo, embotamento afectivo, taquicardia, entre outros. Normal, para medicamentos do género. Se me sentia triste, sem vontade de viver, a ver um futuro negro, sentir-me assim, como se andasse meio bêbada e a adormecer na escola, fez com que eu me afastasse de toda a gente, me isolasse cada vez mais, o que tornou a minha vida social num verdadeiro desastre. Então eu estava triste por isso. Então eu via o futuro negro pois não conseguia mudar a situação por mais que me esforçasse. Vivia a vida em tons de cinzento e completamente alienada da realidade.

O pior disto é que, dado que não houve nenhum período em que me sentisse bem, não consegui estabelecer a relação entre o que sentia e os medicamentos. Eu detestava-me. Comecei a mentalizar-me de que tudo era fruto da minha personalidade.  E os terapeutas também começaram a pensar o mesmo.  Na verdade eles nunca me tinham conhecido de forma diferente, e dado que minha depressão vinha desde a pré-adolescência, também de mim não ouviam relatos que sugerissem que alguma vez tivesse sido uma pessoa diferente. O que faziam então era "passar a mão no pelo", enquanto eu me afundava cada vez mais.

Como eu me sentia sempre na mesma, ao longo da vida foram-me receitando todo o tipo de medicamentos para a depressão e ansiedade que existem, na expectativa de acertar com o correcto para mim. Consequências?  Mais do mesmo. Eu continuava na mesma, triste, frustrada, confusa, abatida. Os efeitos secundários dos medicamentos estavam a dar cabo da minha vida.
Mais tarde comecei a tomar ISRS (inibidores selectivos de recaptação da seretonina). Passei a sentir-me um pouco melhor, contudo com o tempo comecei a notar que essas melhoras eram cíclicas. Andava um tempo melhor, construía alguma coisa, mas passado algum tempo estava na fossa outra vez e acabava por destruir tudo aquilo que tinha construído. Então perdi simplesmente a vontade de construir, a vontade de lutar. Se não tomasse os medicamentos sentia-me mal, se tomasse sentia-sentia-me mal.  Então vivia isolada, com o sentimento de que nada valia  pena. Não valia a pena lutar, eu não valia nada. Nunca consegui nada a vida toda, porque havia de esperar conseguir agora? Agora, que já tinha vivido mais de metade do tempo de esperança médio de vida para um ser humano?!...

O que me salvou foi pensar que nenhum médico nem nenhum medicamento me iria nunca tirar daquela situação, apenas eu mesma o poderia fazer. Tinha que ser a terapeuta de mim própria, pois tudo o resto tinha dado provas de ineficácia.  Valeu.-me a minha curiosidade, que me levou a ler bastante. Livros de auto-ajuda e sobre inteligência emocional ajudaram-me a perceber que o problema não estava nos diagnósticos ou na medicação. Parti do principio que, ainda que o problema fosse a minha personalidade eu poderia aprender a mudar algumas coisas. Mas o que eu aprendi foi que eu não sabia quem eu era! Tudo aquilo que eu pensava que era era fruto das circunstâncias ou dos efeitos secundários dos medicamentos, e isso estava a esconder o verdadeiro eu. E mais: descobri que a fonte de todos os meus problemas estava na forma de pensar. Toda a vida eu tinha pensado de forma errada e o meu historial clínico tinha-a consolidado.

Descobri o meu "eu" verdadeiro, mudei radicalmente a minha forma de pensar e de ver o mundo e comecei a sentir-me como nunca antes! Passei a ver o mundo a cores, finalmente.
Não deixei de tomar medicamentos pois sei que eles me fazem falta, mas só desta forma eles passaram a ser realmente eficazes.

terça-feira, 7 de novembro de 2017

Causas do sofrimento: masoquismo, integridade e zona de conforto

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Muitas vezes perguntamos porque estamos sempre a cair em situações que nos fazem sofrer.

Existem três expressões para explicar a causa de grande parte do sofrimento humano: masoquismo, integridade e zona de conforto. 

O sofrimento em si pode ser gerado por factores externos, inevitáveis, como guerras, catástrofes ambientais ou doenças. Porém, parte do sofrimento humano é "causado" pelo próprio "sofredor".O masoquismo significa prazer em sofrer. Existe uma extensa literatura no campo da psicologia e outras ciências que versa sobre este tema, contudo, porque contraria o princípio instintivo de todo o ser vivo de evitar o sofrimento, quem o procura tem que ter algum tipo de disfuncionalidade.

Apesar de chocar muitas pessoas, temos que nos comparar aos restantes animais, principalmente mamíferos. Nós somos biologicamente animais, e se há algo de inato em nós é o instinto de sobrevivência e o instinto de procura do prazer. O primeiro leva-nos a afastarmos-nos de tudo o que nos cause dor e desconforto, o segundo a aproximarmos-nos das coisas que nos causam boas sensações Ainda que por vezes se tenha que sofrer para alcançar o prazer (felicidade), este fim último, como finalidade da vida acaba por funcionar como uma recompensa. Aproximarmos-nos de algo que nos cause sofrimento em busca de algo que termine ou atenue um sofrimento maior ou reverta o actual para um estado de felicidade. Isto não se enquadra no masoquismo, pois o fim último do masoquista, o seu prazer, é o próprio sofrimento.

Se como animais é normal agirmos como acima referido, contudo somos animais de hábitos. E de teimosias! Isto para explicar que muitas vezes, seja qual for o motivo, somos expostos ao sofrimento. Porém, ou a repetição do mesmo em curtos períodos de tempo, ou a persistência do mesmo, leva a que nos habituamos. O estado "sofredor" passa a ser o nosso estado "normal".

Com base no instinto de sobrevivência, e partindo do princípio que não somos masoquistas, seria normal fugirmos daquilo que nos causa tal estado. Mas o que observamos muitas vezes é que muitas pessoas não o fazem, ou se o fazem acabam por encontrar rapidamente algo que as coloque nesse estado outra vez. Isto porque são íntegras! Elas "mantêm a palavra", ou seja, se disseram a elas mesmas "Eu sou um sofredor", não vão mudar a palavra dada! Pode parecer absurdo, mas a verdade é que isso acontece de uma forma insconsciente. Se passarmos a ser felizes, sentiremos que estamos a faltar à nossa palavra, a trairmos-nos a nós próprios, a "virar outra pessoa", o que não nos agrada. Isto passa-se sem que tenhamos consciência disso, sem entrarmos em quadros patológicos.

A permanência ou repetição de situações que nos causam sofrimento funcionam como se fossem a nossa família. Aquele é o estado que conhecemos. Estar em sofrimento torna-se tão familiar, que se há uma coisa que o instinto de sobrevivência nos ensinou foi a fugir do desconhecido. Por isso, tempos sempre a tendência a voltar para aquilo que conhecemos, a "voltar para casa", por muito aventureiros que sejamos. Isto porque aquele sentimento, agradável ou não, passa a ser familiar. No futuro, iremos escolher, inconscientemente claro, estar em situações que despertem em nós o sentimento que nos é familiar, bom ou mau,não importa.

Desta forma podemos dizer que muito do sofrimento do ser humano é causado pelo próprio, quer porque lhe dê prazer, porque é íntegro, ou porque é sempre difícil sair da "zona de conforto".

Lágrimas secas

Ver fonte da imagem   So me apetece chorar, mas as lágrimas não caem.... É um alívio quando elas escorrem pelo rosto, pois é uma forma de ex...

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